Depois de baixíssimo comparecimento nos dois dias marcados para a eleição presidencial egípcia, a ditadura militar marcou mais um terceiro para atrair mais eleitores.
As rádios, TVs e jornais fizeram uma blitz conclamando o povo a fazer seu dever. Pesadas multas foram criadas para punir os não votantes.
Um conhecido comentarista chegou a dizer que quem ficasse em casa deveria ser fuzilado.
Não adiantou nada.
Estima-se que houve de 35% e 44% de eleitores, o menor número entre as diversas eleições desde a queda de Mubarak. Menos do que na eleição de Morsi, derrubado pelos militares, quando houve 51,9% de votantes.
O marechal Sissi, o vencedor, obteve mais de 90% dos votos, porcentagem comum a “salvadores da pátria”, como Saddam Hussein, Mubarak, Assad e outros.
Seguindo o exemplo desses cidadãos,o regime de Sissi, previamente, pôs fora da lei seus adversários, especialmente a poderosa Irmandade Muçulmana, cujos líderes foram presos e mais de mil ativistas, mortos.
O marechal Sissi havia declarado que esperava 40 milhões de votos favoráveis para mostrar que no Egito ele dispunha de um expressivo consenso nacional.
Com uma abstenção de cerca de 60%, a votação ficou muito longe do previsto, restando muitas dúvidas sobre esse consenso.
A ONG americana Democracy International, que espalhou 86 observadores pelo país para fiscalizar o evento também revelou dúvidas.
Ela questionou a validade da eleição, devido à determinação de um terceiro dia de votação – numa clara tentativa para aumentar o comparecimento e dar maior credibilidade à vitória.
A Democracy International “levantou mais questões sobre a independência da comissão eleitoral, a imparcialidade do governo e a integridade do processo eleitoral egípcio.”
Enfim, nada de inesperado numa eleição patrocinada por um regime militar ditatorial.
A não ser, é claro, um dia a mais para as votações, o que não deixa de ser muito criativo.