O Paquistão exigia desculpas pelo ataque de aviões americanos que matou 24 soldados de um posto de fronteira e o fim dos bombardeios de aviões sem piloto sobre seu território, que alvejavam talibãs, mas também matavam centenas de civis inocentes.
Enquanto os EUA não atendessem, a fronteira com o Afeganistão ficaria fechada para a passagem de caminhões transportando suprimentos ao exército americano.
A soberania e a honra do Paquistão estavam em jogo.
Para discutir todas estas questões, diplomatas dos dois países realizaram inúmeras reuniões.
A questão era difícil.
Os EUA não queriam pedir desculpas, pegaria mal junto ao eleitorado, Obama poderia ser chamado de fraco, por humilhar-se diante dos paquistaneses.
Os ataques de aviões sem piloto – os drones – são considerados muito importantes pelo Pentágono, para a guerra contra os talibãs.
De outro lado, a questão dos caminhões de suprimentos impedidos de atravessar para o Afeganistão precisava ser resolvida.
O exército americano não poderia passar sem eles.
E o uso de uma rota alternativa pela Rússia e a Ásia Central era muito demorado e custava muito caro: 104 milhões de dólares por mês.
A solução foi, não diríamos salomônica, mas bastante prática.
Não saiu da cartola de um mágico, mas sim da carteira de Barack Obama.
Os EUA passarão a pagar pedágio pelos containers de suprimentos para a Guerra do Afeganistão que passarem pela fronteira do Paquistão.
O governo de Islamabad quer receber 5.000 dólares por container, o Pentágono acha caro, pede uma redução substancial.
De qualquer modo, sai muito mais barato do que fazer o transporte pela rota alternativa.
Quanto ao Paquistão, ou melhor, ao Presidente Zardari e ao Primeiro Ministro Gilani, algumas centenas de milhões de dólares por ano para fortalecer as combalidas finanças públicas não é nada mal.
Já a oposição está indignada.
Declarou que não reconhece mais Gilani como Primeiro Ministro depois dele ter garantido que o governo jamais reabriria a fronteira com o Afeganistão sem o fim dos vôos dos drones e as desculpas pela morte dos 24 soldados.
Os primeiros caminhões de suprimentos já passaram na sexta-feira.
No entanto, o acordo ainda não foi assinado.
Para os analistas locais, o jogo não acabou.