Aviões sem piloto bombardeiam a imagem dos EUA no Paquistão

Os EUA subsidiam o algodão do Paquistão com algo em torno de 3 bilhões de dólares, anualmente. E para o exército do país asiático vão mais 1,1 bilhão.

Não obstante toda essa generosidade, o povo paquistanês teme o pais de Obama, considera-o uma ameaça. Para ser mais exato, a maior ameaça que pesa sobre o Paquistão, segundo recente pesquisa do Gallup. Ganha longe dos talibãs nesse pouco amável quesito: 69% contra 11%. E olhe que os talibãs tem feito o possível para conseguir melhor colocação, promovendo mortíferos atentados, que, apesar de direcionados a militares, também atingem muitos inocentes civis.
                              Talvez o principal responsável por esse aparente paradoxo seja uma arma de guerra que o pessoal da Casa Branca e do Pentágono vêem como altamente bem sucedida : os drones – aviões sem piloto. Operados a longa distância por gente da CIA, esses aviões lançam mísseis precisamente sobre grupos de talibãs, localizados pelo serviço secreto. O problema é que essa precisão não é tão cirúrgica quanto a propaganda americana garante. É que os talibãs não se concentram sempre em locais remotos, longe das áreas urbanas, para facilitar a ação dos drones. Eles vivem no meio de camponeses, que acabam partilhando os efeitos devastadores desse prodígio da tecnologia bélica. É preciso lembrar ainda as diversas ocasiões em que os “cirurgiões” da CIA falharam e as fúrias dos drones caíram sobre alvos errados, como ocorreu em junho último, no Waziristão, norte do Paquistão. Lá uma reunião de pacíficos membros das tribos locais foi confundida com uma sinistra reunião de talibãs, resultando na morte de 24 cidadãos totalmente alheios ao terrorismo.
                             Apesar desses reparos, os drones são considerados pelos chefes militares do governo Obama como uma arma notável.. Tanto é que o número de ataques aumentou de 1 por ano, em 2004, para 1 a cada 4 dias, nos tempos atuais. Essa eficácia é contestada no Paquistão. De acordo com o Dawn,o mais antigo e lido jornal paquistanês em língua inglesa, em 44 ataques desfechados nas áreas tribais do país, em 2009, apenas 5 atingiram seus alvos, matando líderes talibãs, ao custo de mais de 700 vítimas civis.
                             Para algumas fontes, esses números não refletem a realidade.
                             A New American Foundation conta uma história diferente. Para ela, de 2004 a 2010, num total de 1.374 a 2.189 mortes, apenas entre 277 e 435 eram de não-combatentes. O Brooking Institution é mais pessimista. Afirma que os drones matam cerca de 10 camponeses para cada militante morto. As conclusões da Comissão de Direitos Humanos do Paquistão são semelhantes; somente em 2011, 957 civis já teriam morrido sob os auspícios dos aviões sem piloto.
                            Em 29 de junho, John Brenan, Assessor-Chefe do governo para Contra-Terrorismo, surpreendeu ao garantir que “… no último ano não houve uma única morte colateral (causada pelos drones) devido à excepcional proficiência e precisão dos sistemas que conseguimos desenvolver.” Fato contestado pelo Birô de Jornalismo Investigativo que, depois de meses de pesquisas, apresentou um estudo detalhado, revelando que entre agosto de 2010 e 29 de junho de 2011, teriam sido realizados 116 ataques de drones, matando 45 civis, dos quais 6 seriam crianças. Na ocasião, com 18 meses de governo Obama, 56 crianças já tinham sido mortas, contra 112 em todo o período Bush.
Os números divergem, mas não dá para negar que
muitos, mas muitos paquistaneses, totalmente fora da guerra                           
 EUA x talibãs, foram, digamos, sacrificados pelos aviões sem piloto. Rehman Malik, ministro do interior do Paquistão não tem dúvidas : ”Os mísseis dos drones causam danos colaterais. Uns poucos militantes são mortos, mas a maioria das vítimas é de civis inocentes.”
                              Examinando sob o aspecto jurídico, a ação dos aviões sem piloto enquadra-se nas Convenções de Genebra que taxam de crime de guerra ataques indiscriminados, atingindo a população civil, com conhecimento de que tais ataques causam excessiva perda de vidas. Isso se agrava pelo fato do Paquistão não estar em guerra com os EUA. Pelo contrário, é um país aliado. É verdade que essa operação tem a anuência do presidente Zardari, de olho nos bilhões de dólares da ajuda americana. Nem por isso deixa de representar uma forma de execução extra judicial, na qual a CIA é o promotor, o juiz e o carrasco, acusando suspeitos de serem terroristas, condenando-os como tal e executando-os, sem direito de defesa. E, pior do que isso, incluindo na pena de norte os civis que, por azar, estavam por perto.
                            Em 3 de junho de 2009, o Conselho de Direitos Humanos da ONU emitiu um informe criticando duramente as táticas americanas por falhar em poupar civis nas suas operações militares, especialmente nos ataques de drones. Apesar da aprovação presidencial paquistanesa, generais e líderes políticos civis vem repetidamente protestando contra esses sucessores das bombas voadoras alemãs da 2ª. Grande Guerra. A maioria da população do país também é contra (67% x 9%). Os militares compartilham desse sentimento, inclusive por que vêm na ação dos drones desrespeito à soberania do país. Recentemente, sob pressão da opinião pública, o governo ordenou que os EUA retirassem todo o seu pessoal da base de Shamsi, de onde enviavam drones para suas missões mortíferas. Sem problemas para a CIA que tem outras bases em países próximos. Os ataques não param. Enquanto isso, o anti-americanismo, alimentado pela destruição de vidas via drones, continua crescendo.
                                  Na próxima eleição, as chances de do aliado Zardari vencer são escassas. Na última pesquisa, apenas 9% dos respondentes votariam nele contra 38%, a favor do oposicionista Sharif. O que poderá acontece, caso mude o governo, é difícil prever. Mas, provavelmente, o anti-americanismo do povo e dos militares vai pesar. E trazer novos problemas para a Casa Branca.    

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