Na reta final, depois de tantas perspectivas favoráveis, o Acordo Nuclear com o Irã ainda pode ser derrotado.
O prazo de 30 de junho está chegando e algumas controvérsias subsistem.
São três: quando as sanções devem ser suspensas; até onde foi um antigo programa nuclear do Irã e o acesso irrestrito de fiscais estrangeiros a todas as bases militares do país.
Enquanto o Irã deseja que todas as sanções acabem quando o acordo for assinado, os EUA insistem em suspensões graduais, à medida que Teerã vá cumprindo suas obrigações.
Não acredito que só por isso as coisas degringolem, haverá provavelmente concessões de parte até se chegar a uma formulação que agrade às partes.
Quanto aos avanços a que teria chegado um hipotético programa de produção de bombas nucleares, na semana passada John Kerry, secretário de Estado, havia declarado que seu país não teria muito interesse em conhecê-los.
Alguns dias depois, inesperadamente, voltou atrás. Agora é uma exigência dos EUA.
Também não creio que as grandes potências e o Irã vão brigar por causa disso.
Não vamos esquecer de que em 2007 o chefe da Inteligência Nacional dos EUA afirmou que de fato o Irã teria iniciado um programa para produzir bombas nucleares mas , a partir de 2003, foi cancelado e nada mais foi feito com esse objetivo. Conclusão reafirmada em 2012 e 2013.
Já a terceira questão parece complicada.
O Ocidente quer porque quer que Teerã ponha todas as suas instalações militares, mesmo não nucleares, de portas abertas para inspeções.
E ainda exige direito de entrevistar qualquer cientista do país.
Aí a coisa pode pegar.
O Supremo Líder Khamenei já vetou in limine e os deputados iranianos aprovaram lei proibindo que Rouhani consinta nessa inspeção.
Até que tem suas razões.
Fiscalizar ações e usinas nucleares, tudo bem, mas permitir que estrangeiros possam espionar as bases e demais sítios das forças armadas além das idéias dos seus cientistas, me parece demais.
Nenhum país consentiria nisso.
Já pensou?
Os inspetores ocidentais ficariam conhecendo coisas como planos de novos armamentos, posições das forças iranianas, planos de defesa, distribuição dos efetivos militares pelo país, localização de depósitos de armas e munições…
Já pensou se essas preciosas informações caíssem em mãos israelenses?
Não acredito que isso acontecesse via Obama.
O mesmo não diria quanto ao próximo presidente dos EUA – um republicano ou Hillary Clintron, qualquer deles ardente defensor de Israel.
Há informações anônimas de que o Irã propõe um acesso sob controle, talvez somente quando houver suspeitas de que algo proibido pelo acordo esteja sendo feito em determinada base.
Por sua vez, Kerry diz que não se impressiona com as categóricas declarações de Khamenei. Seriam “para consumo político doméstico”, disse o secretário de Estado americano.
Ele se preocupa mais com os falcões americanos, todos eles 100% pró Telaviv. Esses deputados e senadores fazem um último esforço para bombardear a paz com o Irã.
Seja qual for o acordo final, eles vão tentar derrubá-lo no Congresso, graças à lei que lhes dá esse direito, aprovada há dois meses.
A AIPAC, a mais poderosa associação judaico-americana de apoio a Israel, também está em campanha associada a seus aliados parlamentares
Contrapondo-se a ela, o JStreet, associação judaico-americana liberal, defende o acordo nuclear, rebatendo os argumentos dos seus adversários.
Tanto a AIPAC quanto os falcões americanos e iranianos, são obstáculos que podem atrapalhar.
No entanto, quem vai mesmo decidir se o acordo sai ou não serão as partes e sua capacidade de fazer concessões recíprocas.