Nas últimas pesquisas eleitorais, Biden vence por cerca de 10 pontos de vantagem. E o governo de Trump é reprovado por 65% dos eleitores, enquanto apenas 39% o acham bom.
Não quer dizer que a senhora Biden já pode ir escolhendo as amigas que convidará para a festa de posse do marido na Casa Branca.
As pesquisas são importantes, mas não garantem os resultados, mesmo num quadro em que a vantagem do ex-vice de Obama é tão clamorosa.
As eleições nos EUA são indiretas. Quem vencer em cada estado ganha seus votos eleitorais, cujo número corresponde à porcentagem de sua população no total do país. Não importa se o candidato ganhou, digamos, por 0,1% ou 90%, em qualquer caso levará todos os votos do estado para a decisão final.
Foi assim que, embora tendo 3 milhões a mais de votos individuais na última eleição, Hillary Clinton perdeu para Donald Trump, que ganhou a maior soma de votos dos estados.
Nos EUA, há estados onde, normalmente, ganha um dos grandes partidos, o Democrata ou o Republicano. Em outros, os chamados swing states, o vencedor muitas vezes varia.
Nas eleições de 2016, Trump foi eleito porque ganhou na maioria dos swing states.
Para não serem pegos de calça curta neste ano, os dois candidatos investiram tempo e dinheiro prioritariamente nesses estados volúveis, porém decisivos.
Lembro, ainda, que o resultado das recentes pesquisas de intenção de voto pode não ser igual ao resultado das urnas em 3 de novembro. Nos EUA o voto não é obrigatório, quando nenhum candidato deixa as pessoas entusiasmadas, muitas delas ficam em casa, em vez de irem às urnas.
Isso pesa mais quando o eleitor acha que a vitória de um dos candidatos é certa, por isso… por que incomodar-se em votar se não fará diferença?
Nas últimas eleições, a abstenção foi alta, chegou a 44%. Estima-se que Hillary Clinton perdeu muitos votos por ser vista com desconfiança, especialmente pelos eleitores latinos (americanos de origem hispânica), jovens, negros e progressistas, setores onde houve maior número de abstenções, inclusive nos swing states.
Em 9 de outubro, em pesquisa, na Florida, um dos mais importantes desses estados por dispor de muitos votos eleitorais (29), Biden ganhou deixando Trump 5 pontos atrás. Conseguiu 65% das intenções de votos dos eleitores latinos, resultado 14% inferior ao conseguido por Hillary Clinton nas eleições de 2016. Na Florida há um grande contingente de cidadãos desta raça. Como Biden oferece muito mais razões para agradá-los do que madame Clinton, ele tem potencial para aumentar a votação que ela recebeu dos latinos floridianos, à medida em que se conscientizarem das posições do candidato democrata.
Pensilvânia, com seus 20 votos, é outro estado fundamental para Biden. As pesquisas revelam que ele está em ascensão, fazendo Trump comer cada vez mais poeira. Por enquanto, o ex-vice de Obama lidera com 6,9 pontos de vantagem.
Em Ohio, que tem 18 votos, a disputa vem sendo cabeça-a-cabeça. Os dois candidatos vem se revezando na ponta. Qualquer prognóstico em favor de um deles seria um mero chute.
Em Michigan, Biden, está na frente com vantagem girando em torno de 7, 8 pontos. Trump ensaiou um avanço, tentando reduzir a diferença em relação ao líder, mas parece que já parou, não vejo riscos na posição do democrata e nos 16 votos eleitorais do estado que ele vai levar consigo.
Carolina do Norte é outro estado indefinido. Com uma diferença a seu favor de apenas 1 ponto nas pesquisas de 7 de outubro, ainda não dá para Biden considerar como seus os 15 votos do estado.
O Arizona costumava ser uma fortaleza dos republicanos, coisa que está mudando rapidamente. Biden ganha terreno. Segundo a média das pesquisas dos últimos 10 dias, já passou seu adversário. As apostas o colocam como o mais provável vencedor da corrida neste estado, devendo abocanhar seus 11 votos eleitorais.
Iowa é outro páreo duro. Neste estado rural, os republicanos cresceram com a conquista da maioria dos trabalhadores brancos. Em pesquisa de 6 de outubro, Trump corria em primeiro, embora escassamente separado do seu rival por 0,3 pontos de vantagem. Mas, em nova pesquisa, Biden acelerou e agora o presidente golfista ficou 1 ponto atrás. Aqui vem acontecendo uma verdadeira gangorra, ora um, ora outro aparece na frente. Não dá para antever quem ficará com os 6 votos de prêmio que Iowa oferece ao vencedor.
Numa da suas últimas visitas ao estado de Minesota, Trump, emocionado, disse a seus acompanhantes: “Se eu vencer em Minesota, acabou.” Referia-se à disputa pela presidência EUA, que seria garantida sonho de vencer ali: 8,9 pontos o separam do líder, Biden, e dos 10 votos eleitorais.
De acordo com as pesquisas atuais, os 10 votos eleitorais de Wisconsin iriam para Biden, que desfruta de uma confortável vantagem de 7 pontos sobre Trump. E tende a crescer mais.
Finalmente o candidato republicano aparece na frente em um swing state: a Georgia. Depois de Biden pontear a corrida por vários meses, Trump reagiu em outubro e assumiu a liderança. Mas, por pouco, entre 1 e 2 pontos, que não é de animar, nem mesmo sua trupe de ring brothers.
O mal estar republicano é mais acentuado no grande estado do Texas. A terra de George W.Bush não é um swing state. A última vitória democrata foi há 44 anos, em 1976. Desde então, só deu republicanos. Nesta eleição, porém, tudo pode acontecer. Nesse caso, as chances de Trump se reeleger irão para o espaço. Sem os 38 votos eleitorais texanos, não haverá como o candidato republicano permanecer mais quatro anos dando as cartas na Casa Branca.
Como as vitórias do Great Old Party pareciam automáticas, nenhum partido perdia tempo realizando campanhas custosas, onde os resultados estavam, na prática, praticamente determinados.
O líder democrata Beto O´Rourke discordou. Ele insistiu para que seu partido aumentasse significativamente a propaganda e os tours políticos dos seus candidatos a presidente e vice, percorrendo o estado em busca de votos.
Na opinião dele, havia um grande potencial de votação entre os eleitores negros e os de origem hispânica e asiática, que poderia mudar os rumos das eleições no Texas. De fato, a população dessas raças vinha crescendo num pique acelerado nesses 4 anos, bem mais do que os brancos dos subúrbios, tradicionais adeptos do Partido Republicano (só os latinos representam 29% do corpo eleitoral do estado). A forma brutal com que Trump trata os imigrantes latinos e asiáticos e o desprezo que dedica aos negros, poderiam favorecer Biden, defensor de uma política humana e igualitária no trato desse pessoal. Devidamente esclarecidos pela campanha presidencial democrata, eles dariam o troco, votando em massa no ex-vice do saudoso Obama.
Não sei se os responsáveis pela campanha democrática acolheram a sugestão de O`Rourke, o fato é que Biden vem brilhando nas pesquisas, estando sempre próximo ao líder Trump. Evidentemente, embora The Donald seja o favorito para ganhar no Texas, e amealhar os preciosos 39 votos do estado. uma virada não será surpresa.
Está na cara que a campanha de Biden vive um grande momento.
A liderança nas intenções do voto individual e na soma dos votos eleitorais dos estados, inclusive nos decisivos, foi ainda recentemente reforçada pelo péssimo papel de Trump no debate com Biden, as disparatadas acusações de comunismo contra Kamala Harris e pela afirmação non sense de que Biden eleito destruiria os subúrbios. Num cenário assim, há somente 20 dias do pleito, a derrota de The Donald parece inexorável.
Não acredito que um possível clima de “já ganhou” leve um número enorme de eleitores democratas a passar 3 de novembro em casa. Mesmo os inúmeros progressistas, indignados quando Biden entoa cânticos de amor a Israel, reprova o BDS e o Medicar for All- sem as empresas particulares, vão os fazer trilhar os caminhos dúbios da abstenção.
Afinal, o ex-senador assumiu vários itens da plataforma progressista, e, além disso, seria absurdo renunciar ao prazer extasiante de contribuir com seu voto para expulsar o narcisista e insensato Trump da Casa Branca.
As remotas chances de The Donald sair-se bem situam-se em lances ensandecidos como atacar o Irã, depois de arrumar um motivo fake; lançar a vacina anti-covid19, antes de convenientemente testada ou condenar a eleição como fraudulenta, levando o caso para a Suprema Corte, onde tem maioria.
Um ataque ao Irã poderia gerar uma guerra e fazer o feitiço virar contra o feiticeiro. Além dos americanos de hoje rejeitarem furiosamente conflagrações, que matam our boys à toa, The Donald não tem credibilidade para se colocar como defensor da pátria, contra o inimigo externo.
Lançar uma vacina duvidosa poderia causar efeitos inesperadamente letais e enterrar de vez os sonhos -eleitorais de Donald Trump.
Judicia lizar o resultado de uma eleição exigiria, não só motivos de peso, mas também um resultado extremamente estreito, que nesta eleição deve atingir um altíssimo pico. Mesmo sendo em maioria conservadores, os juízes da Suprema Corte não seriam insensatos, não iriam emporcalhar sua biografia ultrajando a constituição e a história dos EUA, com a anulação de uma eleição com números consagradores.
Acho que o presidente não vai ter a felicidade da reeleição tão desejada.
Mas, para quem tem por esposa a maravilhosa Melanie, sobram motivos para ser feliz.
Vá pra casa Donald!