Em fevereiro de 2011, Scott Walker, governador do estado de Wisconsin, eleito com apoio maciço do Tea Party, apresentou leis que eliminavam direitos dos empregados públicos.
Alegando que era preciso reduzir as despesas públicas, pretendia não só aumentar as contribuições dos funcionários para seguro de saúde e pensões, como também proibi-los de discutir aumentos coletivos.
Reagindo, os sindicatos, com total participação das associações estudantis, realizaram uma grande campanha de protestos, com manifestações de até 100 mil pessoas. Houve choques com a polícia e repressão violenta.
Diante da afirmação do governador de que as despesas com pessoal eram responsáveis pelo déficit público, os manifestantes respondiam: ”Culpe Wall Street”, não os trabalhadores”.
Foi um dos maiores movimentos de massa da História americana, que, inclusive, mobilizou o apoio dos liberais de todo o país, por se opor a ataques contra direitos individuais.
Mas Walker contava com a maioria dos legisladores estaduais e suas leis passaram.
Os opositores não desistiram e com uma petição de 1 milhão de assinaturas (cerca de 40% do eleitorado da anterior eleição governamental) apelaram por um recall.
Esse instituto do direito americano permite a possibilidade da revogação do mandato de um governador por seus eleitores.
No caso de Wisconsin, o recall seria decidido numa eleição, a qual concorreram o republicano Walker, contra Tom Barrett, do Partido Democrata.
Na campanha eleitoral, o elevado número de signatários do pedido de recall indicava uma provável vitória da oposição democrata.
Mas para o Partido Republicano, vencer era crucial para a campanha de Romney no pleito presidencial de novembro pois Wisconsin tinha ficado com Obama na sua eleição.
O partido empenhou-se ao máximo, contando com o decidido apoio de Wall Street e dos principais bilionários. 70% dos recursos da campanha vieram de fora do estado.
A propaganda de Walker baseava-se na alegação do seu sucesso em reduzir o déficit do estado – argumento forte nos tempos de crise do país.
Procurava dividir o movimento trabalhista, garantindo que seus cortes de despesas só incidiam sobre os empregados públicos.
Os demais trabalhadores seriam beneficiados pois os cortes trariam equilíbrio nas contas do governo, favorecendo a economia em geral.
Além disso, mensagens bem estruturadas, rotulavam como eficientes as reformas do governo, contrastando sua austeridade com o pretenso espírito dissipador dos democratas, que jogavam dinheiro fora com serviços públicos caros. E até com o próprio recall, considerado pelos republicanos como inútil e caro.
Essa linha de pensamento era divulgada pela maior campanha de propaganda já vista no estado, que aplicou 8 vezes mais recursos do que campanha democrata.
E o apoio da rede Fox foi substancial, tendo o candidato republicano aparecido na sua programação de TV E Rádio com grande freqüência.
Por sua vez, a campanha democrata procurou fazer uma transição do radicalismo das manifestações de protesto de 2011, baseadas na “solidariedade”, para uma postura mais bem comportada.
Os 40% que haviam exigido o recall deixavam Barrett numa posição confortável. A decisão estratégica foi evitar arriscá-la, partindo para uma campanha pouco agressiva.
Durante meses, os democratas divulgaram mensagens como a importância de uma educação pública de qualidade e do respeito aos direitos individuais.
Enquanto isso, nada se falou sobre a torrente de milhões enviados para o candidato Walker pelo 1% mais rico do país, os verdadeiros responsáveis pela crise econômica.
O resultado final foi a vitória dos republicanos por 53,5% contra 43,5%.
Os analistas acreditam que Walker conseguiu dividir os votos dos trabalhadores sindicalizados e ganhar a classe média, com salários anuais entre 50 mil e 100 mil dólares.
Todos consideram a enorme desproporção dos capitais investidos na campanha como o fator decisivo.
Para muitos, ainda, o marketing de Walker foi mais eficiente.
Aparentemente, a maioria do eleitorado aceitou a argumentação de que o atual governador seria mais competente para lidar com as questões econômicas do estado.
Há também quem culpe Obama pela derrota, por sua omissão na campanha. Ele não fez uma única visita eleitoral ao Wisconsin, nem enviou mensagens de apoio a Barrett.
Alguns creditam que ele ficou de fora, pois sabia que o resultado seria negativo.
Para outros, Obama não quis associar sua imagem ao radicalismo das manifestações de massa, com as quais sindicalistas e estudantes forçaram o recall.
Não dá para dizer que Barrett ganharia, caso Obama o apoiasse decididamente.
De qualquer forma, os riscos que o Presidente correria seriam ponderáveis.
O que lhe resta é tirar lições da derrota.
Escreve John Nicholls no “The Nation”, de 7 de junho: “O resultado de Wisconsin mostram que o grande capital pesa mais – talvez muito mais – agora mais do que nunca. Ele pode pegar uma candidatura desgastada como Scott Walker e reposicioná-la como um vencedor. São boas novas para Mitt Romney.”
Não para Barack Obama.
Servem para ele aprender que sua boa posição nas pesquisas está longe de garantir a reeleição.
Desta vez, não contará com os abundantes recursos que milhões de americanos comuns trouxeram a sua campanha anterior, entusiasmados com sua pregação de mudança.
Pelo contrário: terá de enfrentar os bilionários adeptos de Romney, que não admitem de jeito nenhum perderem as vantagens fiscais que Bush lhes concedeu e Obama tenta cortar.
Eles demonstraram no recall de Wisconsin que estão dispostos a empenhar-se a fundo, a gastar muito mais do que jamais se gastou numa campanha presidencial.
Por mais moderado que Obama foi, esquecendo a maioria das audazes mudanças prometidas, ainda assim é inaceitável para esses modernos barões.
Nas vicissitudes atuais da economia eles temem ser obrigados a fazerem sacrifícios.
Com Romney no poder, isso dificilmente acontecerá.