Mais uma etapa na luta pelo poder no Irã.
O presidente Ahmadinejad vai ser submetido a uma inquirição no Parlamento para responder a uma série de acusações.
Nos últimos meses, ele vinha recebendo constantes ataques de seus adversários da linha conservadora religiosa.
O verdadeiro motivo é a tentativa do Presidente de gradualmente ganhar poderes hoje nas mãos do Supremo Líder, Kamenei.
Pela lei iraniana, a decisão final em todos os assuntos cabe sempre ao Supremo Líder.
Na religião xiita, dominante no país, o imã é uma altíssima dignidade, raríssimas vezes atribuída a algum clérigo muçulmano.
O próprio aiatolá Komeini, o grande líder da revolução islâmica que derrubou o xá, não admitiu que seus seguidores o considerassem um imã.
Kamenei, por sua vez, tem outra postura. Claro, nunca reivindicou o título para si, mas não desestimula as articulações nesse sentido.
Ahmadinejad nunca foi contra, mas também jamais chamou Kamenei de imã.
Ele era um político conservador do partido religioso quando foi eleito duas vezes para a presidência, derrotando os reformistas.
Durante a segunda gestão, foi tomando uma série de atitudes que o marcaram como nacionalista, o que não é bem visto pelos clérigos que querem manter o Irã como uma república islâmica.
Aconteceram alguns choques entre Kamenei e Ahmadinejad, que acabou sempre cedendo.
Mas mesmo isso enfureceu os deputados que vêm no Supremo Líder, um imã, alguém muito próximo de Alá, que não pode sequer ser contestado.
Na inquirição, Ahmadinejad terá de explicar uma série de questões econômicas como o fato de ter aparentemente ultrapassado o orçamento especial do metrô de Teerã. Igualmente decisões sobre políticas interna e externa serão discutidas.
Vão perguntar também porque o presidente “ hesitou durante 11 dias” em atender a pedido de Kamenei para reintegrar no Ministério de Inteligência, Heidar Moskeni, que fora despedido por Ahmadinejad. Terá de explicar ainda suas ligações com Esfandiar Rahim Mashael, sogro do seu filho, o qual seria candidato do presidente à sua sucessão.
Alguns legisladores acusam o presidente de promover o nacionalismo em lugar do islamismo. Uma prova disso seria o desinteresse do governo em forçar o uso do véu pelas mulheres, o que seria exigido pelo código islâmico.
A inquirição deverá ocorrer antes de março, quando acontecerão eleições parlamentares, cujos resultados poderão implicar em mudanças na orientação política do Irã.
Embora pareça incrível, o intempestivo Ahmadinejad representa a tendência nacionalista, moderna, que deseja um governo inspirado nos princípios do Islam. Não a aplicação estrita de suas regras, que foram feitas para as condições de 1.500 anos atrás, quando Maomé as apresentou.