Nas últimas eleições, os conservadores linha-dura do Irã planejavam acabar de vez com os reformistas e moderados, criando ainda condições para evitar a re-eleição de Rouhani no pleito de 2017.
Além de colocar toda a mídia estatal a favor dos seus candidatos, ousaram um lance que pensavam decisivo. O Conselho dos Guardiães, formado por aiatolás linha-dura, a quem incumbe aprovar os candidatos aos cargos eletivos, vetou 3.000 reformistas e moderados (em Teerã aprovou apenas 30).
Mas o prestígio do presidente Rouhani, conquistado com o acordo nuclear que pôs fim às sanções devastadoras da economia iraniana, a abertura do Irã ao investimento estrangeiro e várias atitudes a favor de liberdades públicas, pesou mais.
A aliança de moderados e reformistas ganhou os 30 lugares de Teerã no parlamento. E apesar da força dos conservadores no interior e da falta de resultados de algumas províncias, os dados indicam que os seguidores de Rouhani obtiveram maioria nos 290 lugares do Maji (parlamento iraniano).
Essa vitória parece ter se repetido na outra eleição realizada junto, do chamado Conselho dos Especialistas”, que elege e pode até destituir o Líder Supremo.
Por exemplo, os aliados elegeram 15 entre os 16 assentos que cabem a Teerã, nessa instituição de 88 membros.
Há diferenças conceituais entre os dois grupos da aliança.
Enquanto os reformistas pregam a separação entre o estado e a religião, os moderados do presidente pensam de outro modo.
Querem manter estado e religião unidos, porém, com menor predomínio dos aiatolás e uma interpretação moderna das leis islâmicas, longe da atual, que pouco mudou desde o século oitavo.
Seja como for, Rouhani tem demonstrado uma firme intenção de tornar seu país uma democracia moderna, com respeito aos direitos humanos e às liberdades civis.
Não será fácil.
Tem contra os juízes do pais, presos a leis superadas e mesmo brutais, como a execução de pessoas pelar prática de atos homosexuais.
No entanto, isso pode mudar pois o chefe do poder Judiciário é nomeado pelo Conselho dos Especialistas, agora em mãos da aliança moderado-reformista.
A conservadora Guarda Revolucionária também se opõe ao liberalismo do presidente.
Hoje ela é muito mais do que um corpo militar, possuindo uma vasta rede de empresas diversas, desde bancos, ate manufaturas e construtoras.
A Guarda Revolucionária controla a mídia, forças militares, serviços de inteligência e a polícia da moral.
Não está muito claro a quem está subordinada, daí sua semi-independência.
Certamente, respeita o Líder Supremo Khamenei. Também um personagem preso ao passado e virulentamente anti-americano.
Mas Khamenei tem demonstrado pragmatismo, aceitando as negociações nucleares iranianas com o Ocidente. Sabia que livrar seu país das sanções econômicas era vital para o bem estar do povo.
Teoricamente Khamenei poderia anular as eleições, onde os seus partidários conservadores foram vencidos.
Mas não o fez para evitar chocar-se frontalmente com a opinião pública, empolgada com as mudanças de ares que visualiza no país.
Lembro que o Conselho de Especialistas tem poderes para demiti-lo. Sendo algo chocante, repudiado pela nação, essa medida é hoje absolutamente improvável. No entanto, o Conselho de Especialistas pode influenciar as decisões do Líder Supremo.
Há sólidas esperanças de que elas não se oponham à ansiedade do Irã se reintegrar na comunidade internacional e desenvolver seus vastos recursos de petróleo, gás e minerais raros.
Não dá para imaginar que um país de 80 milhões de habitantes , com tantas riquezas naturais, irá aceitar voltar aos limites estreitos impostos pelo passado.
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