O Paquistão não vende sua soberania.

As estatísticas variam, mas todas concordam que os ataques dos drones (aviões sem piloto) estão longe de terem a precisão cirúrgica atestada pelo Presidente Obama.

Pelo menos 2.300 civis inocentes foram mortos por estas armas tão valorizadas pelos EUA.

Os protestos contra os ataques dos drones se sucedem desde 2003.

Povo, militares e políticos exigem o fim da matança e de algo que eles consideram uma negação da soberania do país.

Até agora, tudo em vão.

O governo, publicamente, é solidário com a população, mas, na prática, permite os mortíferos vôos dos drones sobre o Paquistão.

Eis que a situação parece ter mudado.

Com a morte de 26 soldados paquistaneses por aviões e helicópteros americanos, o povo e os militares ficaram mais do que furiosos.

E como a reeleição depende de voto, Zardari, o presidente, ganhou coragem e exigiu desculpas dos americanos.

As quais foram negadas. Obama lamentou o sucedido, mas disse que eram necessárias investigações pelo seu exército.

Em retaliação, o governo de Islamabad ordenou a desocupação de uma base usada por americanos para lançar os drones, proibiu a continuação dos vôos dessa máquina mortífera sobre o Paquistão e a OTAN de usar uma estrada local para levar abastecimentos às tropas no Afeganistão.

Logo, reuniram-se autoridades americanas e paquistanesas para fumarem o cachimbo da paz.

Enquanto isso, depois de algumas semanas em terra, os drones voltaram a atacar.

Isso, apesar das proibições não terem sido retiradas.

Pior, uma comissão de investigação do exercito americano concluiu que houve falhas, mas os culpados principais teriam sido os soldados do posto afegão, que atiraram primeiro.

Aí, sujou de verdade.

 

Os militares sentiram que o Paquistão estava sendo tratado como uma potência de segunda classe.

A indignação do povo cresceu ainda mais.

Por sua vez, o Parlamento refletiu a opinião geral da nação.

E agora exige não só o fim dos ataques de drones, como também o fechamento da fronteira, o que impedirá os soldados americanos de perseguirem talibãs dentro do território paquistanês.

Além disso, os deputados resolveram que, de agora em diante, uso de bases por países estrangeiros e operações de inteligência desses países teriam de ser autorizadas pelo Parlamento.

E, mais uma vez, insistiu nas desculpas incondicionais dos EUA pelos 26 soldados que mataram no posto de fronteira.

Desta vez, Zardari não teve saída.

Continuar sendo contra os drones, publicamente, e por baixo do pano, autorizá-los (como o Wikki Leaks revelou) seria ficar contra toda a nação. Abdicar da soberania.

Embora com lágrimas nos olhos pela provável perda dos 3 bilhões de dólares americanos de ajuda anual, declarou que agora era pra valer.

Drones nunca mais!

Como o Paquistão é fundamental para a guerra do Afeganistão, os EUA não podem  perdê-lo.

De outro lado, os drones são a menina dos olhos tanto de Obama, quanto do Pentágono. E o fechamento das fronteiras, impedindo as forças americanas de perseguirem os talibãs em fuga seria altamente prejudicial aos  EUA.

Assim, resolveu-se dar uma colher de chá a Zardari e seus generais.

Através do general Petraeus (diretor da CIA), a Casa Branca apresentou algumas concessões: limites dos tipos de ataques dos drones; não atacar, automaticamente, grupos armados no Norte e no Sul do Waziristão; avisar previamente o ISIS (Inteligência do Paquistão) de cada ataque dos drones.

Surpresa! O Paquistão disse não, pela voz do comandante do exército, o general Ahmed Suja Pasha

Suas exigências continuam de pé.

Como isso significaria a perda dos 3 bilhões anuais, Obama está diante de uma situação à qual não está acostumado: um país pobre recusando os bilhões americanos.

Depois dele recobrar-se do choque, espera-se que formule uma nova proposta.

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