Obama sempre condenou as ações unilaterais de Bush.
Para ele, os EUA só deveriam intervir em outro país em conjunto com a comunidade internacional.
Logo depois de anunciar o próximo ataque à Síria, Obama e auxiliares iniciaram uma maratona de contatos para convencer líderes americanos e do exterior a aderirem à sua posição.
Eufórico, John Kerry, o secretário de Estado não esperou muito para garantir que Assad já estava julgado e condenado pelo mundo.
Portanto, pra que esperar pelas conclusões das investigações da ONU e pela autorização do Conselho de Segurança, que Rússia e China bloqueariam,mesmo : vamos atacar já.
Falava-se que até quinta-feira passada.
Kerry não deveria ser tão apressado.
Enquanto o assunto era discutido, o povo americano e da Europa, mais os líderes da maioria dos países amigos, começaram a roer a corda.
A tese radical do “atacar primeiro, investigar depois”, posta em prática por Bush no Iraque, perdeu força.
E, mais grave, nos próprios EUA e no Reino Unido.
Pesquisa da Reuters revelou que 60% dos americanos repudiavam o ataque sem ONU, nem investigações. E mais: a intervenção militar era condenada por 46% x 25%, mesmo que se provasse a culpa do governo sírio.
Enquanto isso, 162 representantes, inclusive democratas, pediam que Obama ouvisse o congresso.
No exterior, a Liga Árabe, em maioria culpava Assad, mas não queria intervenções militares sem resolução do Conselho de Segurança.
Países aliados como Áustria, Egito, Polônia, Canadá, Jordânia, entre outros, foram pelo mesmo caminho. A Jordânia ainda acrescentou que não cederá seu território para lançamento de ataques à Síria.
Mesmo na Alemanha, onde o placar de pesquisa da Tv ZDF foi de 58% x 33% contra o ataque, o governo vacila.
Afinal, as eleições vem aí e não convém desgostar os eleitores…
Na América do Sul, todos os países do UNASUL, inclusive o Brasil, exigiram respeito à legislação internacional, que só permite intervenções militares com a chancela da ONU.
O único país que topou unir-se às operações americanas foi a França, que, aliás, acaba de fechar com a Arábia Saudita (grande inimiga de Assad) um negócio de um 1 bilhão de euros, envolvendo a venda de 6 vasos de guerra.
Mas, o povo francês não apoia Hollande: pesquisa do jornal Le Parisien revela que 64% dos respondentes são contra o ataque à Síria.
A Turquia, os países do Golfo e Israel batem palmas para Obama, mas, por enquanto, não falaram em apoios militares.
Respeitáveis instituições internacionais também condenaram a proposta belicosa da Casa Branca.
A Cruz Vermelha, porque o ataque resultaria num brutal influxo de ondas de refugiados para países vizinhos que já não tem condições de cuidar dos que lá chegaram.
E os “Médicos Sem Fronteiras, que reduziram para 355 mortos os 1.429 anunciados por John Kerry, lembraram não haver provas definitivas de um ataque químico. Seria necessário esperar pelas conclusões da Comissão da ONU.
O papa Francisco, o arcebispo de Canterbury e o bispo Desmond Tutu (herói da luta anti- apartheid) foram unânimes na condenação da intervenção, afirmando que só negociações resolveriam.
Duro pra valer foi o que aconteceu no Reino Unido, o eterno aliado dos EUA.
Quando Obama bateu o martelo, Cameron apressou-se a apoiá-lo, a garantir a participação militar inglesa em mais esta aventura guerreira patrocinada por Washington.
Mas o Parido Trabalhista protestou, alegou que não havia provas contra Assad, seria necessário esperar pelas conclusões da ONU e a decisão do Conselho de Segurança.
Numa longa discussão, o Congresso inglês ficou contra Cameron e Obama, com votos de todos os trabalhistas, além de muitos conservadores e liberais.
A argumentação do premier inglês, que não apresentou provas – apenas garantiu que existiam- não pegou. No fim, ele acabou admitindo que, 100% de certeza, ele não tinha.
Dois fatos pesaram muito na derrota conservadora.
Em 2003, o parlamento aprovou a guerra contra o Iraque baseado em mentiras de Tony Blair. Desta vez, a maioria dos deputados não quis se arriscar a repetir um erro de tal gravidade.
Também influiu bastante na votação pesquisa do Daily Telegraph que mostrou apenas 11% dos ingleses a favor do ataque.
A inesperada oposição da maioria da opinião pública mundial, inclusive dos “grandes amigos” de Washington, balançou Obama.
O ataque, programado para quinta-feira, 30 de agosto, foi adiado.
Mas não cancelado.
Obama vai sozinho, impondo suas posições ilegais ao resto do globo.
Bem no estilo Bush, master of the world.