Quando algum democrata lamenta as inúmeras frustrações causadas pelo Presidente Obama, a resposta costuma ser: “E o que você vai fazer, votar num republicano?
É um argumento poderoso.
Quem assistiu ao debate dos pré-candidatos do Great Old Party, sábado último, pela rede CBS, deve ter sentido quão eficientemente eles trabalham para reeleger Obama.
Um pais maciçamente contrário à Guerra do Iraque, que deseja o rápido fim da Guerra do Afeganistão, só pode ficar chocado com o ardor belicista de todos os republicanos.
Tanto Romney, o primeiro nas últimas pesquisas, quanto Gingrich, um azarão que vem subindo, são favoráveis a um ataque militar contra o Irã para liquidar seu programa nuclear.
Romney profetiza que, caso reeleito Obama, o Irã terá a bomba atômica.
Sendo ele o presidente, começará logo a preparar-se para a invasão.
Antes do ataque militar ao país dos aiatolás, todos os pré-candidatos são favoráveis, ao incremento das operações clandestinas.
Gingrich diz: “Antes de mais nada, o máximo de operações clandestinas para bloquear e desorganizar o programa iraniano, tirar seus cientistas e destruir seus sistemas.” E, conclui, algo malandramente:” Tudo clandestinamente, negando tudo.”
Pela expressão “tirar seus cientistas”, Gingrich referia-se à atual estratégia israelense de assassinar cientistas nucleares iranianos (3 já foram), fato não desmentido pelo Ministro da Defesa de Israel. Ou seja, ele é a favor de práticas terroristas.
Rick Santorum, outro azarão, aplaudiu seu colega e lembrou uma campanha clandestina de cyber-terrorismo, responsável pela destruição de sistemas importantes do programa nuclear iraniano. Os EUA jamais admitiram a autoria dessa campanha, que teria sido executada em conjunto com Israel. Não ficaria bem ao país patrocinar manobras de hackers… Mas Santorum acha o contrário :”Espero que os EUA estejam envolvidos nisso. Espero que estejamos fazendo tudo que é possível clandestinamente para assegurar que aquele programa (do Irã) não vá pra frente.”
Continuando nesse pique agressivo, os homens do GOP reclamaram a volta do “waterboarding”. Como se sabe, é uma técnica que reproduz a sensação do afogamento, aprovada por George Bush e proibida por Barack Obama (foi das raras mudanças que ele promoveu).
Herman Cain garantiu que traria de volta o “waterboarding”, que, aliás, ele não considera tortura. Embora não perguntado, fez questão de afirmar seu apoio a Guantanamo, aquela prisão no Caribe onde centenas de suspeitos estão presos, alguns há 9 anos, sem direito a julgamento.
Michele Bachman, Romney e Gingrich apressaram-se a aplaudir o “water boardign” e a garantir sua reaplicação caso algum deles vencesse.
Rick Perry foi além. Indiretamente, defendeu as torturas, “técnicas interrogativas necessárias” para extrair informações do inimigo, que salvam vidas americanas. Afinal: ”Isto é guerra. É o que acontece na guerra”.
“É essencial mantermos Guantanamo aberta. Temos de usar técnicas de investigação “intensificadoras” (um neologismo, significando “tortura”),” afirmou Santorum. E concluiu, enfático:”Todas as técnicas de interrogação intensificadoras” . A SS e a KGB poderiam prestar valiosas informações ao candidato…
Sem mudar muito de assunto, o mesmo Santorum condenou aqueles que acham errado o uso de tribunais militares para julgar suspeitos civis de terrorismo: ”Usar tribunais civis (para eles) é uma das piores idéias que eu já ouvi. Os tribunais civis são para pessoas que detém direitos de acordo com a Constituição. Pessoas que atacam nosso país são combatentes estrangeiros e não tem esses direitos.”
Dos tribunais às execuções sem julgamento era um pulo. E os republicanos entraram de pé alto nelas.
Assassinatos de suspeitos de terrorismo no exterior por ordem do presidente é considerado legítimo por Gingrich: “A decisão do presidente é o império da lei”.
De forma semelhante, todos os apoiaram.
Menos Ron Paul.
Como sempre, Ron Paul é a única voz dissonante no coro pré presidencial republicano.
Ele negou o direito do Presidente condenar e mandar matar quem considerar um inimigo dos EUA. Pela Constituição americana ninguém pode ser condenado sem um julgamento com amplo direito de defesa.
Opôs-se também a todas as formas de torturas, inclusive o “waterboarding”. Nisso foi secundado pelo candidato Jon Huntsma que declarou: ”Nós enfraquecemos nossa posição no mundo e os valores que projetamos que incluem liberdade, democracia, direitos humanos e mercado livre, quando nós torturamos. “Waterboarding” é tortura.
Para sorte de Obama e azar dos EUA, tanto Ron Paul quanto Jon Huntsman não tem chances de ganhar a indicação republicana. Na última pesquisa Gallup, Paul tinha 8%, enquanto Huntsman, apenas 1%.
Os favoritos, segundo esta pesquisa, realizada entre 2 e 6 de novembro, eram Mitt Romney e Herman Cain, empatados com 21%.
O Gallup também testou Obama contra “qualquer republicano”. E deu 43% x 42% para Obama. No entanto, essa diferença tende a aumentar.
Em pesquisa realizada na Florida pela Suffolk University, perguntou-se se o entrevistado acreditava que os republicanos estavam intencionalmente se esforçando para prejudicar a economia, objetivando derrotar Barack Obama. 49% responderam “sim,” enquanto 39% negaram e 20% não souberam responder. Considerando que a Florida não é dos estados onde os democratas são mais fortes, esses números são assustadores para os republicanos. Com uma hábil campanha de marketing no decorrer da campanha eleitoral, a situação do candidato republicano tende a se deteriorar profundamente.
Sua sangrenta visão da política externa americana não o ajudará nada. Nem mesmo idéias ridiculamente imperialistas como aquela veiculada em entrevista pela pré-candidata Michelle Bachman.
Em entrevista depois do debate, Michelle propôs que os 800 bilhões de dólares gastos pelos EUA na Guerra do Iraque deveriam ser pagos pelo povo iraquiano. Afinal, os EUA teriam invadido e ocupado o Iraque em benefício desse povo. Michelle acrescentou que cada iraquiano deveria indenizar as famílias americanas que perderam algum dos seus filhos, que deveriam receber alguns milhões de dólares.
Michelle Bachman havia se notabilizado por afirmar que, sendo Israel abençoado por Deus, os EUA perderiam todos os benefícios divinos caso abandonassem a causa israelense.
Com certeza, ela não será indicada para concorrer a presidente pelo Partido Republicano.
No entanto, deve participar da campanha eleitoral do candidato escolhido, quando então, com estas idéias, ajudará a dar muitos votos para Barack Obama.