No domingo, dia 27, uma grande passeata de protesto agitou Casablanca, a maior cidade do Marrocos.
Eram 50 mil pessoas para a oposição, e de 15 a 20 mil para o governo.
Organizada pelos sindicatos, a multidão acusava o Primeiro Ministro Abdellah Benkirame de não cumprir suas promessas de justiça social.
O povo exigia diálogo, aumentos salariais e melhoria das condições de trabalho. Mais importante do que isso: expressava franca decepção com os resultados da Primavera Árabe.
São as primeiras chuvas e trovoadas que ela enfrenta no Marrocos.
Ao contrário do que aconteceu na Tunísia, no Egito e na Líbia, a Primavera Árabe marroquina não foi marcada por conflitos com os poderes despóticos que dominavam os países do Magreb.
Houve uma transição pacífica.
Mas ela não se processou de forma integral, porque resultou num governo que manteve o regime monárquico.
Diante das primeiras manifestações populares pedindo reformas democráticas e sociais, o rei Mohamed VI, há 12 anos no governo, atendeu prontamente.
Procedeu a algumas medidas liberalizantes, que até reduziram seus poderes absolutos, inclusive o de nomear o Primeiro Ministro de sua preferência, que passará a ser necessariamente membro do partido vencedor das eleições.
O rei reduziu alguns poderes, mas manteve uma série deles que lhe dão força semelhante ao do presidente numa república, com a vantagem do seu cargo ser vitalício.
Realizadas as eleições parlamentares, o vencedor foi um partido islâmico moderado, o Partido do Desenvolvimento e da Justiça, que derrotou a coalizão conservadora de apoio ao rei. E obteve, assim, o controle do Parlamento.
Sua plataforma partidária era instaurar um regime de justiça social, dando ênfase à redução dos altos níveis de desemprego e de analfabetismo.
Mas as mudanças não vieram.
Em abril, o parlamento aprovou o orçamento para 2012 que reduz o deficit público e prevê aumento significativo nas despesas sociais.
A crise econômica da Europa, o principal importador dos produtos marroquinos, a grande queda do turismo – uma das principais fontes de renda e uma seca implacável, que devastou a agricultura, enfraqueceram a economia do país.
Espera-se para este ano um crescimento de 3%, pouco para atender às grandes demandas da população.
Num esforço para atender, pelo menos, às necessidades básicas da população, o governo aumentou pesadamente os subsídios, em especial dos alimentos.
O que diminuiu bastante seus recursos para investimentos.
Na sua primeira e grande manifestação de protesto, a oposição pede diálogo com o governo.
Isso, certamente, poderá ser concedido.
Mas não muito mais.
Pingback: Notícias – Primavera Árabe – caiohistoria