Trump já falou muito em paz na Palestina, mas jamais em independência.
Agora, ele viaja para dialogar com Abbas e Netanyahu e o general McMaster, seu assessor-mor de segurança nacional, anuncia que o presidente irá promover a causa da paz, com uma Palestina independente.
Foi um bom progresso.
Convencer Abbas a topar conversações de paz vai ser fácil, mas com Netanyahu será diferente. O premier israelense tem declarando que aceita sentar-se à mesa das negociações com a Autoridade Palestina, desde que os palestinos reconheçam Israel como Estado sionista.
Na sua visita a Trump, Abbas respondeu indiretamente a Netanyahu, com o óbvio: “E nós queremos que Israel reconheça o Estado palestino assim como o povo palestino reconhece o Estado de Israel.”
Ou seja, reconhecimento mútuo, antes de tratar dos detalhes.
Parece justo, mas não para Bibi.
Ele já deixou claro que o reconhecimento de Israel deve ser uma pré-condição de um processo que poderia resultar na aceitação da auto- determinação da Palestina.
Este é apenas a primeira barreira a ser superada.
Supondo que The Donald convença o primeiro-ministro de Israel a ser razoável ou convença Abbas a aceitar a falta de reciprocidade na pré-condição israelense, caberá a Bibi (apelido de Netanyahu) encarar os ministros da direita pra lá de extrema do seu gabinete.
Muitos deles, senão a maioria, consideram a reivindicação de independência dos palestinos absolutamente inaceitável. Eles sabem que qualquer plano de paz envolveria fatalmente a devolução de parte dos territórios da Cisjordânia ilegalmente ocupada pelos assentamentos.
Tendo Netanyahu anunciado várias vezes que não pretende renunciar a um único assentamento israelense, será cobrado, começando pelos adeptos do Israel Home (Lar Judeu) o partido dos assentados. Provavelmente somariam com essa gente outros partidos que integram a coalisão pró-governo no parlamento.
Se todos eles romperem com Netanyahu, ele perde a maioria e também seu cargo de primeiro-ministro.
Vamos que até esse duro obstáculo seja vencido, talvez com Netanyahu esclarecendo que, como fez outras vezes, sabotaria as negociações. De acordo com o que o ex-presidente Barack Obama contou em entrevista à imprensa israelense: “As propostas de paz de Netanyahu incluíam tantas advertências, tantas condições que não é realístico pensar que essas condições poderiam ser atendidas em qualquer momento em um futuro próximo. “
Algumas dessas condições vão bater de frente com as reivindicações palestinas.
É público que o governo de Telaviv nunca aceitou que Jerusalém Leste, tomada ilegalmente por Israel, seja incluída numa futura Palestina independente.
A volta dos palestinos expulsos nas guerras de Israel? Nem pensar!
Palestina desmilitarizada, ocupação do vale do Jordão pelo exército de Israel e manutenção dos principais blocos de assentamentos são alguns pontos em que Israel fecha questão, apesar da posição favorável de Abbas.
Se, a despeito das afirmações de Obama, o processo de paz evoluir, seria necessária a participação do Hamas. Afinal, trata-se de um movimento que representa expressiva fatia da população palestina. E, indiretamente, aceitou a existência de Israel ao admitir um Estado palestino nas fronteiras de 1967.
Será que o Hamas toparia entrar em negociações que ele hoje condena como inúteis? E Israel, negociaria com um movimento que considera terrorista?
Por último, e talvez o mais importante, como se comportaria Donald Trump?
Duvido que se as negociações acontecerem ele deixe correr, sem dar um pio.
O que me parece provável é que, em eventual impasse ou mesmo num ponto controvertido entre as partes, ele ficará ao lado de Israel.
Que, nos EUA, tem por si a grande mídia, associações religiosas, poderosas corporações, a maioria dos parlamentares e muitos eleitores.
Sem tudo isso será difícil The Donald se reeleger.
É sempre surpreendente: Ariel Sharon, até o AVC, foi quem enfrentou mais claramente os assentados. Agora, Trump falando em Estado Palestino. O mundo nem sempre caminha em linha reta.
Abraço