Síria: Assad está ganhando.

No segundo semestre de 2015 o regime Assad parecia estar desmoronando.

Depois de receberem vasto suprimento de armas modernas americanas (via Arábia Saudita e Turquia), como mísseis anti-tanque e artilharia anti-aérea, os rebeldes lançaram uma grande ofensiva.

Ao norte, as forças do movimento Nussra (filial da al Qaeda) conquistaram toda a província de Idlib, enquanto outras tropas aliadas tomavam mais cidades na região de Alepo, ocupando ¾ da cidade, a maior da Síria.

No sul, o avanço dos moderados e seus parceiros jihadistas prosseguiu chegando a combater nos arredores de Damasco.

O Estado Islâmico estava presente em toda região, embora de forma pouco significativa.

O território sob domínio do governo não chegava a 30% da área total do país, embora ali se concentrasse 66% da população.

No centro e no leste sírio, a presença das forças leais a Assad era mínima, cabendo aos curdos o peso principal no enfrentamento do Estado Islâmico

Foi quando Putin decidiu intervir.

Anunciou que passaria a bombardear pesadamente o Estado Islâmico.

E assim fez.

 

Em 30 de setembro, aviões russos bombardearam objetivos dos bárbaros fanáticos mas também largaram bombas em posições rebeldes.

Diante dos protestos dos EUA, Putin alegou que seu objetivo era destruir terroristas – tanto o Estado Islâmico, quanto o Nussra e outros grupos jihadistas, casualmente integrantes do exército anti-Assad.

Nas semanas seguintes, bombardeios russos se sucederam não só sobre o território ocupado pelo Estado Islâmico, mas também  onde combatiam os rebeldes.

O efeito devastador das bombas russas paralisou o avanço deles.

E, com apoio da aviação de Putin, o exército do governo lançou-se a uma contra-ofensiva.

Que mudou o jogo.

No norte, as tropas de Assad reconquistaram muitas cidades da região de Alepo, e estão perto de cercar completamente a cidade, parcialmente dominada pelos inimigos.

Trata-se de um objetivo muito importante pois fechará a fronteira com a Turquia por onde entram armas e suprimentos para o inimigo.

Está muito perto de acontecer a batalha de Alepo, considerada decisiva por muitos observadores.

A cidade de Latakia e a maior parte da província desse nome foi recuperada e importantes ganhos obtidos na região de Homs.

Ao Sul, o exército sírio, sempre apoiado pela aviação russa, conquistou muitas cidades e vilas, limpando a região de Damasco de inimigos.

Quando o governo Assad estava a perigo, Obama exigia a renúncia do presidente para haver paz. Os rebeldes queriam mais: rendição total.

Mas, com a entrada dos russos, a sorte da guerra virou e a posição americana também mudou.

Agora, o secretário de Estado John Kerry  fala em negociações de paz sem pré-condições, visando inicialmente um cessar fogo, logo seguido pela formação de um governo de transição – com gente dos dois lados- para se fazer eleições gerais daqui a 18 meses.

Proposta de que a Rússia é co-autora.

No entanto, Kerry  e Obama prosseguem repetindo que, no fim, Assad terá de renunciar.

Enquanto isso, assessores anônimos admitem que os EUA acabarão tendo de aceitar a presença de Assad pelo menos durante o governo de transição.

Esta ambigüidade irritou o primeiro-ministro francês, Laurent Fabius, que comentou com repórteres: “Não sentimos haver um comprometimento muito forte por lá (nos EUA).”

Por sua vez, graças à posição de força conquistada nos fronts de batalha, os russos continuam firmes defendendo Assad.

Exigem a presença dele no governo de transição, deixando em aberto seu direito a concorrer nas eleições projetadas.

Mesmo nas negociações de paz de Genebra, interrompidas temporariamente, não deixam de prosseguir sua ofensiva aérea.

Diante dos protestos do Ocidente, concordaram num cessar fogo para serem socorridas as populações das cidades sob cerco militar do governo sírio.

A surpresa é que começaram a apoiar com seus bombardeios os ataques ao Estado Islâmico desferidos pelos curdos.

Os curdos do mesmo YPG, cujas ofensivas até agora dependiam dos bombardeiros americanos.

Ao mesmo tempo, anuncia-se que Kerry e Lavrov, ministro do Exterior da Rússia, chegaram, por fim, a um acordo definitivo.

Seria lógico, afinal as duas potências querem acabar com a guerra.

Só assim poderão juntar forças para derrotar os fanáticos do Estado Islâmico.

Passos decisivos na solução dos dois conflitos poderão inflar a imagem de Obama, fortalecendo seu partido nas eleições de novembro e abrilhantando sua biografia.

Já Putin não vê a hora dos sírios fumarem o cachimbo da paz.

Ele está gastando na guerra mais do que seu país poderia, além de desejar melhorar sua imagem na Europa, de olho na possível retirada das sanções anti-Rússia.

 

 

2 pensou em “Síria: Assad está ganhando.

  1. Como a Russia, Iran, milicias pro Síria…fazem a diferença. O EUA estão vendo que desse jeito eles não ganharão a guerra nem tirarão Assad do poder

  2. COMO ASSIM, A RÚSSIA ESTA GASTANDO MAIS DO QUE PODIA NA GUERRA NA SÍRIA? OS EQUIPAMENTOS BÉLICOS SAO DE SEGUNDA LINHA E NAO CHEGAM 1 POR CENTO DO PODER DE FOGO DA RÚSSIA, A RÚSSIA EM BOA PARTE, APENAS DESCARTANDO MATERIAL BÉLICO DE SEGUNDA LINHA. VALE LEMBRAR QUE ESSA CONTA SERA REPARTIDA COM A PROPRIA SIRIA, OU ACHAM VOCES QUE A RUSSIA ESTA FAZENDO ISSO POR ACHAR ASSAD BONITINHO?

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