Jogo bruto contra a unificação dos movimentos palestinos.

Indignação em Telaviv!

John Kerry declarou que os EUA estão prontos para trabalhar com o governo de união Hamas-Fatah. Marie Harf, porta voz da Casa Branca, justificou a posição americana: disse que Abbas, o presidente da Autoridade Palestina, garantiu que  “o novo governo tecnocrata esta comprometido com os princípios da não-violência, negociações e reconhecimento do Estado de Israel.”

Os EUA deram mais outro motivo para enfurecer os israelenses: o Departamento de Estado não vai interromper sua ajuda aos palestinos.

Claro, os americanos não tiraram o Hamas da sua lista negra.

Mas, afinal, no ministério palestino unificado, formado apenas por tecnocratas – não há um único membro do Hamas.

Nada disso importa para Netanyahu.

Do alto da sua onipotência, ele trombeteou: os americanos “estão sancionando o terrorismo.”

O que é pra lá de discutível.

O Hamas abandonou essa condenável atividade há muito tempo.

Nos últimos três anos, por exemplo, só três israelenses foram mortos por palestinos – nenhum deles membro do Hamas.

E Netanyahu não tem autoridade para condenar o terrorismo.

Ele chegou até a por no céu uma organização dedicada a esse tipo de atividades.

Em 1946, no episódio da criação do Estado de Israel, a região estava sob protetorado do Reino Unido, imparcial entre árabes e judeus.

Revoltados com isso, o movimento israelense Irgun Zvai Lemni lançou um ataque terrorista contra o hotel Rei David, habitado por funcionários ingleses.

Mataram 91 pessoas e mais 45 saíram  gravemente feridas.

Em julho de 2006, Netanyhau e outros políticos de direita participaram de comemorações do 60º aniversário desse atentado terrorista.

Na ocasião, colocaram uma placa no hotel Rei David homenageando o Irgun pelo seu sangrento feito.

Estamos diante de um caso clássico de “padrão duplo”  (Double Standards), prática, aliás, muito observada pelos politicos nos dias de hoje.

Para o primeiro-ministro de Israel, terrorismo é um crime horrível, a não ser quando cometido pelo pessoal dele.

Lembro que foi mais ou menos no mesmo ano da homenagem de Netanyahu aos terroristas judeus que o Hamas decidiu abandonar o terrorismo.

Na verdade, o verdadeiro motivo da raivosa objeção à união Fatah-Hamas é o fato dos movimentos palestinos se tornarem agora mais fortes.

Divididos como estavam desde 2007, era mais fácil para Israel lidar com eles.

Além dos EUA, a União Européia também aprovou a unificação palestina.

Mesmo em Israel, Netanyahu foi contestado.

Yitzhak Herzog, líder do Partido Trabalhista  também criticou. Para ele, a política do primeiro-ministro está  “causando um colapso completo da política externa de Israel. Netanyahu está falando mas o mundo não está ouvindo.”

O primeiro-ministro não está nem aí com todos estes puxões de orelha.

Como resposta à união Hamas-Fatah, anunciou a aprovação da construção de 1.500 novas habitações nos assentamentos e o desbloqueio dos planos de construção de mais 1.800.

Claro, os EUA deploraram, os europeus censuraram, Ban-Ki-Mon condenou.

Foi afirmativo: “Como a ONU reiterou em muitas ocasiões, a construção de assentamentos em território ocupado é ilegal sob a lei internacional.”

E, como sempre, tudo que Israel sofre por seu mal comportamento fica nisso.

Os “padrões duplos” aparecem novamente.

Para a Rússia que teria ilegalmente incorporado a Criméia, sanções e uma chuva de ameaças da parte dos líderes do Ocidente.

Para Israel que ilegalmente constrói  assentamentos em terras que não lhe pertencem, apenas censuras.

Saeb Erekat, representante palestino nas negociações da independência, pediu ação contra a impunidade israelense: “Está na hora de responsabilizar Israel diante das organizações internacionais. Aqueles  que temem as cortes internacionais deveriam parar seus crimes contra o povo palestino, especialmente a expansão de assentamentos.”

Aparentemente ele se engana ao pensar que Netanyahu receia ser denunciado perante o Tribunal Criminal Internacional.

O chefe do governo de Telaviv sabe: por mais que pise na bola, o bom Tio Sam impedirá a tomada de atitudes drásticas contra ele.

Como uma criança mal comportada, que os pais censuram,  mas não castigam, ele procura sabotar os trabalhos do novo ministério palestino.

Já proibiu os novos ministros de passarem por Israel para viajarem entre a Cisjordânia e a  faixa de Gaza.

E dois desses ministros vivem em Gaza.

Os palestinos apelaram para a ONU.

Antes mesmo que a organização interviesse, Netanyahu convocou seu ministério para uma reunião em 8 deste mês.

Objetivo: estudar novas retaliações.

Como sempre, ele conta com a complacência e os padrões  duplos da comunidade internacional.

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