O Irã e a Rússia são aliados da Síria.
Os EUA, a Arábia Saudita e a União Européia são inimigos do Irã.
Daí, cada um dos dois grupos, vê uma guerra diferente na Síria.
Enquanto para russos e iranianos, o Presidente Bachar é vítima de uma rebelião de terroristas sanguinários, apoiados pelo Ocidente; Israel e os árabes do Golfo, para o outro grupo é o contrário: as tropas do Governo vem cometendo as maiores barbaridades contra uma justa insurgência democrática.
Como dizia Ésquilo, dramaturgo grego, já em sua época, 5 séculos antes de Cristo: “Nas guerras, a verdade é a primeira vítima.”
Acredito que tudo começou com manifestações pacíficas, pedindo democracia, reprimidas violentamente pela polícia do Presidente Bachar.
Daí foi um pulo para o movimento tornar-se um conflito armado, no qual as tropas e milícias leais ao governo, ao que tudo indica, cometeram grande número de violências.
Com a entrada na insurgência da Al Qaeda e outros grupos similares, os choques ficaram mais ferozes e o lado rebelde passou a promover atentados, que mataram civis, e também a se exceder na prática de brutalidades.
É provável que o governo tenha sido mais violento, não sei, mas a imprensa internacional, ecoando as condenações de Obama, Hillary Clinton e Sarkosy, especialmente, logo dividiu os dois lados em “good guys”, os rebeldes, e “bad guys”, Bachar e seguidores.
Todos os crimes descobertos foram atribuídos às tropas do governo. Afinal, os “good boys” nunca seriam capazes de tais atos. Ainda que a Al Qaeda fizesse parte do grupo.
Na semana passada, a descoberta de mais de 100 corpos, inclusive mulheres e crianças assassinados na cidade de Houla chocou o mundo.
Segundo os rebeldes, o exército de Bachar cercara a cidade e a bombardeara com disparos de tanques e canhões matando os civis inocentes.
A versão do governo é diferente. Não teria havido bombardeio algum. Na verdade, as pessoas foram mortas à queima roupa pelos rebeldes, por serem partidárias de Bachar.
Os chefes dos governos dos EUA, da União Européia e de vários países afluentes concluíram que, sendo integradas por “bad guys”, as forças do governo eram, forçosamente, as culpadas pelo crime hediondo.
12 países expulsaram os diplomatas sírios, encabeçados pelos EUA, Reino Unido e França.
O Presidente Hollande foi mais adiante: sugeriu uma possível intervenção militar estrangeira contra o governo sírio, mostrando que a política externa francesa de Sarkosy talvez não tenha mudado tanto assim.
Como sempre, a Rússia discordou. Seu Ministro do Exterior, Sergey Lavrov declarou :”Ficou claro que as duas partes tem culpas no incidente de Houla”
Quer saber? Ele tinha razão.
Investigação da ONU revelou que cerca de 20 dos mortos foram vítimas da artilharia do exército sírio.
Mas as demais, cerca de 80, receberam tiros à queima-roupa, por armas de baixo calibre.
Não foram vitimadas pelos canhões das tropas motorizadas de Bachar.
Os próprios rebeldes haviam anunciado que Houla fora cercada, mas o exército inimigo não conseguira entrar, tendo sido expulso de suas posições ao redor da cidade.
Quem seria, então, que atirara de perto em cerca de 80 pessoas, matando-as sem piedade?
Para o antigo agente de inteligência inglesa, Alastair Crooke, o tipo dos ataques não era característicos nem da Síria, nem do Líbano, mas sim da província de Anbar, no Iraque.
“Parecem apontar para grupos que participaram da guerra no Iraque contra os EUA …” , ele afirmou. E mais adiante: “ Sim, estou me referindo à Al Qaeda como grupos que estão em posição inferior no espectro da Oposição. Eles podem ser minoritários em termos de números mas influem na guerra.”
Portanto, se o governo é culpado do bombardeio, é inocente das mortes à queima-roupa.
A investigação da ONU não chegou a uma conclusão sobre quem seriam os autores dessa chacina. Podem ter sido elementos da Al Qaeda ou de outras milícias.
Mas o governo não foi.
Portanto, a expulsão dos diplomatas sírios por 12 países democratas foi leviana e irresponsável.
Deixou a impressão de que respeitáveis chefes de estado estariam mascarando seus verdadeiros interesses políticos com brados de defesa dos direitos humanos.
Parafraseando o Hamlet, de Shakespeare, “há mais coisas entre o céu e a terra do que desconfia sua vã filosofia.”
Prezado Luiz Eça!
Tenho acompanhado teu trabalho, parabéns!! É muito brilhante e importante, pois sempre mostra os dois lados da moeda e, como a mídia não em geral não divulga o que não interessa aos seus patrocinadores 99,9% do público não conhece a verdade, continua Luiz que a empreitada é digna de nota alta.
Mais uma vez parabéns!!
Abraço
Ayr (amigo do teu filho Fernando)