Ambos são comediantes.
Beppe Grillo, teve essa profissão. Já o “comediante” em Berlusconi é como pode ser qualificado por seu comportamento público.
Ambos são carismáticos, populistas e criticam tudo e todos, apresentando-se como a salvação de uma Itália, devastada por corrupção e ineficiência crônicas.
Ambos são apontados por uma boa parte dos analistas como ameaças à precária estabilidade italiana.
Berlusconi, que já foi 3 vezes primeiro- ministro, prometeu mudar radicalmente o sistema político-economico, causador dos problemas italianos, mas não fez uma só reforma nesse sentido.
Na verdade, aproveitou-se de sua posição para se tornar uma das maiores fortunas do país, um biliardário, proprietário da maior rede de comunicação, integrada por emissoras de TV e rádio, jornais, revistas e até editoras.
Durante seu controvertidos governos sofreu uma variada gama de processos criminais, acusado de associação com a máfia, fraudes fiscais, falsificações contábeis, corrupção e suborno de autoridades políticas e judiciais.
Safou-se de praticamente todos graças a leis que fez aprovar, as quais reduziam a prescrição dos crimes pelos quais era objeto de processos, causando seu arquivamento.
Ou criavam os maiores embaraços à tipificação dos crimes de que o acusavam, tornando seu indiciamento extremamente difícil, se não impossível.
Já Beppe Grillo não tem uma folha corrida tão impressionante.
Inclusive porque jamais ocupou um cargo público.
Ele se apresenta como um anti- político, defensor do italiano comum contra a opressão de um sistema iníquo, a dureza da União Europeia e a implacabilidade da Alemanha.
Beppe se qualifica ambiguamente como um “conservador revolucionário”, o que lhe permite atrair tanto simpatizantes da direita, quanto da esquerda.
Algumas de suas ideias refletem esta flexibilidade. Ele é contra a participação italiana na guerra do Afeganistão, o que agrada aos esquerdistas, porém os irrita quando condena o projeto de cidadania para os filhos dos imigrantes ilegais, nascidos na Itália.
O que se critica mais em Grillo e seu “Movimento 5 Estrelas” é a falta de propostas concretas.
Sua plataforma é quase que exclusivamente negativa.
Fala em destruir o sistema de partidos políticos atual.
Seria substituído por uma vaga forma de democracia direta, baseada na internet…
Os principais adversários são alvos prioritários: Berlusconi, por seus escândalos e atos de corrupção; Monti, pelo aumento dos impostos quando foi governo, e Bersani, pelo esclerosamento do seu Partido Democrático.
Com Berlusconi ou Beppe Grillo, o futuro da Itália na Comunidade Europeia seria sombrio.
Berlusconi prometeu um referendo sobre a permanência do país na zona do euro.
E mais: garantiu a rápida supressão do novo imposto imobiliário, o IMU, criado pelo governo Monti, como essencial para manter a estabilidade financeira nacional.
Por sua vez, Beppe Grillo também mostrou-se um duro crítico das exigências da Comunidade Europeia.
Provavelmente, Bewrsani deverá vencer mas está arriscado a não dispor de maioria suficiente para poder implementar as medidas necessárias para a Itália sair da crise.
Sem sacrificar mais seu povo, como ele promete.
Segundo as leis italianas, o partido que conseguir mais votos no total do país terá ,automaticamente, direito a 54% dos lugares na Câmara dos Deputados.
A regra dos 54% também vale no Senado, mas é aplicada de forma diferente.
Considera-se não o total nacional, mas de cada região.
Conseguindo a maioria, o partido de Bersani não será nunca apoiado pelos direitistas da coalizão de Berlusconi. Nem pelo Movimento 5 Estrelas, como Beppe Grillo cansou-se de afirmar.
Contaria com a pequena frente de partidos de esquerda, liderada pelo ex- promotor anti- máfia, Antonio Ingroia, e o partido de Monti, que, segundo as pesquisas, vem perdendo aderentes dia a dia.
Desta maneira, embora tendo a Câmara a seu favor, Bersani está arriscado a não dispor de maioria do Senado, o que tornará difícil a aprovação da série de medidas que ele considera necessárias para a Itália superar a crise.
O país corre o risco de ficar ingovernável.
Os reflexos na Europa tendem a ser desastrosos pois a Itália não é nenhuma Grécia.
Pelo seu porte, pela importância de sua indústria, de sua economia, ele não pode ser um fardo para a Comunidade Europeia.
Exige-se que seja uma solução.
Espero que o povo italiano, apos quase 20 anos de berlusconismo, demonstre
mais maturidade votando hoje com responsabilidade.