Jogar com cartas marcadas é outra coisa.

Netanyahu garante que são os palestinos que impedem progressos.

Falando à imprensa em Belém, na Margem Oeste, o primeiro ministro israelense os acusou de criarem “crises artificiais” nas negociações e de “fugirem de históricas decisões que são necessárias para se fazer uma paz genuína.”

Referia-se aos enérgicos protestos dos palestinos quanto ao anúncio de que Israel prepara-se para aprovar  a construção de mais 5 mil novos assentamentos na Margem Oeste e em Jerusalém Oriental.

Como se sabe os assentamentos judaicos em terras palestinas  são considerados ilegais pela ONU.

Há muitos anos os dirigentes palestinos vinham exigindo uma moratória na expansão dos assentamentos  para começarem negociações de paz com Israel.

Por pressão do presidente Barack Obama e do secretário de Estado, John Kerry, Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, aceitou negociar mediante a libertação gradual de 104 palestinos presos em Israel.

Segundo Telaviv, o acordo incluiria a renúncia à exigência de paralização na expansão dos assentamentos.

O que eles negam veementemente. Jamais aceitaram.

E John Kerry lhes dá razão, em entrevista realizada também em Belém.

Desmente Netanyahu mais uma vez, ao afirmar que  Abbas “está 100% comprometido com as negociações de paz.”

Em seguida, ele faz um apelo para que Israel limite os assentamentos ao mínimo possível num esforço para criar um clima propício às conversações.

Para os palestinos, esse “mínimo possível” já foi atingido e ultrapassado.

Segundo seus negociadores, ficara claro que Israel promoveria somente  cerca de 1.000 novos assentamentos durante todo o processo de paz. E Telaviv  já construiu mais do dobro.

Os 5.000 a mais seriam uma verdadeira provocação.

Não é só nesse ponto que o premier israelense estaria obstruindo o caminho das  negociações.

Yasser Rabbo, importante dirigente palestino, afirma que desde o acordo de Oslo, em 1993, nas negociações de paz já realizadas, nunca a posição israelense foi tão dura quanto agora.

Diz Rabbo: ”Eles querem segurança em primeiro lugar e as fronteiras do Estado da Palestina devem ser estabelecidas de acordo com as necessidades de segurança de Israel que nunca acabam de suscitar e que destruirão todas as possibilidades de se criar um Estado da Palestina soberano.”

Netanyahu exige a presença do exército israelense na parte do Vale do Jordão, dentro da Margem Oeste,  presentemente ocupada como uma das cláusulas do acordo.

Isso é inaceitável pelos palestinos,   pois a permanência de um exército estrangeiro no interior do território do futuro país violaria sua soberania.

O terceiro problema sério é a contínua demolição de construções palestinas em Jerusalém Oriental.

Ainda na semana passada, as autoridades israelenses puseram abaixo um edifício de 4 andares habitado por palestinos há 10 anos.

O motivo alegado foi a falta de licença de construção, a qual, embora solicitada várias vezes jamais foi  concedida .

Neste ano, 500 propriedades de palestinos já foram demolidas, deixando 862 pessoas sem teto.

Desde a ocupação da Margem Oeste pelo exército de Israel, em 1967, foram demolida s 27 mil habitações palestinas.

O governo de Israel raramente autoriza palestinos  a construírem na Margem Oeste ou em Jerusalém Oriental.

A maioria das áreas foram designadas como “áreas agrícolas” ou “ espaços verdes abertos” onde os palestinos podem possuir terras mas não fazer qualquer tipo de construção.

No entanto, comissões israelenses regularmente requerem a cessão desse tipo de terras para novos assentamentos judaicos.

Tudo isso revela a existência de um programa de colonização da Margem Oeste, visando ocupar  sua maior parte, aumentar a população judaico-israelense da região com a consequente redução da população palestina e das áreas em poder dela.

Hoje já vivem na Margem Oeste mais de 500 mil judeus-israelenses, sendo que os palestinos são 2 milhões e quinhentos mil.

Netanyahu já cansou de afirmar que só aceita devolver aos palestinos uma pequena parte das áreas ocupadas pelos assentamentos.

Seria trágico se Mahmoud Abbas concordasse. E não só para seu povo: também ele seria marcado como traidor, abandonado até pelos setores mais moderados dos seus partidários.

De outro lado, a ideia de 500 mil colonos abandonarem seus assentamentos para serem realocados em Israel me parece próxima do impossível.

Isso sem falar nas outras posições conflitantes entre Israel e palestinos: volta dos milhões de árabes expulsos na criação do Estado de Israel – ocupação militar do vale do Jordão- Jerusalém capital da Palestina  e desmilitarização do novo Estado palestino, especialmente.

Apesar da aparente inviabilidade de uma paz negociada entre palestinos e Israel, no governo Netanyahu, as partes ainda não desistiram.

Ambas querem mostrar ao governo americano, representado por John Kerry, que estão se comportando bem, fazendo tudo para as  negociações darem certo.

E que o adversário age em sentido oposto.

Por enquanto, Abbas está se saindo melhor nessa disputa para ver quem agrada mais Kerry.

O premier  israelense, com seus assentamentos sem fim, vem tornando mais difícil um acerto entre as partes.

Mas ele prefere agradar a extrema-direita do seu país, mesmo ao preço de aborrecer Kerry.

Acredita que, tendo a seu lado o imenso bloco dos senadores e deputados americanos do Israel first, nada de mal virá dos lados de Washington.

 

 

 

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