Isenções milionárias: desenvolvimento ou privilégio?

Quando o governo americano pediu ao Congresso licença para aumentar seu endividamento e assim poder pagar seus credores, você viu o que aconteceu. Os congressistas do Partido Republicano quase levaram os EUA à falência na defesa das isenções de impostos que Bush havia concedido aos milionários. Obama acabou tendo de renunciar a essa idéia e aceitando buscar em outras  fontes os recursos para salvar o país do default.

 Não pense que os republicanos admitem que estavam simplesmente pensando em preservar privilégios. Nada disso. Beneficiar os trabalhadores e o país, de um modo geral, seriam seus objetivos. Segundo os políticos do Great Old Party, o dinheiro poupado via isenções é, fatalmente, reinvestido na economia e no aumento de empregos.
O argumento dos republicanos é que os ricos, sendo gente que já tem tudo, não tem onde aplicar o dinheiro da isenção a não ser investindo na economia. E isso gera empregos, negócios, prosperidade para todos.
Difícil dizer se isto está mesmo acontecendo.
Políticos e economistas progressistas contestam a eficiência das isenções de Bush. E as verdadeiras motivações dos defensores da idéia. Diz Nancy Pelosi, Líder da Minoria democrata na Câmara dos Representantes: ”Eles estão empenhados em proteger cada fio de cabelo da cabeça de cada pessoa que ganha mais de 1 milhão de dólares por ano.”
Um certo número dessas pessoas tem se manifestado a favor do aumento dos impostos que vem pagando. 200 milionários, entre os quais Warren Buffett e Bill Gates, enviaram uma carta nesse sentido ao Partido Republicano.
Foi fundada uma organização, os “Milionários Patriotas”, formada por cidadãos com renda superior a 1 milhão de dólares, que também combate a isenção de impostos a gente como eles. Os “Milionários Patriotas” se dirigem a empresários, através de um vídeo, no qual fazem uma série de afirmações como estas: ”Os ricos não são causa, mas resultado de uma economia forte”; “Isenções de impostos significam menos dinheiro para estradas transportarem nossos produtos, para internet de alta velocidade para construir nossas companhias de alta tecnologia, para pesquisas científicas, para a Educação, para universidades e pesquisas para desenvolver nossa inovação.”
A discussão entre os que são a favor e os que são contra isenções de impostos para ricos vai esquentar nos próximos meses. Será quando o congresso discutirá a proposta do Presidente Obama de cortar isenções de impostos das pessoas com renda superior a 1 milhão de dólares. O pessoal do partido republicano já acusou Obama de estar estimulando a “luta de classes”. O milionário Warren Buffett entrou na briga, ironizando: “Há uma luta de classe, mesmo. Mas a minha classe – a classe rica- é que está fazendo a guerra e nós estamos ganhando. Eu sou um objetor consciente.”
Na verdade, o dinheiro que está em jogo justifica esta “guerra”.  Um estudo conjunto do Brooking Institution e do Urban Institute mostra que entre 2001 e 2008 as isenções para milionários  aumentaram o déficit público em 1 trilhão e 700 bilhões de dólares. Calcula-se que na próxima década cerca de 5 trilhões e 500 bilhões de dólares estarão recheando ainda mais as carteiras mais recheadas do país.
Embora as generosas leis do governo Bush fossem de 2003, a verdade é que há 25 anos a carga de impostos dos ricos já vinha sendo, digamos, suavizada. Se, como dizem os republicanos, as isenções de impostos beneficiam toda a comunidade, hoje deveria haver menos desigualdade social.
Vamos conferir. Em 1976, 33% da riqueza americana estava nas mãos de 1%, dos milionários. Hoje eles têm bem mais : 42% da riqueza total do país. Enquanto isso, a parte dos 80% mais pobre é de apenas 7%.
Como você vê, os números contam uma história diferente da visualizada pelos defensores das isenções milionárias.
Eles não costumam mentir.

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