Em 2009, os EUA ainda pensavam em conquistar os “hearts and minds” dos afegãos.
Por isso mesmo, o comandante de então, general Stanley McChrystal (aquele que foi demitido por debochar do Vice-Presidente), criou regras para limitar os bombardeios e evitar que matassem tantos civis por engano.
Seu sucessor, o general David Petraeus, era mais realista.
Como muitos oficiais reclamavam que a diminuição de ataques aéreos punha suas tropas em perigo, simplesmente amenizou as regras.
E assim os aviões americanos voltaram a atacar casas e bairros suspeitos e a matar muitos afegãos inocentes, os chamados “danos colaterais.”
O Presidente Karsai ficou rouco de tanto protestar.
Mas as coisas continuaram assim até que Obama marcou a retirada das tropas para 2014 e quis negociar com Karsai a permanência de uns 10, 20 mil homens das Forças Especiais para continuar os bombardeios e outra operação detestada pelos afegãos: os raids noturnos.
Karsai começou dizendo “não”, mas acabou concordando com uma condição: os bombardeios e raids teriam de ser aprovados pelas autoridades afegãs e contar com a participação de tropas locais.
Tudo acertado, não demorou 2 meses para o exército americano , sem dar confiança a qualquer autoridade afegã, promover um bombardeio de casas de moradia na província de Logar, matando 18 inocentes camponeses, inclusive 9 crianças.
Pegou muitíssimo mal na população do país.
Karsai, é claro, tinha de ficar ao lado do povo, de cujos votos ele depende para se reeleger.
Indignado, declarou que os americanos não tinham cumprido com sua palavra.
E o porta voz do seu governo afirmou que, caso o incidente se repetisse, o Afeganistão consideraria os soldados dos EUA e da OTAN como “tropas de ocupação”.
Aí, os americanos e a OTAN pediram desculpas. Foi um erro, nos informaram que talibãs estavam escondidos lá.
Seu porta voz, Jamie Graybeal, anunciou novas restrições aos bombardeios de residências suspeitas.
Agora, eles só poderiam se realizar quando, segundo oficiais americanos, “não existissem outros meios disponíveis”.
Não se trata de uma garantia muito tranqüila, pode acontecer que “os outros meios disponíveis” não sejam considerados suficientes para alguma circunstância da guerra.
Aí, cumprir ou não o acordo vai depender de critérios pessoais de chefes militares que podem ser exagerados.
Não se pode descartar novas vítimas inocentes de bombardeios americanos em situações em que não seria necessário.