O alvo é o Hamas.

O provável rapto de 3 jovens israelenses caiu do céu para o primeiro-ministro Netanyahu.

Está lhe dando uma chance de ouro para destruir o Hamas e a unificação dos movimentos palestinos.

Com o pretexto de caçar os raptores e salvar os raptados, o exército israelense  já prendeu muitos líderes e militantes do Hamas. Até mesmo antigos ministros e parlamentares.

Junto com eles, foram levados manu militari professores universitários, militantes de direitos humanos, mulheres e crianças.

Numa busca de casa em casa, 330 palestinos já foram detidos e dois mortos pelo exército, inclusive um adolescente de 15 anos de idade, acusado de atirar pedras e coquetéis Molotov nos soldados. Não sei se a acusação é verdadeira – ainda recentemente, as forças de segurança israelenses foram pegas numa mentira quando negaram uso de munição real na morte de dois manifestantes que não ofereciam perigo.

Claro, ninguém imagina que tanta gente possa ser suspeita – mas exércitos de ocupação não costumam se preocupar com detalhes assim quando reprimem populações dominadas.

Netanyahu logo acusou o Hamas, sem apresentar provas. John Kerry apressou-se a concordar, afirmando que havia evidências de culpa dos rebeldes. Também não disse quais eram.

Elevando o tom de voz, Netanyahu incluiu o próprio Abbas no rol dos culpados, por ter se unido aos ditos terroristas do Hamas.

Os chefes desse movimento negaram veementemente  sua responsabilidade na ação.

E contra-atacaram, taxando a blitz israelense de “flagrante violação de todas as convenções internacionais e um ato covarde”.

Abbas ficou numa situação difícil.

Para ele, a solução do problema palestino só pode vir com um sinal verde de Israel, sob pressão da comunidade internacional, especialmente dos EUA.

Mas não pode passar por fraco perante o povo palestino.

Optou por agradar ambas as partes.

Condenou o seqüestro e declarou que não ficaria nisso: “Estamos nos coordenando com Israel para conseguir o retorno desses jovens, porque eles são seres humanos e nós queremos proteger as vidas dos seres humanos.”

Mas também, tomou uma posição coerente com sua liderança na Cisjordânia, acusando Israel de usar o sumiço dos jovens israelenses como “uma desculpa para impor dura punição contra o nosso povo, submetendo-o a um assédio em violação das leis internacionais. A política de punição coletiva efetuada pelo governo de ocupação contra nosso povo e nossa terra requer condenação pelo mundo inteiro.”

Hamas e Abbas não deixam de ter razão.

A prisão de pessoas a esmo, às vezes no meio da noite, castiga todos os palestinos, que vivem em sobressalto temendo que chegue sua vez. Particularmente as crianças dos lares invadidos; elas já sofrem danos psicológicos, dificilmente reversíveis.

Não vejo justificação para Abbas “coordenar sua ação com Israel” em invasões de lares e prisões em massa de gente   inocente,  que são exatamente as punições coletivas condenadas por ele por violarem leis internacionais.

Está certo que Abbas ajude na busca. Mas por sua conta, com seus próprios agentes de segurança.

O Hamas não deixou esta saída errada de Abbas passar em branco.

Através do seu porta-voz considerou as declarações de Abbas “prejudiciais aos interesses palestinos.” E apelou para que ele voltasse atrás. Não deixando de reafirmar seu compromisso com a união ao Fatah, de Abbas.

Que agora corre sérios riscos.

Depois da assinatura do acordo, líderes e militantes do Hamas puderam aparecer na Margem Oeste, nos dois setores de administração palestina, para discutirem as diretrizes do novo governo de união e os detalhes das próximas eleições parlamentares.

Com a blitz israelense, eles foram ou presos ou tiveram de cair na clandestinidade.

Como poderá um novo governo palestino funcionar tendo os líderes de um dos dois movimentois fora de ação?

Além disso, a posição do Hamas ficou difícil.

O seqüestro veio numa hora muito ruim, agora que tentam limpar sua imagem internacional.

O Hamas negou participação, mas tinha de levar em conta a opinião pública palestina, francamente hostil a Israel.

Por isso, fez uma declaração dúbia.

Chamou as acusações de Netanyahu de “estúpidas”, mas não censurou o seqüestro. E ainda afirmou: “Independentemente de quem foi responsável… o povo palestino tem o direito de usar todas as formas de resistência para libertar a nação e o povo.”

Ou seja: não fui eu, mas não sou contra.

O bastante para o governo de Israel demonizar ainda mais o Hamas.

Enfurecer contra ele a população israelense já indignada com o rapto dos jovens.

Dar motivos para que a Casa Branca, os políticos do Israel,first e até o povo americano sigam  considerando o Hamas um bando de sanguinários fanáticos.

A estas alturas, mesmo que se descubra que foram apenas grupos radicais do Hamas, de oposição aos líderes,  os autores do crime, a culpa respingará sobre o movimento.

Abbas seria pressionado por Obama para romper a unificação dos movimentos palestinos.

Como tem acontecido, ele acabaria cedendo.

A essas alturas, como havia prometido processar Israel no Tribunal Penal Criminal, caso as negociações falhassem, teria de cumprir sua palavra.

Aposto que vai deixar por isso mesmo e topar uma nova rodada de negociações de paz com Israel, sob os auspícios de John Kerry…

Com os maus resultados previstos.

Nesse quadro, o povo palestino perderia de uma vez a esperança de uma solução pacífica para a questão da sua independência.

E o Hamas?

Adotaria a resistência civil pra valer? Partiria para uma nova intifada? Continuaria se limitando a denúncias e acusações contra Israel?

Prefiro não bancar o Nostradamus e ficar por aqui.

 

 

2 pensou em “O alvo é o Hamas.

  1. Vergonhosa a hipocrisia deste site. Há provas de que o Hamas sequestrou e assassinou os meninos com apoio popular. Basta observar o caso da ambulância. Israel tem o total direito de se defender desses terroristas.

    • As provas de Netanyahu contra o Hamas são absolutamene frágeis.
      Sugiro que leia meu novo artigo a respeito que acabo de editar no site olharomundo.

      Luiz Eça

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