Guilhermo Krachner, assessor do papa, anunciou que Francisco vai liberar arquivos da Igreja sobre a ditadura argentina.
Durante a repressão, grande número de denúncias de parentes de desaparecidos foram enviadas ao Vaticano. Além disso, há registros das gestões feitas por membros da Igreja Católica em favor de perseguidos políticos.
O próprio Francisco, quando cardeal, abrigou freqüentemente esses perseguidos. Chegou a dar seus documentos de identidade a um deles, que se parecia com Francisco, para que pudesse fugir do país.
Na Argentina, os assassinos e torturadores da ditadura são sujeitos a processo e condenados. Desse modo, muitos dos seus crimes já vieram a público.
Mas ainda não se sabe de tudo – afinal, segundo estimativas, nada menos de 30 mil pessoas foram assassinadas pelas autoridades do regime militar.
Agora, essas lacunas poderão ser preenchidas.
“A vontade política do papa é clara, ele vai abrir os arquivos e promover a auto-crítica”, diz Graciela Lois, co-fundadora da “Associação de Familiares de Detidos e Desaparecidos por Razões Políticas”.
Não se duvida que a eventual responsabilidade de membros do clero argentino no apoio aos atos da ditadura será conhecida.
O papa Francisco não hesitou em aceitar e reprimir a prática de pedofilia por padres e até bispos.
Foi ele também que apressou a beatificação de Dom Oscar Romero, bispo de El Salvador, assassinado em 1980 por defender os pobres contra violências do governo.
O processo de beatificação de Dom Romero estava suspenso devido a suas posições ditas evolucionárias e por ser considerado um mártir de idéias sociais, não da fé cristã.
O Papa Francisco acabou com todas estas dúvidas. Decretou que Oscar Romero era um mártir da fé católica, sim, devendo brevemente ser declarado beato. Só um santo seria capaz de dar a vida pelos pobres.
O próprio Francisco tem dado um testemunho muito semelhante aos princípios do bispo salvadorenho.
Em 2007, ainda cardeal na Argentina, ele afirmou :”Vivemos na região mais desigual do mundo, a que mais cresceu e a que menos reduziu a miséria. A distribuição injusta dos bens persiste, criando uma situação de pecado social que brada aos céus e limita as possibilidades de vida mais plena para muitos de nossos irmãos.”
Habemus papam.