Afeganistão: a impunidade americana.

O presidente Karsai do Afeganistão está dificultando a assinatura do Tratado Bilateral para permanência de uma pequena parte do exército americano.

Obama quer cumprir sua promessa de sair do Afeganistão, em fins de 2014, mas pretende manter cerca de 10 mil soldados para enfrentar os talibãs.

Karsai sabe que sem essa tropa pode ser vencido pelos rivais e, na certa, perderá os 8 bilhões de dólares prometidos pelos EUA para ajuda econômica e militar.

Mas exige que acabem as operações noturnas pelas tropas especiais americanas, que enchem de medo e raiva a população, por invadirem violentamente os lares, acordando as pessoas e levando presos muitas delas como suspeitos para averiguações.

E ele ainda coloca mais dificuldades, afirmando que só assinará o tratado depois de eleito o novo presidente, em abril do ano que vem.

O que o faz hesitar muito é a insistência do governo Obama em colocar suas forças armadas sob jurisdição americana.

Karsai teme que os crimes dos militares fiquem impunes.

Ele tem seus motivos.

Soldados americanos cometeram até agora diversos crimes de guerra contra afegãos, como execuções extra-judiciais, torturas e desaparecimento de pelo menos 17 homens, conforme o repórter Mathieu Aikins, na revista Rolling Stones.

Comentando essa denúncia, a Human Rights Watch afirmou: ”Os EUA tem um fraco desempenho na investigação e processo das violências contra os direitos humanos durante os 12 anos da sua presença militar no Afeganistão.”

A Reuters revelou que o serviço de inteligência do Afeganistão desistiu de investigar o assassinato de um grupo de civis depois de ter sido impedido de interrogar soldados das forças especiais americanos, suspeitos de envolvimento no crime.

A “equipe de assassinatos”, uma unidade militar que planejou e realizou a execução de civis inocentes, guardando seus corpos mutilados como “troféus”, recebeu penas leves da justiça americana.

Com exceção do líder, todos foram sentenciados a poucos anos de prisão, devendo ser liberados sob condicional em 2 anos.

O próprio líder, descrito por um dos réus como “o diabo”, embora condenado à prisão perpétua, terá direito a condicional em 10 anos.

O governo americano deu prazo até o fim do ano para Karsai assinar o tratado.

Caso contrário, será decretada a “opção zero” e não ficará um só soldado americano no país.

Preocupado com a decisão do presidente afegão, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, afirmou que, caso ele não tope, poderá acionar algum ministro para assinar o Tratado Bilateral.

O que seria uma grave infração da soberania afegã já que assinar tratados é prerrogativa do presidente.

Kerry não parece preocupado com esse tipo de coisas.

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