Até há pouco, considerava-se a guerra da Coreia praticamente impossível. As duas partes sabiam que seria desastroso para os respectivos países. As psicopatias de Trump e Kim Jong- un não estariam em estágio tão avançado a ponto de entrarem nessa atômica fria.
Mas, as coisas estão mudando rapidamente.
Revelou o The Telegraph, de 21 de dezembro, que os EUA estariam planejando um ataque militar nos próximos meses, pois desistiram mesmo da diplomacia. Uma ideia cogitada é destruir o centro de lançamentos dos mísseis, que Piongiang usaria no seu próximo teste. Ou mesmo, arrancar os dentes do dragão, bombardeando os depósitos de amas nucleares.
O comando militar americano espera que, com esse ataque pontual, o ditador norte-coreano receberia uma amostra do poder dos EUA e da sua decisão de ir até as últimas consequências, se preciso for. O resultado previsto é que, tremendo de medo, Kim Jong-un pediria negociações.
Três fontes – dois ex-oficiais por dentro do pensamento militar yankee, e uma personalidade da administração – confirmaram que diversas opções de ataque estão sendo analisadas.
O problema é que o feitiço pode virar contra o feiticeiro.
O ataque preventivo americano talvez convencesse Kim Jong un a achar mais saudável pedir a paz.
Ou não.
Crente de que era o início de uma guerra total, o norte-coreano perderia o pouco de juízo que ainda tem e mandaria retaliar os EUA com as mais diabólicas armas dos seus arsenais.
Isso desencadearia o Apocalipse, coisa que nem Trump, nem seu inimigo querem.
Outra hipótese viável: em vez de retribuir com fúria e fogo, o ditador adotaria uma opção na base do “elas por elas”. Bombardearia “apenas” Seul, o Japão e a ilha de Guam, por exemplo.
Salvaria sua face perante o povo e o mundo e mostraria aos americanos que também não estava para brincadeiras.
Penso que não seriam usadas armas nucleares nestes possíveis ataques e contra-ataques. Nenhum dos dois rivais quer ser o primeiro a lançar mão da “arma do fim do mundo” e, assim, ser o responsável por uma guerra que poria em risco a vida da espécie humana.
Pelo sim, pelo não, a China já está se preparando por grandes conflitos armados no país vizinho, possivelmente com temperos nucleares. Na província de Jilin, que faz fronteira com a Coreia do Norte, os jornais estatais estão veiculando anúncios de uma página com instruções sobre como sobreviver a um ataque nuclear (Business Insider,21-12).
Nessa região, como revela documento secreto visto pelo The New York Times, o governo construiu cinco campos para abrigar milhares de norte-coreanos, que fatalmente atravessarão a fronteira, fugindo de uma eventual guerra.
Há outros indícios de que alguma coisa diferente pode estar para bombar.
Neste dezembro, os EUA enviaram um número recorde de aviões de caça para treinamento numa guerra aérea simulada contra a Coreia do Norte. Estão programados muitos bombardeios simulando ações contra alvos norte-coreanos.
Outros treinamentos devem ser realizados logo a seguir, incluindo militares americanos e sul-coreanos envolvidos em jogos de guerra, exercitando-se em infiltrações na Coreia do Norte, com o objetivo de destruir suas armas nucleares.
Um quadro de preparação para a guerra parece estar se desenhando.
Nos últimos dias, as costumeiras ameaças de autoridades americanas passaram a ganhar um tom mais realista.
O general McMaster, conselheiro do presidente Trump para a Segurança, declarou à BBC (The Independent, 20-12-2007): “É claro que (a paz) é o que queremos, mas nós não estamos comprometidos com uma (solução) pacífica- estamos comprometidos com uma solução…As chances de guerra, quem sabe quais são? Elas podem ser altas ou baixas, depende do que nós todos decidirmos.”
E The Donald tuitou: a liderança norte-coreana não continuará existindo durante muito mais tempo.
No entanto, parece que Washington ainda não desistiu de dobrar a resistência de Piongiang com sanções.
Com apoio da China e da Rússia, Trump fez aprovar no Conselho de Segurança das Nações Unidas novas sanções, ainda mais duras, duas das quais devem atingir o povo no coração:
-Proibição total da exportação de alimentos para a Coreia do Norte;
-Repatriação forçada de todos os norte-coreanos que trabalham no exterior. O que, além de aumentar sensivelmente o número de desempregados do país, cortaria preciosas somas que esses trabalhadores costumam enviar para suas famílias.
Na verdade, as sanções já em aplicação estão fazendo efeito considerável. Entrando em vigor as recentes, desabará um autêntico tsunami sobre os trabalhadores e pequenos agricultores da Coreia do Norte.
A produção norte-coreana de alimentos, de carvão e petróleo é suficiente para atender às necessidades prioritárias do país: administração, forças armadas e programas balísticos e nucleares.
Mas sobra muito pouco para o povo.
Os responsáveis pelos direitos humanos na ONU informaram ao Conselho de Segurança que cerca de 18 milhões de norte coreanos, 70% da população total, sofrem de aguda escassez de alimentos, o qual está trazendo insegurança alimentar generalizada. O que significa: as pessoas não sabem nem se vão poder comer no dia seguinte.
Com a falta de recursos médicos na maioria das regiões, aumentam os índices de mortalidade, particularmente entre as crianças mal alimentadas, que são muitos milhares.
As agências de ajuda humanitária oferecem “literalmente uma linha de vida” para 13 milhões de pessoas que dependem delas para continuarem vivendo.
É uma situação que se agrava, dizem os que zelam pelos direitos humanos na ONU, pelas sanções que dificultam e retardam a ajuda desesperadamente necessária.
O rígido controle imposto sobre as transferências dos bancos internacionais retardam as operações da ONU, prejudicando a entrega de rações alimentares, kits de saúde e outros auxílios humanitários.
O relator especial da ONU, Tomas Quintana, apelou para que o Conselho de Segurança avaliasse o impacto das sanções na ação das agências humanitárias. E agisse para que elas pudessem salvar a população da fome.
Acho que vai dar em nada.
A principal estratégia das sanções parece ser exatamente vencer a Coreia do Norte usando a fome como arma de guerra. Quanto mais dificuldades as agências humanitárias enfrentem para poder alimentar povo norte-coreano, mais os dolorosos efeitos das sanções se generalizarão no país.
Povo faminto é uma visão constrangedora até para ditadores, tem potencial para abalar a consciência de Kim Jong-un. E torná-lo mais receptivo às exigências americanas de que interrompa a produção e os testes com armas de destruição em massa para que se possa negociar um tratado de paz.
Admito que atribuir a Kim Jong-un uma consciência talvez não seja correto. No entanto, mesmo os ditadores precisam do amor e do apoio do povo, valores que alguns respeitam para se garantirem no poder.
O povo norte-coreano está acostumado a passar fome, já enfrentou anos de crise na produção de alimentos.
Deve ainda aguentar um bom tempo, sustentado pelo sentimento de defesa da pátria contra o inimigo americano. Prevê-se, porém, que sua resistência não deve durar muito mais.
A liderança de Piongiang deve estar a par dessa perspectiva sombria.
A corda já foi excessivamente esticada. Antes que acabe se rompendo, Kim Jong-un terá de optar: ou entra em negociações com os EUA, aceitando as pré-condições já exigidas por Washington, ou parte para o ataque.
Por sua vez, a Casa Branca está acompanhando o dilema que começa a assombra o governo inimigo.
Enquanto isso, as ameaças chovem, os treinamentos militares americanos se sucedem e o programa balístico nuclear dos norte-coreanos segue, promovendo novos testes.
Possivelmente, eles acabarão conseguindo montar uma ogiva nuclear naquele seu míssil intercontinental, capacitando-o a atingir os EUA com impacto (coisa que, no momento, eles ainda não tem condições de fazer).
No caso de Piongiang conseguir testar com êxito um míssil com essa capacidade, Trump e seus generais anunciaram que os EUA atacariam imediatamente, afim de proteger o solo da pátria.
Será que Kim Dong-un deixaria que isso acontecesse.?
Será que iria esperar inerte que o céu tombasse sobre ele e seu povo?
Os adversários sabem que atacar primeiro seria normalmente indesejável por suas sérias implicações éticas.
Só que, numa situação extrema, costuma valer tudo.
Atacando primeiro, se causa a maior devastação nos armamentos da outra parte, reduzindo sua capacidade de provocar danos substanciais numa retaliação.
Se for a Coreia do Norte, graças à imensa amplitude dos recursos bélicos americanos, os EUA ficarão ainda com imenso poder para revidar, transformando a Coreia do Norte num mar de ruínas.
Se for os EUA, o menor potencial retaliatório da Coreia do Norte ficará ainda substancialmente diminuído. Pouco lhes restará, teriam de pedir água, como acreditam os planejadores americanos de ataques pontuais.
Podem também se lançarem num contra-ataque desesperado e sem chance, a não ser de matar inutilmente mais alguns milhares (ou milhões) de pessoas, somente para que Kim Jong-un possa morrer como um herói ou (bem mais provável) fugir para a Suíça, em busca de um doce refúgio, saboreando os famosos queijos desse país.
Analisando esses fato, você vê que não se trata de alarmismo dizer que uma 2ª Guerra da Coreia tornou-se possível.
Depende do secretário de Estado, Rex Tillerson, e o secretário de Defesa, James Mattis, que aparentam sanidade mental, conseguirem segurar Donald Trump.
O problema é que, existirá na Coreia do Norte alguém capaz de segurar Kim Jong-un?