A grande mídia deu o maior destaque às façanhas militares do general Sharon e à retirada israelense de Gaza, que ele promoveu.
Não deixou de mencionar os massacres de Gaza e Shatila, apontando-o como “indiretamente culpado”. Ficou um tanto vago o que isso significaria, passando a idéia de que fora simplesmente a responsabilidade que todo comandante tem nas ações de seus subordinados.
Na verdade, foi algo pior.
Em 1982, Sharon, então ministro da Defesa de Israel, convenceu seu governo a invadir o Líbano. O objetivo era destruir os rebeldes da OLP (Organização da Libertação da Palestina) e colocar no poder um regime fantoche dirigido pelo partido das milícias falangistas cristãs.
Na guerra, que fez mais de 10 mil vítimas libanesas, inclusive muitas mulheres e crianças, o exército de Israel tomou Beirute.
Houve uma trégua, na qual o enviado dos EUA, Morris Drapper, discutiu com o general Sharon a retirada dos israelenses da cidade.
Ele queria que fosse urgente, pois temia que os civis refugiados em acampamentos sofressem violências.
Segundo Drapper, Sharon sabia que isso já estava acontecendo.
Milicianos das falanges haviam invadido os acampamentos de Sabra e Chatila, guardados por tropas de Israel que os deixaram entrar e praticar um massacre tenebroso.
Foram 3 dias de torturas, estupros e assassinato de milhares de refugiados palestinos e libaneses. Sem qualquer oposição por parte do exército de Israel.
Testemunhas relataram posteriormente que, durante a matança, falangistas e soldados israelenses comunicaram-se entre si, usando walkie-talkies.
Voltando à reunião, diante das preocupações do enviado americano, Sharon observou : “Nada acontecerá. Talvez mais alguns terroristas sejam assassinados. Isso será para o bem de todos nós.”
Mas Drapper estava bastante pessimista, antevendo o que iria suceder: “ Na certa, o exército de Israel vai continuar em Beirute Oeste e permitirá que libaneses entrem nos acampamentos e matem palestinos.”
Sharon concluiu: “Então, nós os mataremos. Não os deixaremos (vivos). Você não vai poder salvá-los.”
Drapper chamou o massacre de Sabra e Chatila de “obsceno”.
Numa gravação feita em 2005, lembrou-se de ter dito a Sharon:” Você deveria ter vergonha. A situação é absolutamente pavorosa. Eles estão matando crianças. Você tem o acampamento absolutamente sob controle e portanto é o responsável pela área.”
A ONU e várias organizações internacionais condenaram o general Sharon pela sua atuação no massacre de Sabra e Chatilla.
Até mesmo o governo de Israel sentiu-se pressionado a demiti-lo e a ordenar uma investigação sobre o episódio. Que concluiu por sua responsabilidade, pois deveria prever possíveis incursões dos sanguinários milicianos falangistas. E tomar providências para evitá-las.
Embora frágil, essa decisão foi significativa, pois atingiu alguém considerado um herói em Israel, por seus triunfos nas guerras contra os árabes.
A imagem de brutal algoz, de Sharon junto aos árabes, não se deve apenas a suas culpas nos massacres de Sabra e Chatilla.
Em outubro de 1953, a unidade 101 do exército de Israel, liderada por ele, atacou a pequena aldeia palestina de Qibya, em retaliação à morte de uma mulher e dois filhos, junto à fronteira, vítimas de um atentado.
Havia informações de que os terroristas teriam partido de Qibya.
Não sabiam quem eram eles. Por via das dúvidas, a força comandada por Sharon, apoiada por um grupo paramilitar, arrasou a aldeia.
Os soldados destruíram 40 casas, uma escola, uma mesquita, uma estação de bombeamento de água, um posto policial e um posto telefônico.
77 pessoas foram mortas, a comunidade inteira. Nos primeiros corpos recuperados, havia 38 mulheres e crianças.
Entre os comandados de Sharon não houve sequer uma baixa, pois não houve combate.
A ONU e os EUA condenaram, é claro, pedindo a responsabilização penal dos culpados.
O jornal The National Jewish Post escreveu em 30 de outubro de 1953:”Qibyia foi, de fato, uma outra Lidice e nenhum cidadão americano, que viveu na época desse detestável extermínio nazi de uma aldeia inteira, esquecerá o horror mundial diante desse episódio.”
Considerando o papel protagonizado por Sharon nos massacres de Sabra e Chatila (onde foram mortos cerca de 800 palestinos) e de Qibya, dá para entender as comemorações dos palestinos na morte do general israelense.
Deixando de lado os aspectos mais cruéis da carreira de Sharon, é preciso lembrar também suas contribuições para a radicalização dos problemas da Palestina.
Foi ele quem criou o muro que divide Israel da Margem Oeste, penetrando nos territórios palestinos para incluir os principais assentamentos judaicos.
Dessa maneira, o muro dividiu cidades, separando pacientes dos hospitais; pessoas dos seus lares; fazendeiros de suas fazendas; empregados dos seus empregos; crianças das suas escolas e contribuindo para dificultar ainda mais a fixação dos limites do futuro Estado palestino.
Foi Sharon que provocou o início da 2ª Intifada, ao visitar, acompanhado por 1.000 guardas armados, o monte do Templo, sagrado para os muçulmanos, onde declarou:”O monte do Templo está em nossas mãos.”
No primeiro ano dessa Intifada, morreram 275 palestinos e 13 israelenses, alvejados por forças de segurança de Telaviv, que usaram balas reais para reprimir uma manifestação.
Por fim, é fato que Sharon ordenou a retirada dos assentados israelenses de Gaza e entrega da faixa aos palestinos.
Mas também é fato que Gaza continuou aprisionada num bloqueio de terra, mar e ar, que já dura 8 anos, e que, segundo o cardeal Martino, a tornou “um grande campo de concentração.”
E mais: para contrabalançar a retirada dos 8.000 assentados de Gaza, Sharon promoveu 4 vezes mais assentamentos na Cisjordânia.
O que ele deu com uma mão, tirou o quádruplo com a outra.
Não vou falar das vitórias de Sharon nas guerras contra os árabes.
A grande mídia já fez isso, exaltou suas glórias, seus feitos militares.
Lembro apenas que Átila também foi um grande guerreiro.
Nada como um pouco de historia. Perto disso a perseguição aos cahtaros não é nada….E jà se passaram séculos! Como falar de evoluçao???????
Sem dúvida Sharon já foi tarde….fisicamente 8 anos pelo menos, espiritualmente 80 anos, mais ainda, teria sido melhor para a
humanidade que nunca tivesse nascido….