20 mil palestinos de Gaza compareceram à segunda manifestação de protesto da “Marcha do Retorno”, junto à fronteira com Israel, em 6 de abril.
Os organizadores os orientaram para evitarem o perigo de serem alvejados junto á cerca que bloqueia a saída do Estreito. Poderiam erguer tendas, fazer refeições, danças tradicionais, jogar futebol e mesmo realizar casamentos. E continuar protestando com faixas, gritos de guerra, cantos, cartazes e discursos. Programaram também queima de grande número de pneus para confundir a visão dos atiradores de elite do exército israelense.
De modo geral, tudo isso foi feito, embora alguns ativistas mais exaltados tenham lançado coquetéis Molotov contra os soldados de Israel. Mas foram muito poucos.
Por sua vez, o exército israelense continuou atirando contra os manifestantes, tendo matado mais 10, além de ferir 15, elevando o número de vítimas palestinas para 32 mortos e pouco mais de 1000 feridos.
Agiu de acordo com a informação do ministro de Defesa, Avigdor Liebermen: “As regras de abrir fogo nas fronteiras com Gaza continuarão mantidas.”.
O exército de Israel continuou tratando as manifestações pacífica de “motim” para ”camuflar ataques de terroristas do Hamas”, que, aliás, não aconteceram.
Quem, na verdade, vibrou um ataque, por sinal não camuflado, foi o corajoso movimento de direitos humanos judeu, o B´Teselem. Ele apelou para que os soldados se recusassem a obedecer as ordens de atirar para matar. Lembrou que tinham esse dever, consagrado pelo Tribunal de Nuremberg, que julgou os grandes nomes nazistas. Os juízes do tribunal rejeitaram a alegação de “obediência devida”, feita por muitos dos criminosos de guerra para justificar suas brutais ações. Essa decisão tornou-se jurisprudência, acatada por dezenas de outros tribunais no julgamento dos sicários de Hitler.
Claro, o B´Tselem foi acusado de “traidor” pela opinião pública do seu país, hoje profundamente beligerante.
Mas ficou firme.
Com o crescimento da reprovação mundial aos massacres de civis de Gaza, a ONU ganhou coragem. Não deixou de apelar para que os dois lados evitassem violência (hipocritamente, pois só um lado as estava praticando), mas admitiu que havia “fortes evidências” que as forças de segurança israelenses estavam usando força excessiva, o que representaria violação da lei internacional (New York Times, 7-4).
A porta-voz da ONU para Direitos Humanos foi além: o grande número de vítimas de manifestantes desarmados ou que não ameaçavam a segurança ds forças -em alguns casos afastando-se da cerca – sugere que as tropas de Israel podem te usado força excessiva (New York Times, 7-4).”
Um video mostra que um jovem palestino, fugindo de perto da cerca, foi alvejado nas costas por um franco-atirador israelense. Em outras filmagens, aparece um palestino assassinado ou ferido por balas israelenses quando rezava (Middle East Eye, 6-4) e um rapaz de 15 anos atingido andando de braços abertos em direção à fatídica cerca. Todos os que se aproximavam a partir de 150 metros da cerca eram considerados “provocadores” pelo exército de Israel, cujos soldados tinham ordens de atirar neles.
Até hoje (8 de abril), a “Marcha do Retorno” indica que deve estar acontecendo uma virada na estratégia dos revolucionários palestinos.
Parece que Gandi está chegando a Gaza.
A não-violência, que ele propõe, está presente na postura pacífica dos palestinos, resistindo à vontade de reagir às balas com que o exército israelense está matando e ferindo seus ativistas.
Há a percepção de que os princípios de Gandi, não-violência e resistência civil, caminham para substituir as fracassadas estratégias de Abbas, de esperar por uma solução dos EUA, e do Hamas, de manter luta armada até um dia cada vez mais longínquo.
Tanto líderes do Hamas e do Fatah, quanto lideranças não-comprometidas, que estão surgindo, começam a buscar nessa nova orientação a saída para a viabilização de suas esperanças de independência e liberdade.
No contexto da “Marcha do Retorno”, é reveladora a recente declaração de Mahmoud al-Zahar, um líder sênior do Hamas: “Hoje, estamos enviando uma mensagem de que nossa luta é sem armas, de que nós esperamos e veremos se o mundo recebe a mensagem e pressione Israel para parar seus crimes contra nosso povo (New York Times, 7-4).”
Na “Marcha de Retorno”, que vai durar até 15, com mais cinco sextas-feiras de manifestações ruidosas, os palestinos ainda sofrerão muita baixas.
Será mesmo heroico se contiverem sua sede de vingança, para não comprometer sua postura de não-violência.
No entanto, eles não poderão continuar isolados, dependendo apenas de suas fracas forças e do apoio muito limitado dos países árabes.
Mas, Gandi só será definitivamente ouvido pelos palestinos se o sacrifício deles conquistar resultados palpáveis.
O que depende, principalmente, da Europa, pois dos EUA, com Trump totalmente comprometido com Netanyahu, pouco se pode esperar.
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Maravilhosos! Muito obrigado!!http://essaywritekd.com/