Ao referir os possíveis governantes da nova Líbia, não se pode esquecer as potências ocidentais.
Não foi por amor à democracia que Obama, Sarkosy e Cameron decidiram intervir na Líbia. Estavam principalmente de olho nas pesquisas, apontando números alarmantes para os três. Como se sabe, nada como uma boa guerrinha para fazer o povo apoiar o chefe do governo. E, quando, além disso, existem 46 bilhões e 400 milhões de barris de petróleo(a nona reserva do mundo), prontos para serem explorados, os líderes ocidentais ficaram de olhos brilhantes. As três potências arrancaram da ONU consentimento para proteger a população de Bengazi com uma zona de exclusão aérea. Logo , prolongaram seu âmbito de ação, alegando que era preciso bombardear os aeroportos e canhões de Gadafi, donde partiriam seus mortíferos ataques. E, a seguir, sem perder mais tempo com explicações, os três aliados passaram a bombardear tudo: quartéis, palácios, reservatórios de água, soldados, hospitais…Por fim, no dia 24 de agosto, contra tudo que havia sido prometido, conforme declarações de um funcionário graduado da OTAN à rede de Tv CNN, Forças Especiais do Reino Unido, França e dos satélites, Jordânia e Catar, estavam participando de operações em Tripoli e outras cidades, em apoio às tropas rebelde.
É possível que a OTAN não pare por aí. Fontes do Ministério de Defesa inglês admitiram que tropas estrangeiras poderão ser necessárias para garantir a ordem. Do Pentágono partiram indicações de que forças americanas seriam eventualmente destacadas para “manter em lugar seguro” a grande quantidade de armamentos espalhados pelo país. E a agência Reuters informou que uma cerca de 1.000 soldados do Qatar e dos Emirados Unidos deverão chegar a Tripoli para atuar como polícia.
Os EUA, Reino Unido e França gastaram muito dinheiro na operação delenda Gadafi – custou 1 bilhão de dólares para os americanos. Com suas economias a perigo, os três não estão em condições de serem altruístas. Espera-se que suas empresas procurem ficar com a parte do leão na partilha do petróleo líbio, atualmente estatizado. Exatamente o que os EUA vem tentando impor no Iraque, com os contratos PSA, tão desvantajosos aos países produtores que em nenhuma parte do Oriente Médio são aceitos.
Evidentemente, tendo o governo nas mãos, tudo será mais fácil para as três potências. Por isso mesmo, Yang Jieichi, Ministro das Relações Exteriores da China apressou-se a oferecer seus préstimos para ajudar na reconstrução da Líbia, ao mesmo tempo em que proclamava que a ONU, e não as potências ocidentais, deveria atuar nessa função
O fato da China ter votado contra a participação da comunidade internacional na guerra civil da Líbia pegou mal junto aos rebeldes. Como tambem suas críticas aos bombardeios da OTAN, que, para proteger os civis das regiões em revolta, mataram dezenas (talvez centenas) de civis das regiões sob Gadafi. Mas os chineses tem um ponto a seu favor. Seus investimentos no exterior costumam buscar apenas bons negócios, não a dominação, alvo tradicional dos impérios ocidentais. Note-se que estes já investiram na Líbia, gastaram muito dinheiro em nada menos do que 20.000 missões aéreas e 7.500 bombardeios. Agora estão atrás de lucros. E eles são sedutores. Embora se estime que levará um ano para se recuperar a produção dos 1.600.000 barris diários de antes da guerra, eles poderão gerar lucros anuais de 50 bilhões de dólares. As gigantes petrolíferas ocidentais parecem ter saído com vantagem na corrida por esta fortuna. ”Não teremos problemas com as companhias das nações ocidentais como Itália, França e Reino Unido”, afirmou Abdeljalil Mayoput, porta-voz da estatal líbia, Agoco.” Já Rússia, China e Brasil não apoiaram sanções fortes contra Gadafi…”
No entanto a última palavra ainda não foi dita. Visualiza-se problemas perturbando a harmonia forjada na guerra.
A Líbia tem 37 bilhões de dólares em depósito retidos nos EUA e 27 bilhões no Reino Unido, França, Itália e Suiça. Como é natural, o CNT, sendo governo, deseja que esses recursos sejam descongelados, logo que possível, para aplicá-los na solução dos problemas do país. Os americanos, porém, tem assumido uma postura paternalista. Obama declarou: ”Os EUA se unirão a seus aliados e parceiros para continuar o trabalho de salvaguarda do povo da Líbia”. Indo no mesmo caminho, o Conselho de Segurança da ONU autorizou o descongelamento de 1,5 bilhão de dólares para fins humanitários e para a reconstrução da Líbia, a serem confiados, não ao CNT, mas às “autoridades líbias pertinentes”, sem definir exatamente quais sejam elas. Em outras palavras, a comunidade internacional passa a decidir como e a quem vai entregar recursos que não lhe pertencem, mas à Líbia. Será que o CNT aceitará? Tudo bemque, sem os aviões da NATO e o apoio da ONU, dificilmente Gadafi seria derrotado. Mas, gratidão é algo que não costuma durar muito. Breve, os líderes do CNT vão questionar a ONU e, por extensão, os EUA e a Comunidade Européia. Não dá para prever o que irá resultar daí.
Convém lembrar ainda que as milícias islâmicas não fizeram a revolução para deixar que políticos benevolentes em relação ao Ocidente façam do país o que be,m entenderem. Ninguém espera que eles abandonem as armas facilmente.
Neste cenário de incertezas, o CNT promete que realizará eleições gerais daqui a oito meses. Talvez a maior de todas as incertezas..