O decreto que dava super-poderes ao presidente Morsi conseguiu unir contra ele uma oposição antes totalmente dividida.
Grandes demonstrações de massa na praça Tahir exigem a retirada: do decreto e agora também do próprio Morsi.
A Suprema Corte Judiciária rejeitou categoricamente os super-poderes que limitam os dela.
Líderes da Europa Unida falam em reduzir a ajuda anual já concedida ao Egito.
Os republicanos exigem a supressão da ajuda americana caso Morsi não volte atrás. E Victoria Nuland, porta voz do Departamento de Estado, afirma que, caso o Egito saia do caminho democrático, vastos auxílios internacionais poderiam ser cancelados. O que, no contexto atual soa como uma ameaça.
Toda esta pressão é reforçada por insinuações da embaixada americana no Cairo: “O povo egípcio deixou claro na revolução de 25 de janeiro que já passou por ditaduras demais.”
Mas Morsi, até agora, resiste.
Na segunda-feira, 26 de setembro, reuniu-se com os mais altos juízes, na tentativa de convencê-los do acerto de sua decisão.
Não deu certo.
Para o Ministro da Justiça, Ahmed Mekki, as partes haviam chegado a um acordo: os “super-poderes” somente se refeririam a “questões de soberania”.
No entanto, depois da reunião, enquanto o presidente garantia que mantinha o decreto, especialmente para proteger o comitê constitucional, os juízes declaravam estarem insatisfeitos com o termo “questões de soberania”, por ser extremamente vago.
Os chefes do Poder Judiciário esperam modificações no decreto, que preservem ao menos em parte sua capacidade de controlar os outros poderes.
Morsi parece inabalável.
Ele não está tão sozinho quanto parece.
Ainda tem o apoio de grande parte da população, da maioria dos governos dos países islâmicos e, o que é importante: do FMI, que ainda ontem (27/11) informou que seu empréstimo de 4,8 bilhões de dólares continua de pé, indiferente aos protestos da praça Tahir e de Washington, desde que não haja maiores alterações nos compromissos de reformas assumidos pelo Egito.
A crise política pode ser resolvida em 4 de dezembro, quando o Conselho de Estado, a mais alta corte administrativa deverá julgar o caso.
Digo “a crise pode ser resolvida” porque não é certo que qualquer das partes aceite um veredicto desfavorável.