Ni gentes sin casa, ni casas sin gente.

Nos primeiros anos do século 21, o setor imobiliário da Andaluzia teve um desenvolvimento extraordinário.

Construíram- se grande número de casas e apartamentos, estimulados pelo Turismo, e de conjuntos habitacionais, por ação do governo socialista, principalmente.

Mas veio a crise e tudo isso ruiu.

Os investimentos pararam e o desemprego se espalhou, deixando muitas famílias sem ter como pagar as prestações dos seus imóveis.

Os despejos se sucederam em grande número, sem que as casas perdidas por seus moradores encontrassem compradores.

Somente em Sevilha, capital da Andaluzia, há hoje 144.300 vazias.

Numa delas morava Toni Rodrigues.

Participando das manifestações dos Indignados, que protestavam contra a  rigidez da política econômica do governo, ela discutiu seu problema com alguns dos líderes e assim surgiram as Corralas – ocupação de prédios vazios por espanhóis sem teto.

Começaram, em maio de 2012, invadindo com um grupo de famílias um bloco de apartamentos da construtora Maexpa, que, aliás, estava em situação periclitante.

Sua vida não foi fácil.

Logo nas primeiras semanas, foram cortadas a energia elétrica e a água encanada, sendo obrigados a usar uma fonte próxima.

Com a venda dos imóveis ao Banco Ibercaja, a assim chamada Corrala Utopia passou a negociar com ele, tendo por si o apoio da população da cidade.

Em vez de assumir os ônus e o desgaste de imagem, processando a  popular Corrala para conseguir um imóvel que não se vendia, o banco parece preferir um acordo, com pagamentos e prazos menores, mas certos.

Com este resultado, a ideia das Corralas está se espalhando pela Espanha. Já surgiram 4 outras em Sevilha e , em janeiro, também em Málaga.

Novas Corralas devem surgir pois a crise imobiliária da Andaluzia repete-se em todo o país.

Com 5 milhões de desempregados, existe cerca de 1 milhão de residências vazias.

Os bancos espanhóis já tiveram de promover as hipotecas de cerca de 100 mil delas.

A multiplicação delas não é bom nem para a sociedade, nem para os bancos.

Por isso, acredita-se que alguns deles poderão aceitar negociar com os sem teto.

Ao lado do movimento das Corralas, há uma forte opinião pública que cresce em seu apoio.

Não há quem discorde do que diz o manifesto de apresentação da Corrala Utopia: “Cremos que os poderes públicos deveriam, agora mais do que nunca, fazer todo o necessário para garantir o Direito a uma Moradia Digna que, reconhecido na Constituição, na Declaração de Direitos Humanos e no Estatuto Andaluz, se fere sistematicamente  em nossa sociedade.”

Difícil dizer se na presente conjuntura, o governo quer ou pode atendê-los.

 

 

 

 

 

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