Esperava-se que o P5+1 (EUA, França, Reino Unido, Alemanha, China e Rússia) e o Irã chegassem a um acordo sobre a questão nuclear na reunião de Bagdá.
Notícias off the records sugeriam claramente que as condições exigidas pelo Ocidente, a Rússia e a China seriam razoáveis e atendidas pelo Irã.
No entanto, logo na discussão do primeiro e mais importante assunto, o enriquecimento do urânio, as discordâncias foram de arrepiar.
O Ocidente queria que o Irã parasse de enriquecer urânio a 20% e lhes entregasse todo seu arsenal desse material.
Em troca oferecia isótopos para uso medicinal, cooperação em segurança nuclear, acesso a peças e componentes de aviões civis de que o Irã teria necessidade.
O Irã respondeu que dispunha dos isótopos oferecidos em quantidade suficiente e dispensava os outros itens.
E apresentou sua proposta: interromper a produção de urânio a 20% como solicitado e abrir completamente todas as suas instalações nucleares e mesmo militares aos inspetores da ONU em troca da suspensão imediata de todas as sanções da ONU, dos EUA e da União Européia.
Além disso, as grandes potências deveriam reconhecer o direito do Irã de enriquecer urânio. O qual, aliás, é juridicamente inquestionável, garantido pela legislação internacional específica.
Foi a vez do Ocidente recusar.
Passaram 3 dias discutindo. A única conclusão foi de que valeria a pena voltarem a se reunir em junho. Mais exatamente nos dias 18 e 19, na cidade de Moscou.
As agências e correspondentes internacionais não especificam se foram discutidas outras questões.
Acredito que não.
A proposta de fechar ou destruir a usina subterrânea de Fordow (fora do alcance dos bombardeiros americanos e israelenses) sugerida por alguns políticos, inclusive o premier Netanyahu, provavelmente não deve ter sido nem lembrada.
Ficaria mal.
Não se pode negar que havia um contraste muito grande entre as duas propostas.
A do Irã era mais justa, o país oferecia algo muito importante: sua renúncia ao enriquecimento de urânio a 20%, que vinha defendendo por muitos anos, operação para a qual havia instalado equipamentos caríssimos.
Tinha direito a uma contrapartida de igual peso, como a que solicitou.
De fato, a suspensão imediata das sanções seria fundamental pelos consideráveis estragos já causados na economia nacional, que seriam ainda mais elevados a partir de 1 de julho.
Nesta data, as sanções européias começariam a vigorar com impacto total, reduzindo em mais 18% as exportações de petróleo iraniano.
O que o Ocidente propôs era absolutamente desigual.
Exigiam muito, oferecendo pouco mais do que nada.
Havia uma terceira idéia, apresentada dias atrás pela Rússia.
Seria uma solução “passo a passo”.
Os iranianos não suspenderiam o enriquecimento de urânio a 20% e entregariam todo o seu estoque de uma vez.
O Ocidente não suspenderiam imediatamente todas as sanções.
Tudo seria feito aos poucos. A cada ação de uma parte corresponderia uma ação da outra parte.
Também não sei se esse caminho foi discutido na reunião de Bagdá.
O que ficou claro foi a total falta de confiança entre as partes.
Os europeus temiam que, se as sanções fossem suspensas, os iranianos poderiam continuar enriquecendo urânio a 20%, ou mesmo a teores mais altos, ficando em condições de produzir armas nucleares.
Os iranianos temiam que o verdadeiro intento dos EUA fosse liquidar a revolução islâmica. Caso atendessem às exigências ocidentais, os americanos manteriam suas sanções, alegando pretextos diversos.
Para alguns observadores, os temores do Irã teriam razão de ser.
No começo do seu governo, Obama prometeu ir ao Irã dialogar diretamente com Ahmadinejad em busca de uma solução.
Não fez nada disso.
Pelo contrário, foi progressivamente endurecendo sua posição, até hoje ser semelhante a de George Bush.
Embora, visivelmente ele seja contrário ao bombardeio das instalações nucleares iranianas, tem sido agressivo na edição de sanções cada vez mais duras contra Teerã.
Não vamos esquecer que apesar das 17 agências de inteligência dos EUA ter informado que o Irã não tem nem deu pistas de querer ter um programa nuclear atômico, Obama fez que não ouviu.
E segue ameaçando os aiatolás com as 7 pragas do Egito.
Tudo isso faz a gente temer que a próxima reunião dos P5+1 com o Irã, em Moscou, não irá dar em nada.
Felizmente, a chefe de Relações Internacionais da Europa Unida, lady Caroline Ashton é mais otimista.
No fim do evento de Bagdá, ela declarou àimprensa: “Está claro que nós ambos (Ocidente e Irã) queremos fazer progressos e que há alguns pontos em comum entre nós. Contudo, permanecem diferenças significativas. De qualquer modo, nós todos concordamos em realizar novas reuniões para ampliar os pontos em comum.”