O apoio total a Israel pelos congressistas dos dois grandes partidos americanos tem sido o fator principal da invariável posição pró-Telaviv do governo de Washington.
É também devido a essa unanimidade bipartidária que leis como as que restringem o boicote a Israel, sancionam o Irã e lesam os interesses palestinos são aprovadas com raros votos contrários.
Mais do que por convicção ideológica, tanto congressistas republicanos quanto democratas vestem a camisa de Israel motivados pela vasta ajuda financeira dos magnatas israelo-americanos, pela poderosa açãos das organizações pró-Israel e, principalmente, pela opinião pública.
Há dezenas de anos, uma robusta maioria do povo americano está com Israel e não abre.
Nos últimos anos, a abertura começa a acontecer.
Aos poucos, parte crescente da população parece estar se conscientizando de que a verdade nem sempre está com Israel.
Ao mesmo tempo, a causa da Palestina vem ganhando reconhecimento, até mesmo entre os cidadãos independentes e , especialmente, os eleitores do partido Democrata.
Recente pesquisa da PEW POLLS (entre 10 e 15 de janeiro) revela que os democratas simpatizam mais com Israel do que com a Palestina por um placar surpreendentementre apertado: 27% x 25%. E a tendência é que, já nos próximos meses esta proporção até se inverta.
Enquanto isso, imensa maioria dos republicanos continua preferindo Israel: 79% x 6%.
Esses resultados refletem a radicalização entre o Partido Republicano – cada vez mais conservador, e o Partido Democrata, onde as tendências liberais e esquerdistas estão ganhando a hegemonia.
Muito mal para Israel que até hoje vinha surfando numa tranquila unanimidade no Congresso.
Por mais que pesem a influência do dinheiro dos magnatas e das organizações pró-Israel, a voz do eleitor numa democracia, ainda que imperfeita, acaba soando com mais barulho.
Acredito que, embora contando com quase todos os congressistas republicanos, o governo de Telaviv terá muito em breve problemas sérios para conseguir emplacar leis favoráveis, tendo de vencer uma eventual oposição da maioria dos democratas.
Mesmo no governo Trump, escandalodsamente favorável a toda e qualquer posição do governo Netanyahu, a mudança democrata não deixará de causar efeitos.
No entanto, não se deve esperar que os democratas sejam sempre contrários a Israel em tudo. O natural é que sua oposição seja seletiva – restringindo-se a propostas claramente injustas.
Isso parece ser indicado por outros resultados da mesma pesquisa. Enquanto 27% dos democratas preferiam Israel em relação à Palestina, apenas 18% aprovavam as políticas do governo Netanyahu. Ou seja, a mantinham-se do lado israelense, porém condenando as malazartes do premier do país.
Outro resultado dessa pesquisa mostra que os democratas não mais torcem por Israel der olhos fechados. 46% deles acham que Trump tem sido excessivamente favorável a Israel, enquanto meros 21% consideram que The Donald vem atuando de forma correta.
Tendência similar aparece também entre os americanos como um todo, segundo outra pesquisa, esta da CNN, realizada entre 14 e 17 de dezembro de 2017. Há praticamente um empate entre os que apoiam e os que reprovam Jerusalem como capital de Israel: 45% contra, 44% a favor.
Já, nada menos de 71% dos democratas condenam essa decisão de Trump. Novamente, os republicanos estão do outro lado, com 79% aplaudindo as mudanças proclamadas pelo presidenrte.
O resultado que mais desagradou aos interesses israelenses foi a posição dos americanos quanto à orientação que Washington deveria adotar em relação ao conflito Israel-Palestina.
Inesperados 2/3 declararam que o governo deveria ser neutro, posição defendida por 78% dos democratas, 70% dos independentes e até mesmo por parte significativa dos republicanos: 44%.
Todos estes resultados sinalizam uma provável mudança da posição dos parlamentares democratas diante dos interesses de israel.
È muito ruim para Israel. Especialmente se, nas eleições de novembro deste ano, acontecer uma vitória democrata na Casa dos Representantes e no Senado.
“Penso que é uma tendência muito preocupante“, disse Sallai Meridor, que foi embaixador de Israel nos EUA. “Para Israel, o apoio bipartidário do povo americano representa um valor estratégico (Times of Israel, 24-1-2018).”