O jornal Haaretz noticiou que o primeiro-ministro Nethanyau estava decidido a bombardear instalações nucleares iranianas. Teria já conseguido convencer quase todos os integrantes do seu gabinete.
A informação vinha de uma alta autoridade, não-identificada. Que forneceu detalhes, quais os ministros que topavam, quais os que resistiam.
Para surpresa geral, o hiper-agressivo Lieberman, das Relações Exteriores, custara a aceitar a idéia.
Abordado nervosamente pela imprensa, o Ministro da Defesa, Ehud Barak, aquele que riu quando perguntaram se fora o Mossad quem matara 3 cientistas nucleares iranianos, a princípio relutou em responder.
Afinal, foi vago: ”Pode ser criada uma situação no Oriente Médio na qual Israel precise defender seus interesses vitais de uma maneira independente, sem necessidade de apelar a outras forças, regionais ou não.”
No mesmo dia, o jornal inglês The Guardian informou que o Ministro da Defesa do país acreditava que os EUA haviam decidido apressar planos para lançar mísseis contra instalações nucleares iranianas. Como amigo fiel, o ministro havia ordenado que as Forças Armadas se preparassem para coadjuvar os americanos nessa operação. Os chefes militares já estariam examinando os locais mais adequados para situar navios de guerra e submarinos equipados com mísseis de cruzeiro Tomahawk, que participariam de uma campanha por mar e ar.
Assim como os informantes israelenses, os informantes ingleses quiseram permanecer anônimos.
De repente, o ataque de Israel ao Irã pareceu certo e iminente.
Antes de se chegar a uma conclusão tão dramática, convém examinar alguns fatos e raciocinar a partir deles.
Como se sabe, em 11 de outubro, Eric Holder, Procurador-Geral dos EUA revelou que o FBI havia descoberto uma conspiração na qual um vendedor de carros usados iraniano-americano aliciara, em nome da Quds Force, gangsters mexicanos para matar o embaixador da Arábia Saudita.
Apesar das escassas evidências, o Presidente Barack Obama responsabilizou altas autoridades iranianas, prometendo lançar as iras do inferno contra o regime dos aiatolás. Ao mesmo tempo, apelou para o mundo para que o Irã fosse isolado do convívio das nações civilizadas.
Deu-se pouco destaque a um press -release, emitido pelo Departamento do Tesouro, relacionando ao crime mais 4 indivíduos da Quds Force, entre eles Quasem Soleimani. Tratava-se de cidadão com seus fundos no exterior bloqueados e viagens proibidas pela ONU por ações suspeitas. Com base na presença dele na conspiração, David Cohen, Subsecretário para Terrorismo e Inteligência Financeira, escrevia : ”O Irã, mais uma vez, usou a Quds Force e o sistema financeiro internacional para realizar atos de terrorismo…As transações financeiras no coração desta conspiração mostram os riscos que os bancos e outras instituições enfrentam fazendo negócios com o Irã.”
Dois dias depois, Cohen compareceu a uma audiência no Senado anunciando que o Departamento do Tesouro estava “avaliando mais sanções contra o Banco Central do Irã para apertar os parafusos financeiros e aprofundar as penalidades da comunidade financeira internacional.”
E, em 23 de outubro, o operoso Cohen partiu numa turnê pelas principais capitais da Europa, repetindo sua mensagem: ”O Irã deve ser responsabilizado pela conspiração…Temos de continuar a vigiar aquelas instituições financeiras que estão envolvidas nessas atividades e tentar isolá-las do setor financeiro internacional.”
Enquanto isso, como uma orquestra bem afinada, a embaixadora Susan Rice reunia representantes de países membros do Conselho de Segurança da ONU para apresentar as acusações contra o Irã e pedir novas sanções. Especialmente contra o Banco Central iraniano.
Quais novas sanções?
A Comissão de Relações Exteriores do Congresso americano disse.
Aprovou duas leis draconianas que proibiam aportar nos EUA navios que tivessem passado pelo Irã; filiais estrangeiras de firmas americanas negociarem com o Irã e, muito mais grave, praticamente impediriam o Banco Central do Irã de funcionar.
A lei dizia que, no prazo de 30 dias, o presidente deveria determinar se o Banco Central iraniano apoiava programas de fabricação de armas químicas, biológicas ou nucleares, ou programas de mísseis, financiando a compra de armas avançadas, apoiando a Guarda Revolucionária (a Quds Force) ou o terrorismo internacional.
Se o presidente concluísse positivamente, o governo deveria proibir de negociar com os EUA qualquer banco estrangeiro que tivesse relações de negócios com o Banco Central do Iran.
O projeto deve ir ao Senado e, uma vez, aprovado, caberá a Obama sancionar ou vetar.
Se Obama der seu “sim”, as coisas ficarão pretas para os iranianos. Os bancos estrangeiros teriam de escolher entre negociar com os EUA ou com o Banco Central do Irã. Na prática, ficariam proibidas transações com o Banco Central iraniano o que poderia imobilizar toda a economia do país.
Só isso já basta para deixar as barbas dos aiatolás de molho.
Mas a pressão foi alem.
Fontes não reveladas informaram no começo do mês que o governo Obama havia, por fim, atendido ao pedido israelense para o fornecimento de 50 bombas anti-bunker, poderosas o suficiente para penetrar fundo na terra e destruir as mais solidamente protegidas instalações nucleares iranianas.
Algumas semanas depois, Israel fez o lançamento de um novo míssil balístico, capaz de transportar bombas a longa distancia, ate ao Irã.
Portanto, o bombardeio das instalações nucleares iranianas por Israel ficou perfeitamente acessível.
Completando o pesadelo iraniano, informou-se que estaria para sair, provavelmente no dia 8 de novembro, um novo informe da IAEA (Agência Internacional de Energia Atômica) que revelaria indícios claros de atividades nucleares com fins militares.
Foi com todo esse back-ground altamente negativo para Teerã que a imprensa israelense anunciou a firme intenção de Nethanyau bombardear o Irã antes do inverno chegar.
Tudo isso deixou a comunidade internacional extremamente assustada.
Ninguém quer uma guerra no Oriente Médio, ameaçando uma paralisação das importações de petróleo da região e o consequente estouro das bolsas de valores, entre outras calamidades.
Condescendente, Israel deu uma colher de chá. Basta aprovarem a proibição de transações com o Banco Central do Irã e damos o dito por não dito.
Configurou-se assim um caso de chantagem pura e simples.
Mas há dois problemas: China e Rússia. Elas haviam aprovado as sanções anteriores do Conselho de Segurança da ONU na crença de que iriam ficar por aí. Não gostaram nada quando EUA e Europa vieram com mais sanções.
A França, a Inglaterra, a Alemanha e outros países europeus talvez topem, caso o novo relatório da IAEA (Agência Internacional de Energia Atômica) traga indícios mais claros de intenções militares no programa nuclear iraniano. Decisão estimulada em parte por fidelidade aos EUA, em parte por medo de Israel inventar uma guerra prejudicial a todos (devastadora para a Europa, considerando a crise econômica, agravada pelas incertezas da Grécia).
Com a China e Rússia, a coisa é outra, já que mantém muitas e lucrativas relações econômicas com o Irã. Não vão renunciar a elas só por causa das ameaças de Israel ou da pouco crível conspiração do vendedor de carros usados.
Portanto, aprovar a “solução final “do problema iraniano no Conselho de Segurança da ONU parece missão impossível.
Bem, se o relatório da Agência de Energia Atômica da ONU (IAEA) for absolutamente conclusivo, talvez a China e a Rússia se comovam. Mas, provavelmente não será. Se fosse, tanto Obama quanto Nethanyau esperariam sua apresentação por que aí, então, poderiam um, com bons argumentos, o outro, soando os tambores da guerra, conseguir aprovação geral das sanções que eles desejam. O que talvez até levasse os aiatolás a pedirem arreglo.
Há, é claro, uma saída.
Diante de um relatório que lançará muitas dúvidas e das perversidades da nova lei do Congresso americano, o governo de Teerã pode resolver parar de enriquecer o urânio, passando a comprá-lo dos países produtores.
Será uma solução que iria satisfazer a todos.
Todos ?
…e quando o cordeiro mostrou que não estava turvando a água que o lobo bebia, o lobo respondeu: se não foi você, foi seu pai.