No Velho Oeste, sofrendo um ataque inesperado, a regra era atirar no provável inimigo. Só depois certificar-se se ele fora mesmo o culpado. Era o que faziam no passado heróis lendários como Wyat Earp, Wild Bill Hickhok, Billy The Kid e Bat Masterson.
E agora fez o pessoal do Pentágono.
Foi o que aconteceu na semana passada, no mar Vermelho, em águas ao largo do Iêmen.
Quando o radar do destroyer Mason indicou que fora alvejado por dois mísseis incompetentes, que apenas feriram o mar, os americanos não hesitaram em retaliar com uma carga de mísseis o rival mais próximo, no caso os rebeldes houthis.
Tratava-se do alvo mais conveniente, já que essa organização xiita estava em guerra com um bom amigo dos EUA, a Arábia Saudita.
Os disparos do Mason destruíram uma série de estações de radar dos houthis. Quanto a vítimas, não se soube nada, nem interessava muito. Afinal, eles seriam “do mal.”
Imediatamente, os houthis protestaram, os mísseis anti-americanos não foram disparados por eles.
Mas o Pentágono, através do secretário de Imprensa Peter Cook, pôs tudo em pratos limpos.
Bem, os pratos não estavam lá muito limpos.
Os militares americanos disseram que tudo indicava os houthis como autores do ataque contra o destroier, MAS CERTEZA TOTAL, NA VERDADE, NÃO EXISTIA (military.com de 15 de outubro), pois faltavam provas.
Os houthis, vejam só, não se limitaram a alegar inocência, pediram também um inquérito para investigar os fatos. Poderia ser feito pela ONU ou algum grupo internacional. E já antecipavam que os investigadores teriam sinal verde para entrarem onde quisessem. Fazerem a chamada investigação intrusiva.
Isso, não se pode negar, é um indício de que eles possivelmente não estivessem mentindo, pois se fossem culpados o inquérito revelaria.
No caso de nada se provar contra os houthis, ficaria muito mal para os EUA, expostos como afoitos em alvejar inocentes, sujeitos, possivelmente, a indenizações pelos danos causados.
Mesmo porque havia outros inimigos por perto, até muito mais perigosos e violentos, bem capazes de lançar mísseis contra navios dos EUA.
Foi a al Qaeda, afirmou o general Saleh, ex-governante do Iêmen e atual aliado dos houthis, a qual teria razões e condições para levar a cabo o ataque.
E Saleh aproveitou o embalo para pôr as culpas na Arábia Saudita, também sem provas, como havia feito o Pentágono.
Os chefes militares do Reino dos petrodólares estariam por trás de uma sinistra e mal explicada conspiração, favorecendo o ataque aos americanos, certos de que eles não hesitariam em atribuir o feito aos houthis.
E, consequentemente, fulminariam instalações militares dos inimigos, jogando assim os EUA na guerra do Iêmen.
Esta opinião foi prontamente aceita por Abdel-Malek, chefe dos houthis. Ele foi mais longe assegurando que a retaliação demonstraria que os EUA estavam “se preparando para uma agressão contra Hodeida (o principal porto da região).”
E eis que o indiscreto chefe de imprensa naval, Peter Cook, joga dúvidas na questão: os EUA estariam preparados para responder novamente,” caso eles, os chefes americanos, ACHASSEM que seus navios ao largo da costa iemenita estivessem ameaçados.” Ou seja: se atirarem na gente, vamos responder, sem maiores análises da autoria possível da ação e os houthis, de novo, vão ver o que é bom pra tosse.
E assim ficou tudo muito confuso, com a presunção de que os EUA poderiam ter sido demasiado apressados ao concluírem pela culpa dos houthis.
Felizmente para Washington, seu comando militar no mar Vermelho informou que, durante vários dias, novamente o radar do Mason apontara novos mísseis disparados contra três naves de guerra americanas, com uma pontaria tão ruim que passaram muito longe – nem dera para ver onde tinham caído. Agora, as suspeitas que pesavam sobre os houthis pareciam consideravelmente reforçadas.
Festa na Casa Branca, ficara claro que os americanos não atiravam a toa, sabiam muito bem o que faziam.
Infelizmente, aconteceu uma importuna ressaca no dia seguinte, 16 de outubro: “oficiais do Mason, sábado à noite (15-10), NÃO TINHAM CERTEZA se haviam sofrido realmente um ataque com múltiplos mísseis ou se fora um simples DEFEITO NO SISTEMA E DETECÇÃO DO RADAR do destroyer. (CNN, 16 de outubro).”
Portanto, a culpa talvez fosse do radar americano, não dos houthis.
E agora, com que cara ficará Obama, que autorizou a retaliação, com base nas informações dos seus comandantes navais acusando os combatentes do grupo xiita?
A essas alturas, os estrategistas da Casa Branca deverão estar estudando como se explicarão.
Ou, mais provável, como não se explicarão.
Enquanto isso, a aviação dos bons amigos sauditas, usando aviões fabricados nos EUA, continua atacando alvos civis com bombas americanas.
Seu último feito foi bombardear um funeral no interior do Iêmen, matando 155 pessoas e ferindo cerca de 500.
Os sauditas alegaram que isso não era verdade, depois que seu alvo fora perigosos líderes houthis, depois que não matara tanta gente assim…
Como nada disso colou, admitiram que fora apenas um erro. Perdoável, afinal ninguém é perfeito, conforme Joe E.Brown garantiu no filme “Quanto Mais Quente Melhor”.
E assim caminha humanidade.