Os republicanos estão merecendo cartão vermelho.
Como não se conformam com o possível acerto entre as grandes potências e os iranianos, apelam para ações desesperadas.
Primeiro propuseram uma lei impondo novas e mais pesadas sanções contra Teerã.
Somando-se a ela, vieram com outra proposta legislativa, digamos, pesada: um eventual acordo teria de ser submetido ao Senado, dominado por republicanos hostis, antes de Obama assinar.
Dando certo qualquer uma dessas estocadas, causaria a interrupção imediata das negociações. Não é possível que os iranianos aceitem novas sanções, nem continuar discutindo um acordo que fatalmente não passaria pelo Senado americano.
Obama não perdeu tempo em anunciar antecipadamente seu indignado veto ás duas leis.
Para derrubá-lo, os votos da maioria republicana não bastavam, seria necessário o apoio de 12 democratas.
Embora muito mais do que 12 deles fossem 100% pró-Israel, temia-se que poucos ousariam enfrentar o presidente Obama, rejeitando sua decisão.
Foi para incendiar o ânimo dos indecisos do Partido Democrata que o premier Netanyahu veio fazer sua pregação anti-Irã no Senado.
Aí, surpresa cruel!
Não deu certo. O tom geral entre os legisladores democratas foi de censura ao atrevimento de um chefe de governo estrangeiro atacando decisões da política dos EUA, em plena capital do país.
Mas a criatividade republicana é fértil.
Alguns dias depois da fala do israelense, o senador Tom Cotton apresentou uma carta aberta aos iranianos, assinada por 47 senadores republicanos.
Ela advertia que, sendo aprovado um acordo nuclear, a alegria dos aiatolás não iria durar muito.
Daqui a dois anos, haveria um novo presidente dos EUA, que com uma só penada cancelaria o acordo. Se não o fizesse, o Senado faria.
Tudo, é claro, na presunção de que os próximos presidente e senado seriam controlados pelo GOP (Great Old Party, o apelido do partido).
A idéia por trás da carta aberta é municiar os políticos linha dura iranianos para pressionarem o governo Rouhani a desistir das negociações com as grandes potências.
Pra que perder tempo em discussões se, mesmo chegando a um acordo, ele viraria poeira daqui a dois anos?
Essa nova cartada republicana não pegou bem junto aos senadores democratas.
De acordo com assessor do senador Cotton, seu chefe tentou obter a adesão de vários deles à carta aberta, mas ficou falando sozinho.
Mesmo entre os republicanos houve quem discordasse como o senador Jeff Flake, que declarou: ”No meu ponto de vista…se deve aproveitar cada oportunidade para se ter um acordo negociado, em vez da alternativa (rompimento das negociações diplomáticas). A alternativa não é boa.”
O próprio senador Bob Crocker, autor da emenda de obrigatoriedade do acordo ser aprovado pelo Senado, foi contra.
Quem surpreendeu foi o senador Rand Paul.
Líder dos chamados libertários do Partido Republicano, ele sempre defendeu o acordo nuclear com o Irã, entre outras causas pacifistas.
Mesmo assim assinou a carta organizada por Cotton, que contraria suas posições.
Pré- candidato à presidência, ele vinha sendo combatido pelos neoconservadores do partido, que o acusavam de ser um estranho no ninho republicano – algo semelhante a um esquerdista.
Depois de uma conversa com Sheldon Adelson, o multibilionário magnata do jogo em Las Vegas, Randy Paul parecia outro.
Adelson é conhecido por seu vultoso apoio financeiro às campanhas eleitorais republicanas e à defesa intransigente dos interesses de Israel.
Certamente usou argumentos eficazes para levar Rand Paul a proclamar identidade com suas idéias belicistas e pró- Israel.
Tudo isso mostra mais uma vez que o War Party e os lobbies israelenses estão a fim de ir com tudo para destruir o acordo nuclear.
Mesmo violando a legislação americana.
O Logan Act, de 1789, diz que comete crime qualquer cidadão americano que entra em correspondência direta com um governo estrangeiro “em relação a quaisquer disputas ou controvérsias com os EUA, ou para derrotar medidas tomadas pelos EUA.”
A 47 senadores enquadram-se perfeitamente nessa lei. O que os tornaria candidatos a sentarem nos bancos dos réus de um processo-crime.
A carta aberta deles pegou muito mal na ONU.
Por sua vez, conforme informação de um executivo da organização à Reuters, ela tomou uma atitude que está sendo considerada resposta à ação republicana.
A ONU estaria se trabalhando para poder levantar rapidamente as sanções que pesam sobre o Irã no caso do acordo nuclear ser aprovado.
As potências e os iranianos tem até 31 de março para conseguirem definir as linhas básicas do acordo, ficando para junho a redação final, com as especificações técnicas.
Ao que se sabe, ainda há algumas divergências.
A opção entre guerra e paz no Oriente Médio depende de serem ou não superadas.