Na semana passada comentei um artigo do Coronel Davis sobre a Guerra do Afeganistão, publicado no The Armed Forces Journal.
Como informei, o coronel percorreu 9.000 milhas, visitando 8 províncias afegãs e entrevistando 250 pessoas, entre militares americanos e afegãos e civis.
Domingo passado, saiu no Rolling Stones o relatório completo do coronel.
É o tema deste artigo.
O general Petraeus, quando comandante das tropas americanas no Afeganistão, declarou que elas haviam interrompido o avanço dos talibãs e revertido a situação em importantes áreas.”
O coronel contesta essa informação. Argumenta que o número de ataques dos insurgentes, de minas encontradas e detonadas e o número de soldados mortos e feridos continuaram a aumentar até 2009, o último ano antes da chegada do reforço de 30 mil soldados americanos e 10 mil da OTAN.
Milhares de líderes e militantes importantes do Taliban mortos ou capturados, rotas de suprimentos dos insurgentes cortadas, descoberta de grande número de armas ocultas e ocupação das principais bases de operação inimigas a partir da primavera de 2010, são outros sucessos apregoados por Petraeus que Davis põe em dúvida.
Se tudo isso fosse verdade, ele replica, “deveria haver uma redução na violência e não um aumento contínuo”.
De fato, em 2011 os totais de ataques inimigos, de explosivos de beira de estrada e de baixas americanas foram respectivamente de 82%, 113% e 164% maiores do que em 2009, último ano antes da chegada dos reforços de 30 mil soldados.
O número de soldados americanos mortos ou feridos passou de 1.764, em 2009, para 4.661, em 2011.
Com base nesses dados, Davis considera que o esforço de guerra dos EUA até agora falhou; apesar do aumento das tropas em 30 mil homens, os insurgentes se fortaleceram.
O coronel americano também critica a avaliação positiva que o Pentágono faz do exército e da polícia afegãos, descritos como forças em constante aprimoramento e próximas de poderem assumir a responsabilidade pela guerra contra os talibãs.
A esse respeito, ele afirma: “O que eu vi, em virtualmente qualquer circunstância, foi uma organização funcionando mal – frequentemente cooperando com o inimigo insurgente…”
Quanto aos soldados americanos que agem em conjunto com a polícia afegã, “raramente saem da proteção dos postos de controle, deixando os talibãs se movimentarem livremente.”
Ele completa suas observações sobre os militares afegãos, afirmando: “Numa série de missões de grande importância, o Exército Nacional Afegão e a Polícia Nacional Afegã muitas vezes fugiram do combate, fugiram devido a boatos ou fizeram acordos secretos com o Talibã.”
O coronel Davis termina seu relatório solicitando que as comissões de Forças Armadas do Senado e da Câmara de Representantes façam uma investigação bipartidária sobre tudo que foi por ele reportado.
Certamente, o Coronel Davis levou muito a sério as lições de ética que aprendeu na Academia de West Point.
Os generais-políticos do Pentágono tem outra forma de ver as coisas.
Preferem anunciar vitórias, mesmo quando não há, para conquistar as graças da opinião pública.
Não é exclusividade dos chefões do Pentágono. Já há 2.500 atrás, na Grécia, o dramaturgo Ésquilo dizia: “Numa guerra, a primeira vítima é a verdade”.
De lá para cá, em todos os continentes, esse princípio continua sendo rigorosamente aplicado.
Até Obama que anuncia a retirada das forças americanas do Afeganistão para 2014 quando sabe que isso não acontecerá.
Tanto é que, na sua proposta orçamentária, prevê despesas para a construção de novas bases militares em território afegão.
Quanto ao Coronel Davis, não acredito que seja punido por revelar verdades tão duras. Seria má política para o Pentágono.
Mas duvido que ele chegue a general.