Até quando a humanidade vai permitir que a Arábia Saudita continue massacrando o povo do Iêmen?
Desde 2015, a Arábia Saudita lidera uma coalisão de nações do Golfo Arábico numa guerra que mira nos civis para derrotar as forças rebeldes houthis. É a estratégia cruel de vencer provocando fome e doenças no povo.
Bombardeios sucessivos já mataram 10 mil iemenitas, feriram 40 mil e dizimaram a infraestrutura, os serviços públicos, a rede de transportes e a produção de alimentos do país. A fome é generalizada, milhões de pessoas sofrem de má nutrição- particularmente as crianças- espalham-se as doenças por todas as regiões e 20 milhões necessitam de ajuda humanitária para continuar vivendo.
Apesar do tremendo poder de fogo dos inimigos, os houthis resistem e a guerra já dura mais de dois anos e meio.
Sob pressão da opinião pública, as instituições políticas internacionais começam a reagir. A Arábia Saudita já foi condenada pelas principais organizações de direitos humanos. A ONU cansou-se de tentar mediar a paz.
Apelos e condenações públicas genéricas pouco ou nada conseguiram.
Agora, procura-se acabar com o conflito, cortando as vendas de armas aos sauditas e aliados.
Para manter seus pesados ataques, a Arábia Saudita entrou no mercado de armas com grande impacto. Entre 2012 e 2016, suas importações foram 212% maiores do que nos cinco anos anteriores. E a Europa, especialmente o Reino Unido, auferiram altos rendimentos, tendo suas vendas de armas ao governo de Riad aumentado em 86%.
Em Setembro deste ano, o Parlamento Europeu aprovou uma resolução pedindo maior transparência nas vendas de armas, criação de um comitê de supervisão humanitária da guerra e adoção de um mecanismo de sanções aos países da União Europeia que vendessem armas aos sauditas, sem respeitar exigências, como garantias de que não seriam usadas contra civis.
Um mês depois, com os esforços de 48% dos parlamentares– socialistas, liberais, verdes e esquerdistas unidos – uma recomendação do Parlamento do Velho Mundo propôs o embargo nas vendas de armamentos aos sauditas, pelas nações da Europa.
Para se tornar uma norma obrigatória, é necessário que a proposta seja encaminhada pela chefe da política exterior da União Europeia- Federica Mogherini. Os líderes dos quatro grupos que lutam pelo embargo, enviaram uma carta a Federica, solicitando que ela, sem demora, apresentasse a proposta de embargo ao conjunto dos países da Europa.
Segundo assessores, Federica precisa conseguir o apoio das 27 nações-membros. De acordo com o estatuto da União Europeia, a aprovação tem de ser total para que o embargo vire obrigação.
Com o Brexit, isso passou a ser viável, pois o governo Tereza May, que certamente seria contrário, não poderá votar.
O primeira-ministra do Reino Unido já deu mostras claras de que não se importa se bombas inglesas estarem sendo usadas para matar civis iemenitas.
Diante ds constantes condenações da Arábia Saudita por grupos de direitos humanos ingleses e resoluções da Câmara dos Comuns pedindo a interrupção das vendas, Teresa continua se omitindo.
Não deveria. Estudo de pesquisadores da Universidade Queen Mary, de Londres, afirma que a Inglaterra desempenha um papel crucial no bombardeio saudita, ajudando a criar as condições que causaram a expansão da cólera no Iêmen, a qual já matou duas mil pessoas e inoculou cerca de 750 mil.
Longe de se sentir co- responsável por esta tragédia, o governo inglês pronunciou-se de forma bizarra, através de Michael Fallon, secretário da Defesa. Falando no Parlamento, ele declarou, impávido, que as críticas de parlamentares e ativistas às vendas de armas à Arábia Saudita não ajudavam as vendas de armas do Reino Unido ao reino petrolífero.
Um dia depois, um juiz inglês, por sua vez, também não deu a ajuda desejada por Fallon.
Em março último, o ativista Quaker, Sam Walton, e o ministro metodista, Daniel Woodhouse, invadiram uma base da BAE Systems (produtora de armamentos) para destruírem as armas de 13 caças vendidos à Arábia Saudita.
Presos, eles foram processados criminalmente como causadores de danos à propriedade.
Na sentença, o juiz, James Clarke, os absolveu. E ainda os elogiou: “Eles foram homens admiráveis e convincentes, que mostraram firmemente estarem conscientes do que faziam e do que queriam conseguir.”
A propósito de armas, não resisto ao desejo de citar (mais uma vez) o presidente Eisenhower: “Cada canhão que é fabricado, cada vaso de guerra lançado, cada foguete disparado constitui um roubo daqueles que tem fome e não são alimentados, daqueles que tem frio e não são agasalhados. Cada nação que aplica seu tesouro na compra de armamentos está gastando mais do que dinheiro. Está gastando o suor dos seus trabalhadores, o gênio dos seus cientistas, as esperanças de suas crianças”.