Nasce uma estrela.

Domingo passado, pela primeira vez desde o 11 de setembro, o Congresso enfrentou a comunidade de segurança, reduzindo seus poderes.

Até agora, tudo que foi proposto para limitar os direitos individuais em favor da luta contra o terrorismo,  mesmo as guerras do Iraque e do Afeganistão, foram docilmente aprovadas pelos congressistas.

Não tinham coragem de enfrentar o clima de terror inspirado pelo atentado às Torres Gêmeas.

A  provisão 215 da Lei Patriótica – que permitia a espionagem pela NSA de gravações telefônicas de milhões de inocentes americanos- foi encerrada por decurso de prazo.

Uma lei bi – partidária que defendia sua reforma, exigindo um mandado da FISA (tribunal secreto com jurisdição sobre a aplicação da Lei Patriótica)  para o governo investigar  telefonemas, foi rejeitada, embora contasse com todo apoio do governo Obama e das hierarquias dos dois partidos.

Não iria mudar muitas coisas.

É sabido que a FISA, que conduz seus processos em segredo, tem concedido cerca de 99% dos mandados requeridos pela comunidade de segurança.

O significado da ação congressual  foi bem sintetizado pelo senador democrata Ron Wyden: “A morte deste arrastão de segurança é uma vitória do princípio de que os americanos não devem sacrificar a liberdade para ter segurança.”

O grande herói dessa luta travada pela ideologia liberal da Constituição americana, contra excessos típicos de estados policiais, foi o senador Rand Paul.

Mais do que no proselitismo da derrubada da provisão 215, ele foi decisivo na obstrução que forçou a queda desta medida pelo fim do seu prazo legal de validade.

No dizer do jornalista Justin Raymondo (Antiwar, 2 de junho),”Paul está realizando o que é na verdade – sem exagero – um ato heróico de desobediência civil sem precedentes na história da nação.”

Ele surge assim como a nova estrela no firmamento dos pré-candidatos a presidente dos EUA.

Rand Paul está longe de ser bem visto entre seus correligionários do Senado, a maioria falcões radicais.

Os chefões do Partido Republicano costumam vê-lo como um adversário das causas partidárias de estímulo às guerras americanas e de mão pesada no trato com os países não-alinhados com Washington.

Paul responde lembrando que o correto é ele, pois defende os principais valores republicanos: a paz e a limitação dos poderes do Estado em todas as áreas, e não somente na economia, como fazem os neo-conservadores atualmente em alta no partido.

Desse modo, o senador vem ganhando a simpatia dos democratas e dos independentes, embora arriscando-se a perder grande parte dos republicanos.

Simpatia que deve crescer substancialmente depois de sua vitória pessoal contra a espionagem dos telefonemas de milhões de americanos.

Fato da maior importância agora quando ele começa a disputar a indicação dos republicanos para presidente contra 8 adversários, todos eles favoráveis a posições belicosas pela hegemonia mundial; à guerra ao terror sem fim, nem limites; à proteção dos interesses das corporações, entre outras idéias do receituário neo-conservador.

É em política internacional que Rand Paul mais se distingue do rebanho formado pelos demais pré-candidatos, todos da direita raivosa.

Num partido responsável pelas guerras do Iraque e do Afeganistão e que bate o bumbo pelo endurecimento da Guerra Fria contra a Rússia e a China, ele pregou uma postura oposta em reunião com veteranos:  “Pelo bem do nosso país…a missão da América deve sempre manter a paz, não policiar o mundo.”

Coerente com seu pacifismo, Rand Paul chegou a propor a redução dos gastos militares americanos e o corte à ajuda (em geral militar) a outros países, para reduzir o déficit dos EUA durante a grande crise econômica.

Ele condenou as guerras do Iraque e da Líbia e votou contra o fornecimento de armas aos rebeldes sírios anti-Assad, ações militares fracassadas,  pois teriam acabado por abrir caminho ao terrorismo.

Também foi contra o envio de armamentos ao governo militar egípcio que seria proibido face a leis americanas por se originar de um golpe de estado.

Através de firme obstrução, procurou impedir a aprovação pelo Senado de John Brennan como diretor-geral  da CIA devido a sua participação no programa de lançamento de drones, questionando seu uso contra cidadãos americanos.

Enquanto Obama pragmaticamente faz de tudo para agradar ao reino da Arábia Saudita, Rand Paul afirmou que os EUA deveriam boicotá-la “por serem os sauditas os principais financiadores dos terroristas no mundo.” O que foi comprovado recentemente quando se tornou conhecido o enorme apoio financeiro e militar saudita aos grupos Nussra e Ahrar al-Sham, ligados à  al-Qaeda, para combater o governo da Síria.

Por fim, apoiou as preocupações dos negros americanos quanto a um sistema judicial com claro viés racial.

Tudo isto dá a Rand Paul credenciais suficientes para disputar com Hillary Clinton os votos dos liberais e progressistas independentes e mesmo democratas.

Evidentemente, ele precisa antes contar com os eleitores republicanos para vencer seus oito adversários.

O que parecia difícil.

Inicialmente, Paul era considerado carta fora do baralho.

Mas sua candidatura cresceu rapidamente. Ele aparece em primeiro nas pesquisas do cáucus (eleição interna do partido) de Iowa e segundo em New Hampshire.

Depois do episódio da derrota da espionagem dos telefonemas particulares pelo governo, tudo deve melhorar ainda mais para ele.

Argumenta-se que seu comprometimento com Israel passa da conta.

Em visita a esse país, ele defendeu os assentamentos, alegando que o governo americano não tinha o direito de dizer onde os israelenses poderiam construir.

Mais grave: neste ano, reapresentou lei proibindo que os EUA prestassem ajuda aos palestinos a menos que reconhecessem Israel como país sionista independente e não tivessem qualquer ligação com movimentos terroristas (leia-se o Hamas).

Lembro que Hillary Clinton é uma tradicional amiga de todo o governo Israel de plantão.

Mas, ao contrário de Paul, como secretária de Estado ela defendeu coisas como o bombardeio da Síria, a entrada na guerra da Líbia e linha dura com o Irã.

 

 

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