Definindo o chamado excepcionalismo americano, escreveu o historiador Gordon Woods: ”Nossas crenças (dos americanos) na liberdade, igualdade, constitucionalismo e bem estar das pessoas comuns vem da era da Revolução. Assim como a idéia de que os americanos são um povo especial, destinado a liderar o mundo para a liberdade e a democracia.”
A idéia de que a América é “especial”, ungida por Deus para conduzir o mundo com equidade, está profundamente enraizada na sociedade dos EUA. Desde a escola, os americanos são inculcados desse conceito que é incansavelmente repetido por políticos, jornalistas, professores, ministros religiosos e cineastas.
Até mesmo por indivíduos vistos como inimigos do american way of living.
Em 1927, Jay Lovestone, líder do Partido Comunista dos EUA, usou a expressão “excepcionalismo americano”, ao declarar que o capitalismo no país era tão poderoso que tornava uma revolução impossível, violando, assim, o penamento de Karl Marx.
O próprio Joseph Stalin puxou as orelhas do discípulo, qualificando suas idéias como “uma heresia”.
Por seu lado, importantes personalidades americanas não se cansam de enfatizar as excelências desse conceito, que põe os EUA acima de todos os demais países do mundo, como seu guia protetor.
Mitt Rooney, candidato presidencial republicano, derrotado por Obama, é enfático: “Eu sou um daqueles que acredita que a América está destinada a permanecer, como tem sido desde o nascimento da República, a mais brilhante esperança do mundo.”
Outro republicano, Rick Perry, ex- governador do Texas e hoje ministro da Energia, não deixa por menos: ”Nós somos a mais excepcional nação na superfície da Terra.”
E Dick Cheney, vice de George W.Bush, um dos responsáveis pela Guerra do Iraque, ecoa:”Nós somos a última e a maior esperança da Terra.”
Até mesmo Barack Obama entrou nesse coro: “Eu acredito no excepcionalismo americano com cada fibra do meu corpo.”
Não com seu cérebro, evidentemente, pois ele não é tolo, recorreu a esse chavão somente para garantir uma boa imagem junto a seu crédulo povo.
A suposta excepcionalidade dos EUA é a razão de ser do patriotismo exacerbado dos cidadãos do país que os leva a se orgulhar de ser americano.
Há 18 anos, a Gallup vem pesquisando a inrtensidade desse oprgulho.
Desde o início, a maioria absoluta dos americanos vem se declarando “extremamente orgulhosa” da sua excepcional nacionalidade.
Esta onda começou a refluir em 2013.
Ao ouvir o povo entre 1 e 15 de junho do corrente, a Gallup verificou que continua diminuindo o número de cidadãos “extremamente orgulhosos” de serem americanos. Menos da metade, apenas 47%, revelou portar esse sentimento tão gratificante.
Entre os adeptos do Partido Democratas, a queda foi ainda mais significativa. De 56% em 2013, o orgulho super-patriótico caiu para 43%, em 2017, e apenas 32%, neste ano. Foi 24% a menos do que em 2013.
Nessa pesquisa de 2018, o ufanismo existenre entre aqueles que se declararam politicamente liberais mostrou-se insignificante: 23%, sendo 28% menor do que em 2013.
Será que os americanos estão gradativamentre deixando de serem patriotas?
A Gallup discorda. Para ela, não se deve pular para conclusões apressadas, tomando por base apenas os números das pesquisdas.
O patriotismo em baixa seria uma situação apenas temporária. Na vedade, os sentimentos do povo em relação ao seu país costumam sofrer elevada influência das políticas dos governos de plantão em Washington.
É notório que os eleitores do Partido Democrata e os liberais, em geral, são firmemente refratários às posições e ações do governo Trump.
Pegam muito mal coisas como o desmonte da legislação ambiental do presidente Obama, a defesa das barbaridades de Israel no massacre da fronteira de Gaza e as retiradas malignas do Acordo de Paris, do Acordo Nuclear com o Irã e do Conselho de Direitos Humanos da ONU.
Os negros, latinos e jovens (que, em maioria, costumam votar nos democrats) se ressentem da criminalização dos imigrantes ilegais, das leis restritivas da entrada no país de muçulmanos e do sinal verde para o comércio de armas, além das claras tendências racistas que o presidente não consegue ocultar.
Com isso, o excepcionalismo americano está sendo submetido a uma avaliação crítica.
Como um país pode ser superior aos outros quando vem praticando tantas malazartes?
Os americanos parecem estar começando a abrir os olhos, aumenta o número daqueles que não mais embarcam automaticamente no dogma da superioridade dos EUA.
Avaliações críticas e racionais tendem a se generalizar sobre uma série de posições tradicionalmente vistas como “socialistas,” ergo inaceitáveis.
A recente campanha eleitoral do senador Bernie Sanders contribuiu decisivamente para que esse preconceito fosse superado.
Convencidos pela pregação do senador, massas de americanos, não só apoiaram as posições carimbadas de socialistas, como também retiraram o próprio socialismo do index das ideias proibidas.
A redução constante do número dos que se consideram “extremamente orgulhosos de serem americanos”, mostra uma tendência crescenre contrária à teoria do excepcionalismo.
Afinal, é irracional que exista um país acima do bem e do mal. Os EUA tem provado que não são infalíveis, são sim sujeitos a fazerem besteira, a se comportarem de forma injusta, sob a direção de grupos com interesses pra lá de discutíveis.
Não nego que ainda sejam muitos os que ainda vejam as coisas de um modo diferente. Veja o que disse o ex-presidente George H.W.Bush (o pai) : “Eu nunca pedirei perdão pelos Estados Unidos. Nunca. Eu não me importo como os fatos são”.
A esperança é que esse tipo de patriotismo megalítico esteja mesmo em vias de extinção.