Paz no Iêmen em vez de bombas: propostas de Obama à Arábia Saudita.

Depois de 19 meses de matança de civis pela aviação saudita, Barack Obama pediu o fim dos bombardeios no Iêmen.

Não quer mais que bombas americanas sejam usadas contra o povo iemenita.

Nos últimos 10 anos, 115,4 bilhões de dólares em armamentos e munições foram enviados pelos EUA para suprir a Arábia Saudita na guerra do Iêmen.

Até agora, o governo Obama  não atendera nem aos apelos de 60 congressistas, nem às organizações de direitos humanos, nem aos gritos de dor dos civis iemenitas para não mais fornecer as armas para a Arábia Saudita devastar o Iêmen.

Em 30 de outubro, relatório de Stephen O`Brien, coordenador de direitos humanos da ONU. Informava que o Iêmen estava “há um passo da fome”. ”80% dos iemenitas, 21,2 milhões de pessoas, necessitam de alguma forma de assistência humanitária. ” Desde o início do conflito, 10 mil crianças com menos de cinco anos morreram de doenças, que poderiam ser evitadas, caso não faltassem suprimentos médicos básicos.

Foi preciso que aviões sauditas bombardeassem um funeral, matando pelo menos 140 pessoas e ferindo mais 600, para que Barack Obama resolvesse agir.

De acordo com instruções do presidente, o embaixador dos EUA na ONU, Samantha Powers, declarou:

“Depois de 19 meses de lutas, deve estar claro que não há absolutamente nenhuma solução militar para o conflito. Ataques aéreos que atingem escolas, hospitais e outros bens civis tem de acabar. Em muitos casos, estes ataques danificaram infraestruturas-chaves essenciais para o envio de ajuda humanitária ao Iêmen.”

 

 

Ao mesmo tempo, os EUA apresentaram um novo plano de paz,  bem-visto de cara pelos houthis e contestado pela Arábia Saudita que, no entanto, pretende analisar as mudanças a serem implantadas na estrutura política do Iêmen, antes de se pronunciar oficialmente.

Esta posição dos EUA, exigindo o fim dos bombardeios e se recusando a continuar fornecendo armas ao governo de Riad, foi saudada como uma contribuição efetiva para forçar o fim da guerra.

Houve quem fizesse reparos.

Louis Chamberlain, diretor da Human Rights Watch, lembrou: “O apelo do embaixador dos EUA pelo fim dos ataques aéreos indiscriminados no Iêmen seria mais convincente se os EUA não tivessem fornecido à Arábia Saudita algumas das armas que acabaram sendo usadas nesses ataques.”

Tudo que ele disse é verdade.

No entanto, antes tarde do que nunca, se Obama realmente confirmar sua nova atitude pressionando a Arábia Saudita para interromper seu massacre de inocentes, será um grande ganho para a humanidade.

No entanto, há dúvidas de que isso venha a acontecer.

Em primeiro lugar, porque o novo governo conservador inglês, segundo maior fornecedor de armas aos sauditas, ainda não imitou o gesto americano.

Embora a influência dos EUA na política externa do Reino Unido seja poderosa, a nova primeiro-ministro, Tereza May, tem surpreendido por seu forte pragmatismo, sem laivos humanitários.

Pouco antes de Washington voltar atrás, o novo chanceler, Boris Johnson (chamado de “Boris o Vermelho”, não pelas suas tendências políticas mas por seu rosto avermelhado, típico de muitos apreciadores de scotch), havia justificado o envio de armas britânicas ao Reino, alegando que, se não o fizesse, outros fariam. E lucrariam.

Há também  quem veja no ato de Obama uma jogada não exatamente ética.

Dois antigos oficiais do departamento de Estado, Richard Sokolsky e Jeremy Shapiro, disseram no site War On The Rocks: “Revisão de política é uma velha e estabelecida técnica de Washington   para evitar a tomada de decisões duras. A esperança é que na época em que o processo de revisão terminar, a pressão política para se entrar em ação terá passado. O objetivo de uma revisão é frequentemente ganhar tempo e, assim, criar espaços para a administração continuar fazendo o que ela tinha feito, sem mudar a política. ”

Em suma, como pregava o príncipe Fabrízio,em IL Gattopardo, “é preciso mudar para continuar fazendo a mesma coisa.”

Talvez como um primeiro passo dessa obra de engenharia política, um alto funcionário do departamento de Estado disse: “O apoio dos EUA à coalisão (dos sauditas) é limitado e sob revisão. Nós temos bem claro que a cooperação que estendemos à Arábia Saudita não constitui endosso a operações ofensivas no Iêmen que ferem civis inocentes.”

Portanto, se os bombardeios matam crianças com munições nossas, não quer dizer que estamos aprovando este ato. Somos inocentes. Talvez no estilo de Pilatos.

Os próximos dias nos dirão se as boas palavras dos EUA na ONU serão concretizadas por boas ações, negando armas à Arábia Saudita e ,possivelmente, conseguindo que o Reino concorde com as propostas de paz de Obama, já aceitas pelos houthis.

Os sobreviventes iemenitas das ações devastadoras da Arábia Saudita agradecem.

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