Israel ataca a nova Flotilha da Liberdade. Aleluia! Não matou ninguém.

A primeira Flotilha da Liberdade era formada por seis barcos, transportando 750 ativistas de direitos humanos. Levava 10 toneladas de equipamentos médicos e alimentos para o povo de Gaza.

Como se sabe, foi interceptada à bala por comandos da marinha israelense, que alegaram resistência dos tripulantes, supostamente armados de barras de ferro e facas.

Não foi bem assim.

O que provou ser verdadeiro foi que os militares de Israel mataram 9 ativistas, além de ferirem uma porção. Do lado israelense, uma única vítima: um sargento ferido sem gravidade.

500 tripulantes foram levados a Israel e lá encarcerados. Israel condicionou sua libertação à assinatura de um documento afirmando que tinham tentado penetrar no território israelense.

Eles se recusaram, pois seria falso. A abordagem se dera em águas internacionais. Por apelo da ONU, o governo israelense acabou libertando seus cativos.

8 anos depois, em julho de 2018, a história se repetiu.

Nova Flotilha da Liberdade dirgia-se a Gaza, levando remédios e equipamentos médicos, quando soldados israelenses mascarados atacaram um dos seus barcos, o Al Awda.

Aleluia! Desta vez não mataram ninguém.

De olho na repercussão internacional, os soldados foram instruídos a não darem tiros. Graduaram sua violência, usando “apenas” a força bruta para imobilizar e arrancar 22 ativistas do Al Awda.

Mais exatamente, com muita força bruta. Usaram até armas de eletrochoque.

Diz o Freedom Flotilha que organizou a viagem: “Alguns dos participantes foram diversas vezes submetidos a eletrochoques, inclusive na cabeça. Outros foram espancados ou tiveram suas cabeças batidas contra a parede pelos soldados israelenses. Algemas foram usadas de um modo que cortava a respiração (The Guardian, 2-8-2017).”

Depois que os militares saíram do barco, levando suas presas consigo, o convés ficou banhado de sangue, conforme relato da testemunha israelense Zohar Regev.

O que diverge da versão oficial de que na ação “nada ocorrera de excepcional.” Talvez para o governo de Jerusalem (ou Telaviv?) “excepcional” seria se suas forças armadas tivessem matado ou ferido muitas pessoas, como fizeram recentemente no massare da fronteira de Gaza.

Todos os detidos foram levados à prisão de Gilon, em Israel. Primeiro, liberaram os dois únicos israelenses, indiciando-os previamente por tentarem entrar em Gaza e por conspiração contra a segurança de Israel. Os estrangeiros estão sendo soltos, aos poucos.

Os organizadores da flotilha fizeram uma acusação severa às autoridades israelenses: “Um ataque militar a uma embarcação é um ato violento, uma violação da lei internacional. Levar 22 pessoas de águas internacionais para um país que não era seu destino é um sequestro, que é ilegal sob a Convenção  Internacional das Leis do Mar.”

Nela se estipula que, em águas internacionais, um barco só pode ser abordado e ocupado em determinadas condições: contrabando de armas ou drogas, comércio de escravos ou atividades terrorustas.

O AL Awda não levava nenhum destes tipos de cargas. Apenas alimentos e equipamentos médicos para um povo faminto e carente de recursos médicos e farmacêuticos.

Não vejo como entregar esses suprimentos, tão dramaticamente necessários ao povo de Gaza, pode afetar a segurança de Israel.

A viagem do Al Awd visava também chanar a atenção do mundo para o drama sem fim de Gaza.

Talvez não tenha conseguido nenhum dos dois objetivos: Israel confiscou a preciosa carga e a grande mídia internacional (e, como sempre, a brasileira) ignorou mais esta violência praticada contra os habitantes do Estreiro. Afinal, eles já estão acostumados a sofrerem violências por parte de Israel, sem que o Ocidente faça mais do que deplorar e eventualmente condenar o fato.

E Gaza segue, “um campo de concentração aberto”, segundo o cardeal Martino, vitimada, não apenas pelo impiedoso bloqueio e frequentes bombardeios, mas também pela indiferença ou incapacidade do mundo civilizado de impedir Israel de continuar assassinando, aos poucos, todo um povo.

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