Hoje, o Estado na Líbia é pouco mais do que uma ficção.
O governo central tem autoridade de fato sobre a capital, Tripoli, e mais algumas áreas nas redondezas.
Ainda assim, autoridade limitada.
Movimentos de jihadistas, inclusive da al-Qaeda dominam regiões inteiras em todo o interior.
Mesmo na capital eles controlam várias zonas da cidade.
Estes milicianos foram equipados pelo Ocidente com modernas armas para combater Gadafi. e
Terminada a guerra, eles as conservaram, apesar dos esforços do governo em conseguir que as entreguem às autoridades públicas.
Armamentos militares, doados pelos EUA ao exército nacional, desapareceram e estão hoje nas mãos de grupos jihadistas.
Entre eles, conforme fontes do Departamento de Estado americano e das forças armadas informaram à Fox News, estão os modernos veículos GMV, equipados com GPS, canhões e lançadores de granadas, e também centenas de pistolas Glock e rifles M4.
O que mais preocupa é o fato desses movimentos radicais estarem agora de posse de armamentos de tecnologia e poder de fogo tão avançados que somente umas poucas nações possuem.
Teme-se mesmo que eles pretendam usá-lo para tentar derrubar o governo líbio.
Por enquanto, as milícias contentam-se em praticar atentados, travar combates, ameaçando as instituições públicas e levando o pânico ás regiões onde atuam.
A cidade de Bani Walid, por exemplo, foi saqueada repetidamente por diversas milícias. A última, vinda de Misrata, provocou a fuga da maior parte da população, temendo por seu destino.
Em fins de abril, milícias armadas cercaram os ministérios do Exterior e da Justiça, proibindo a entrada de pessoas durante mais de uma semana. Exigiam a aprovação de um projeto que impedia funcionários da era Gadafi de participarem do governo, além de mudanças no ministério.
O que acabaram onseguindo.
Há um ano atrás, uma outra milícia jihadista invadiu o consulado americano na cidade de Bengazi, matando o embaixador e mais 3 diplomatas.
Num assomo de independência, o governo líbio proibiu o FBI de prender suspeitos e assumiu as investigações do crime.
Depois de algum tempo, foi emitida uma ordem de prisão contra Ahmed Kattallah, líder da milícia apontada como culpada.
Mas ele não foi levado à justiça, continua livre, pois Bengazi está em mãos de milícias jihadistas, que são o verdadeiro poder local.
Desafiando ao Estado, milicianos assassinaram o procurador-geral, coronel Yousseh Asseifar, chefe das investigações dos assassinatos de políticos, soldados e jornalistas.
Diante do crescimento da violência, Mohammed al-Scheik, Ministro do Interior, pediu demissão.
O governo central ordenou que Saif-al-Islam, filho de Gadafi, preso no interior, fosse enviado a Tripoli para ser processado na Justiça.
A milícia Zintan, que o mantém detido, recusou-se a atender ao governo. Diz que irá ela própria processar e punir al-Islam.
Os líderes da província da Cirenaica falam publicamente em separar-se do país, ideia que mobiliza os grupos de milicianos da região.
O governo não pode se impor às milícias e aos poderes tribais e regionais, pois seu exército e sua polícia não tem condições de enfrentá-los.
Apesar disso, uma guerra civil parece inviável, pois há um equilíbrio de forças entre os diversos grupos de milícias e as tribos. Cada um deles tem consciência de que não é forte o suficiente para dominar os outros.
A situação não é melhor na economia, que depende quase totalmente do petróleo (3/4 das receitas públicas).
Greves e ocupações forçadas chegaram a reduzir a produção do país a 10% de sua capacidade e as perdas do governo chegam a 130 milhões de dólares por dia.
Tudo começou com uma greve de trabalhadores em julho, reclamando melhores salários.
A crise ficou mais séria quando grupos armados ocuparam o maior terminal de exportação de petróleo do país, na região leste, denunciando corrupção na empresa estatal.
Os poderes locais também aderiram ao movimento, exigindo maior autonomia e uma melhor participação nos rendimentos do petróleo. Chegaram a tentar vender o produto diretamente ao mercado internacional, por conta própria.
O movimento ampliou-se para as instalações petrolíferas do oeste – com a participação da milícia Zintan – e para o sul- com a ocupação de 2 campos de petróleo por grupos armados de membros das tribos.
Com o crescimento da paralisação nessas regiões, foi necessário reduzir a geração de eletricidade, causando sucessivos blecautes .
A situação chegou a tal ponto, que o Primeiro Ministro Ali Zeidan emitiu mandados de prisão contra os líderes do movimento.
Mas não teve força para se impor.
Optou então por negociar com líderes do movimento.
Conseguiu-se chegar a um acordo quanto à volta da operação dos maiores campos petrolíferos do sudoeste , mas os do leste continuam parados.
A consequência é que a produção caiu de 1,130 milhão de barris de petróleo por dia, em junho, para 575 mil, em agosto, conforme cálculo da Bloomberg.
Com tantos e tão graves problemas, a Líbia não tem muitas chances de sair do caos, a curto prazo.
Falando numa conferência para investidores estrangeiros, em Londres, Zeidan, depois de apresentar o quadro terrível da situação líbia, fez um apelo desesperado: ‘Se a comunidade internacional não nos ajudar a recolher as armas e munições (das milícias), se não conseguirmos ajuda para organizar a polícia e o exército, as coisas continuarão assim por muito tempo”.
A “responsabilidade por proteger”, que deu base à intervenção do Ocidente e dos países do Golfo, parece que não deu muito certo na Líbia.
Trocaram uma ditadura por uma perigosa anarquia, cujos reflexos já se estendem para a Síria e alguns países africanos, onde as milícias radicais, equipadas com as armas da revolução líbia, levam sangue e destruição.
Impossível negar que a intervenção estrangeira foi, na verdade, uma grande irresponsabilidade.
Pelo menos.