Nem bem Trump tomou posse, os generais do seu governo começaram a protagonizar papéis além do job description dos seus cargos.
Isso foi notado especialmente na política externa, ao ponto de obscurecerem Rex Tillerson, o secretário de Estado, a quem essa área está afeita.
Os generais Jim Mattis, secretário da Defesa, John Kelly, secretário da Segurança Interna e Joseph Dunford, chefe dos estados -maior das três forças, rapidamente formaram aliança, posteriormente ampliada com a inclusão do general McMaster, para conselheiro-chefe de segurança nacional. “Em jantares de trabalho e reuniões com o presidente Donald Trump, eles procuram guiar o novo líder e novato em política externa (Business Insider, 24 de fevereiro). ”
Receptivo, The Donald ampliou o espaço deles no seu governo.
Deu a Mattis sinal verde para os comandantes lançarem missões sem perderem tempo com aprovações burocráticas (Daily Beast, 1 de março).
Isso ficou claro no episódio do bombardeio no Afeganistão com a MOAB (“a mãe de todas as bombas”), quando Trump informou que já havia dado a seus chefes militares total autorização para ações pontuais no exterior (Político,, 13 de abril).
Com a nomeação do general McMaster para conselheiro- de segurança nacional, o poder dos generais cresceu.
De cara, McMater afastou Steve Bannon, o poderoso estrategista-chefe de Trump, do Conselho de Segurança Nacional. E readmitiu o general John Dumford e o chefe da inteligência nacional, Dan Oats, anteriormente descartados por Bannon.
O general foi além.
Quando o presidente sugeriu que a Coreia do Sul deveria pagar aos EUA pela instalação do sistema anti-míssil THAAD, McMaster o desmentiu em público. Lembrou que, segundo um acordo, os EUA ficariam com a conta.
Trump limitou-se a praguejar intra muros e a um telefonema irritado para o conselheiro, que havia jogado fora a política presidencial de fazer os aliados pagarem pelas despesas militares dos EUA nos seus países.
Mas a posição de McMaster prevaleceu. Seria preciso garantir a defesa sul-coreana como estratégia para desanimar a agressividade de Kim-Jong-un (não deu certo, Kim aumentou suas ameaças e o novo presidente da Coreia do Sul fala emdevolver o THAAD).
Seguir as orientações militares na área externa não me parece um bom caminho.
Militares não são diplomatas. Eles são treinados para encarar conflitos com o uso da força das armas.
A política dos EUA tem sido buscar a hegemonia mundial. Lidar com países que se opõem a esse objetivo é tratado pelos militares como uma guerra, que deve ser vencida, priorizando soluções militares.
O que inclui, desde intervenções armadas, ataques pontuais, ações de comandos, drones, golpes de estado até exibições de força, ameaças de ataques e armar aliados.
O vice, Mike Pence,, embora civil, tem uma frase que define essa filosofia: ”A paz chega através da força.”
Nesse contexto, a diplomacia é vista, na maioria dos casos, como recurso menor.
É possível atribuir à grande influência dos generais sobre o governo Trump ao fato dele ter abandonado sua pregação pacifista. Lembro o discurso em Fayetteville, onde, recém-eleito, prometeu acabar com a política de “intervenção e caos” dos EUA no exterior.
Coerente, ele deveria parar de vender armas para a Arábia Saudita bombardear o povo do Iêmen. Ainda mais levando em conta o que disse, em 2011: “o regime saudita, o maior financiador mundial do terrorismo, e o governo saudita usam nossos petrodólares, nosso próprio dinheiro, para financiar o terrorismo que objetiva destruir nosso povo, enquanto os sauditas contam conosco para protegê-los. “
Mas o general Mattis achava essencial aprofundar o envolvimento americano na guerra do Iêmen para assim derrotar o Irã, aliado dos rebeldes houthis. E Trump passou a tratar o reino saudita como um grande aliado na luta contra o terrorismo mundial.
Na sua visita a Ryadh, The Donald excedeu-se nos rapapés ao rei, acertando a venda de armas no valor de 350 bilhões de dólares, para garantir, durante 10 anos, um imenso poder militar aos sauditas. Ou, dando crédito ao Trump modelo 2011, para financiarem indiretamente o terrorismo mundial…
Quanto à guerra da Síria, muitos se fiaram nas sus declarações eleitorais de que os EUA “iriam parar essa corrida para derrubar regimes estrangeiros a respeito dos quais não sabemos nada. Lutando contra a Síria, acabaremos lutando contra a Rússia. ” Coisa que só americanos muito loucos poderiam querer.
Mattis concorda em tese, mas, na prática, foi ele quem brifou seu presidente sobre as alternativas de retaliação americana ao suposto ataque químico atribuído a Assad. É piada dizer que foram as lágrimas de dona Ivanka, a princesa herdeira, que levaram seu daddy a mandar 59 mísseis contra base aérea do governo sírio.
A guerra do Afeganistão recebeu as mais virulentas críticas do então candidato republicano. Chamou-a de “guerra estúpida” da qual os EUA deveriam sair já.
Nem pensar, sustentam os principais generais. Que se esqueça a promessa de Obama de retirar todas as tropas neste ano de 2017. Os talibãs tem de ser detidos.
Os militares-top acreditam na vitória e convenceram Trump a reforçar os 8.400 soldados que lutam contra os talibãs. A ideia inicial era mandar 5 mil homens, mas agora os chefões militares querem 50 mii, escreve Eli Lake no Bloomberg (Eli é amigão e oficiais yankees de peso).
Fazer as pazes com a Rússia era um ponto básico na campanha eleitoral de Trump. Como se sabe deu errado. Não sem antes uma plêiade de generais afirmarem que a Rússia era o inimigo número 1. Como Mattis, que afirmou estar a ordem mundial “sob ataque, desde a 2ª Guerra Mundial, pela Rússia, grupos terroristas e pelas ações da China no Mar do Sul da China.”
É verdade que o secretário da Defesa acha que é outro o grande inimigo de Tio Sam. “Irã, Irã, Irã”, afirmou três vezes quando perguntado sobre o assunto.
Nisso, Trump e Mattis estão de acordo.
A iranofobia do general vem de longe.
Na luta pela libertação do Iraque, militantes xiitas, aliados de Teerã, mataram soldados americanos.
O general Mattis propôs retaliar com um ataque ao próprio território iraniano. Para o então presidente Obama isso isso seria guerra na certa, despedir o perigoso general tornou-se necessário.
Se fosse Trump, Mattis talvez recebesse sinal verde. Ele vive dizendo que o Irã é o maior promotor do terrorismo mundial (mas, não era a Arábia Saudita ?). O ex-astro de TV quer alterar o acordo nuclear com o Irã- “o pior que os EUA já fizeram”- o qual salvou o Oriente Médio de uma guerra. Se The Donald insistir, pode acabar provocando o que Obama temia.
No conflito com a Coreia do Norte, Trump rejeitou a diplomacia, priorizou posturas militares, enviando dois porta-aviões e dois submarinos nucleares para a região. Além de trocar ameaças com a ditadura norte-coreana, onde não faltou o uso abundante dofamoso “todas as soluções estão na mesa”. Kim-Domg-nu não se intimidou, respondendo no mesmo diapasão.
A sombra da guerra nuclear aterrou o mundo. Felizmente, o general Mattis caiu na real e admitiu que a guerra seria um horror e estava fora das cogitações dos EUA.
Felizmente também, parece que há um dedo dos generais na mudança de Trump na questão palestina. No princípio, 100% Israel, o líder americano começou a falar em independência palestina, contra os assentamentos, além de adiar sine die a antes urgente mudança da embaixada para Jerusalém, que enfurecera os palestinos.
Não sei se vai ficar por isso mesmo e Netanyhahu seguir mantendo os palestinos sem Estado, mas faço força para ter esperanças. e um modo geral, a influência dos generais sobre o volúvel Trump tem ido para o lugar errado. Com o que concorda a maioria da população dos países do Oriente Médio (exceto Israel, é claro).
O cineasta americano, Oliver Stone uma vez disse: “Esqueçam a ameaça. A ameaça somos nós. ”
Não se ganha os hearts and minds dos islamitas, aliando-se, em nome do império, a aliados, violadores dos direitos humanos, como a Arábia Saudita, Israel, Egito e Bahrein.