Invasão do Líbano, Israel assusta.

“O Líbano voltará para atrás muitos, muitos anos, alguns dizem que até a Idade da Pedra e outros dizem que até os tempos dos homens das cavernas.”

Esse tipo de ameaça nos faz lembrar as diatribes com que Hitler mimoseava os povos que não aceitavam seu diktat.

Quem a proferiu, ainda em janeiro este ano, foi Yisrael Katz, ministro dos Transportes de Israel e membro do gabinete de segurança do governo.

Referia-se aos resultados de uma invasão israelense no caso de um conflito gerado por alguma agressão do Hisbolá.

 Já o porta-voz oficial do governo de Telaviv detalhou os motivos para causar a hecatombe prometida por Katz. Ele disse que se o Líbano permitir que o Irã construa fábricas de mísseis no seu território “nós os atacaremos rigorosamente (YNet-31/1)“.

Avigdor Lieberman, ministro da Defesa, garantiu: “Nós não permitiremos cenas como em 2006, quando vímos cidadãos de Beirute na praia, enquanto israelenses, em Tel Aviv, estavam em abrigos.”

E completou: “Se as pessoas de Tel Aviv tiverem de ficar em abrigos contra bombas, todos os de Beirute ficarão em abrigos contra bombas.”

Lieberman exagerou bastante. Na guerra de 2006, de Israel contra o Líbano, foram mortos 1.190 pessoas, a maioria civis, houve ainda 4.400 feridos e 900 mil desabrigados. Os ataques dos aviões e canhões israelenses não criaram um clima propício para a população de Beirute lotar as praias da cidade.

Enquanto isso, as coisas em Telaviv não foram tão mal assim já que morreram no conflito não mais de 200 pessoas, a maior parte militares.

Fica claro pelas opiniões acima, que para políticos de Israel, uma próxima guerra faria a de 2006 parecer uma brincadeira.

Acredito que tanta raiva se deve, em parte, pela vergonha dos israelenses por terem acabado derrotados pela resistência do Hisbolá, que os obrigou a se retirar do país invadido.

Eles alegam que o grande problema é a instalação pelo Irã de fábricas de mísseis no Líbano, que tornará Israel vulnerável a um ataque do Hisbolá.

No entanto, não vejo porque a produção de mísseis no país modifica a situação atual. O Hisbolá já tem lá entre 100 mil e 150 mil mísseis de curto, médio e longo alcance (The Times of Israel, 31-1-2018), mais do que suficiente para atingir qualquer objetivo no território israelense.

A instalação de fábricas de mísseis iranianos no Líbano pouco acrescenta às possibilidades do Hisbolá fazer estragos.

No entanto, é preciso levar em conta a estratégia de dissuasão de Telaviv. Seu governo não pode permitir que um país inimigo  disponha de armamentos em condições de lhe infringir perdas severas.

Hoje, o inimigo da vez é o Irã e seu aliado, o Hisbolá, que participam destacadamente na guerra da Síria e foram importantes na derrota do Estado islâmico no Iraque.

.Com suas terríveis ameaças, os líderes israelenses visam assustar tanto o Irã e o Hisbolá, quanto o Líbano, que, aliás, seria o maior perdedor numa guerra preventiva israelense.

Tudo para obrigar esses países a reconsiderarem seus planos bélico-industriais.

Caso não adiante, acredito que aí Israel irá mesmo  agir.

O que criaria uma série de problemas com a comunidade internacional, cujas leis não permitem que  um país bombardeie instalações militares de um outro, não havendo estado de guerra entre eles; os EUA, que vem investindo há muito no fortalecimento do exército do Líbano pois não querem perder sua amizade, fundamental dada a posição estratégia do país no Oriente Médio; e a França que tem profundos laços econômicos e políticos com o Líbano, desde os tempos em que esse país foi protetorado do governo dos Champs Elysées.

Acho, porém, que as chances do Irã e do Hisbolá atacarem primeiro são bem menores do que o contrário.

É sabido que Israel, os EUA e a Arábia Saudita formaram uma aliança para destruir o regime da República Islâmica do Irã e seu partner, o Hisbolá.

Seus planos começam a entrar em em execução.

Um deles é a tentativa de revogar o acordo militar nuclear do Irã com potências europeias, a China, a Rússia e os EUA. Outro, a proibição para Teerã expandir seu programa balístico, já acertada pelos EUA, a França e o Reino Unido.

Telaviv já passou à ação, lançando 100 ataques aéreos contra comboios de armamentos iranianos para o Líbano.

Netanyahu propôs e mesmo ameaçou ataques às instalações nucleares iranianas várias vezes. Não vai admitir que seus inimigos posicionem fábricas de mísseis próximas da fronteira Líbano-Israel.

Enquanto isso, as intervenções militares do Irã foram perfeitamente legais. Apoiam o governo Assad, eleito democraticamente e atacaram os fanáticos do ISIS, com aplauso da comunidade internacional. Nada foi provável sobre envio de seus mísseis aos houthis no Iêmen.

As únicas ações iranianas que podem ser rotuladas como ameaçadoras de outro Estado tem sido as falas, em geral do Supremo Líder Khamenei, profetizando o fim do regime sionista e a criação de um Israel igual para todos. Temperadas, com insultos e maldições diversos.

Mas, e o Líbano?

Porque os dignatários de Israel o incluem na lista dos inimigos a serem maltratados?

Diz o ministro Avigdor Lieberman que Beirute não passa de um mero puppet, que segue as ordens do Hisbolá.

Não me parece.

O pais é independente diante das potências islâmicas, ora em conflito no Oriente Médio.

Quem o  governa é uma coalisão na qual o presidente é Michel Aoud, chefe do mais forte partido cristão, que tem um acordo  de convivência com o Hisbolá; o primeiro-ministro, Saad al-Hariri, é bom amigo da Arábia Saudita (sob cuja orientação interpretou o ridículo papel que todos conhecem), dos EUA e da França; o Hisbolá é representado no gabinete por três ministros Apesar de neutro, o governo Michel Aoun tem defendido o Hisbolá diante da pressão que sofre por parte da Arábia Saudita, dos EUA e dos grupos direitistas, que exigem que o movimento seja reprimido ou, pelo menos, entregue suas amas.

Por isso, Israel trata o Líbano como inimigo. E vice-versa

Sendo a postura de Israel e aliados a mais agressiva, é bastante possível que o primeiro tiro seja disparado por suas forças amadas contra o Líbano, visando atingir o Hisbolá e também o Irã.

Parece justo, portanto, que esses três possam fabricar mísseis aumentando seu estoque, de olho numa numa guerra que dure mais do que o previsto.

Mas, lembrando o “é a economia, estúpido”, de Bill Clinton, lembro que uma divergência entre Líbano e Israel sobre  interesses em região na fronteira pode estar influindo no clima pesado de agora.

Israel reclamou que Beirute aprovou um acordo do Líbano com o consorcio formado pela francesa Total, a italiana Eni e a russa Novatek para exploração marítima de gás em área que os Israelenses consideram integrar seu território.

E usa termos um tanto violentos para classificar este acordo:

“ele é muito provocativo.”

O primeiro-ministro Hariri, por sinal amigo dos EUA e dos sauditas, comentou que se tratava de uma das “várias mensagens ameaçadoras de Telaviv.”

No outro lado, o Hisbolá, prometeu defender os direitos de petróleo e gás do país.

Enquanto isso, o exército libanês repeliu os protestos israelenses, garantindo que a região estava “inteiramente dentro das áreas territoriais e econômicas, do Líbano (Middle East Eye, 5-2).”

Por sua vez, os chefes dos três poderes libaneses protestaram contra a projetada construção por Israel de um muro na fronteira, que passaria, dentro de territórios libaneses. E garantiram que tomariam “medidas ativas” para evitar que Israel realizasse essa obra.

E assim, por uma razão ou outra, a tensão vai crescendo.

Como também as chances do Líbano ser invadido pelo exército israelense pela terceira vez.

 

 

 

 

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