Desde a segunda metade do século 20, Israel é quase unanimidade nos EUA.
Sempre contou com o apoio da maioria absoluta do povo americano.
Por sua vez, os poderosos lobbies pró-Israel dominam o Congresso, além de contarem sempre com a boa vontade da grande mídia.
Considerado como aliado especial pela Casa Branca, o governo de Telaviv acostumou-se a pintar e bordar, violando leis internacionais e direitos humanos à vontade, sem maiores problemas.
O bom Tio Sam permaneceu ao lado dos israelenses, tivessem ou não razão, impedindo condenações na ONU em pelo menos 70 situações.
De repente, as coisas parecem estar mudando.
O primeiro-ministro Netanyahu abusou.
Sua recusa em parar com os assentamentos (ilegais), a sabotagem das negociações de paz com os palestinos, o massacre de Gaza e, finalmente, seu ataque à política externa do presidente Obama em pleno Congresso dos EUA pegaram muito mal junto ao povo americano.
E recentes pesquisas começam a mostrar as dimensões dessa irritação.
O apoio da maioria da população ao acordo nuclear com o Irã, que o premier Netanyahu combate com fúria, aparece claro em pesquisa do Washington Post/ABC : 57% são a favor, apenas 31%, contra.
66% dos democratas aplaudem.
O acordo vence até mesmo entre os republicanos : 47% x 43%.
A vasta propaganda israelense- pintando o programa nuclear do Irã como uma ameaça também aos EUA, que deve ser reprimida militarmente, se necessário, conseguiu convencer apenas 29% da população, conforme pesquisa CBS News. 66% acham que essa ameaça pode ser contida sem uso da força.
A Pew pesquisou o prestígio nos EUA do próprio primeiro-ministro Netanyahu.
Só 31% declaram ter uma imagem favorável dele.
Entre os jovens, faixa de 18 a 29 anos, a má imagem do chefão israelense é ainda pior: meros 19% o admiram.
Uma pesquisa da CNN OIRC, publicada em fins de fevereiro, já mostrava que Telaviv não contava mais com aprovações gerais: 66% dos americanos querem que o governo adote uma posição neutra nos conflitos entre Israel e palestinos.
Não se deve esperar que os congressistas acompanhem logo essa tendência.
Eles ainda continuarão sensíveis às posições dos lobbies pró-Israel, com suas milionárias dotações de campanha.
No entanto, saber que tem o povo a seu lado dará forças ao presidente Obama para mudar a política externa americana, como havia prometido na sua longínqua primeira campanha eleitoral.
Algo na linha do que George Washington disse em seu discurso de despedida da presidência dos EUA: “Nada é mais essencial do que excluir antipatias permanentes e inveteradas contra determinadas nações e apaixonados envolvimentos com outras.”