As imagens do cerco de Alepo foram terríveis, todo mundo ficou chocado com as destruições causadas pelos bombardeios da cidade.
Mas, e quanto à queda de Mosul?
A opinião pública recebeu escassas informações.
No entanto, eram duas cidades de porte semelhante, que sofreram ataques igualmente devastadores.
A diferença fica por conta da parcialidade da grande mídia internacional.
Era necessário mostrar o drama da cidade síria de Alepo para destacar a brutalidade dos bombardeiros russos e dos sírios pró- Assad.
Convinha haver pouco ruído sobre a tomada de Mosul, para esconder o que as forças dos EUA e aliados (Reino Unido, Austrália, França e Bélgica) fizeram nessa grande cidade iraquiana.
Dois pesos e duas medidas, portanto.
O jornal americano Daily Beast quis revelar o que faltava: a dimensão das perdas sofridas pelos civis sírios e iraquianos por obra de Tio Sam e seguidores.
Contratou então o Airwars para fazer a devida investigação.
Os resultados saíram no Daily Beast, de 17 de julho:
A coalisão liderada pelos EUA matou 4.544 civis no Iraque e na Síria. Depois da posse de Trump, as perdas cresceram 360% por mês em relação às do tempo de Obama.
Obama foi muito menos letal porque sempre se preocupou em proteger os civis ao máximo.
Enquanto que o grande número de civis mortos nos últimos seis meses deve-se, principalmente, ao desinteresse de Trump pela sorte deles nos campos de batalha.
Logo após tomar posse, The Donald solicitou ao Pentágono novos planos para a luta contra o ISIS, recomendando “mudanças nas regras de engajamento dos EUA e em outras restrições políticas que excedam a leis internacionais e uso de força contra o ISIS.”
Ou seja, sinal verde às forças militares, limitando tudo que possa prejudicar sua eficiência, inclusive precauções para proteger os civis.
Algum tempo depois, em reunião com representantes da coalisão, o secretário de Defesa, general James Mattis garantiu que os novos planos não mudariam nada em relação ao que os códigos militares americanos preceituavam.
A conclusão a que chegaríamos seria que o elevado número de perdas humanas na queda de Mosul seria consequência da violência do ataque final a esta cidade, agravada pela sua alta densidade populacional.
Os fatos negam o general.
As mortes de civis começaram a aumentar somente um mês depois da apresentação do plano de Mattis. E no assalto a Racqa, capital do ISIS na Síria, morreram cinco vezes mais civis do que antes da fala do secretário da Defesa. No mês de março, ainda na mesma época, a coalisão liderada pelos EUA matou mais pessoas alheias à guerra do que nos primeiros 12 meses de bombardeios. Foi um aumento superior a 400%.
Ned Price, membro do Conselho de Segurança Nacional do governo Obama comentou: ”Há tremenda desconexão entre o que ouvimos de oficiais militares sênior, que garantem que nada mudou nas regras de engajamento e o que vemos claramente no campo de batalha. ”
O comportamento do general Townsend, que já negou autoridade á Anistia Internacional de criticar o exército dos EUA, confirmou que os americanos já não se preocupam tanto em proteger vidas civis com o outrora.
O belicoso comandante da Coalisão anti-ISIS revelou a repórter do New York Times como, durante o cerco a Racqa, suas forças agiam diante de qualquer coisa que se movia no Rio Eufrates: ”Nós atirávamos em cada bote que aparecia. ”
Talvez fossem milicianos do ISIS mas está documentado pela Airwars que numerosos civis foram mortos quando tentavam fugir da cidade por barco.
A Anistia Internacional pôs em dúvida a legalidade do bombardeio de Mosul: “Evidências reunidas em Mosul Leste indicam um alarmante padrão dos bombardeios da coalisão liderada pelos EUA que destruiram habitações com famílias inteiras no seu interior.”
E a Anistia concluiu: ”Altos índices de perdas civis sugerem que a coalisão, no ofensiva contra Mosul, falhou ao não tomar adequadas precauções para evitar mortes de civis, numa flagrante violação da lei humanitária internacional. ”
Não pense que a aviação russa se comportou de uma forma diferente.
É verdade que a Airwars constatou que em 2017, mais vítimas civis podem ser atribuídas à coalisão americana do que aos russos. E, segundo o Syrian Network for Human Rights, em março do corrente, a coalisão dos EUA matou 260 civis, sendo 70 crianças e 42 mulheres. Os russos tiveram uma performance melhor: mataram 224 civis, 51 crianças e 42 mulheres.
Mas, não pule para conclusões apressadas.
Os bombardeios de Alepo, pelos russos, e Mosul, pelos americanos, foram de longe os bombardeios mais destrutivos dos conflitos. Já que a batalha final por Alepo aconteceu no ano passado e a de Mosul em 2017, é lógico que, em março de 2017, a eficiência letal americana teria mesmo de ser maior.
Mais justo é comparar as vítimas de Alepo com as de Mosul, cidades de condições semelhantes.
Aí, deu praticamente em empate. Os americanos mataram 4.544 em Mosul. Os russos atingiram número pouco maior em Alepo.
Podemos dizer que os governos dos dois países revelaram a mesma despreocupação em proteger os civis contra suas bombas e mísseis.
Alepo e Mosul são contos de duas cidades.
Irmãs no sofrimento dos seus habitantes, nas brutais mortes que lhes foram impostas.
Assim também russos e americanos se irmanaram na mesma decisão de passar por cima de vidas inocentes, na busca de uma vitória a qualquer custo.
E tudo pela disputa de quem vai lucrar dominando o gás q a Europa vai usar russos ou americanos e seus aliados de ambos os lados.