Mohamed Morsi vem travando uma queda de braço com as forças militares desde sua posse como presidente, em julho de 2012.
Tendo assumido o governo provisoriamente depois da queda de Mubarak, os generais fizeram de tudo para conservar seus poderes mesmo depois das eleições.
O povo realizou grandes manifestações de protesto contra essas manobras castrenses, sendo reprimido por vezes com extrema brutalidade.
Durante a campanha presidencial, Morsi prometeu que, eleito, trataria de investigar e punir todas as violações dos direitos humanos praticadas, não só pela polícia, como também pelo exército.
E de fato, logo depois de empossado, nomeou uma comissão para iniciar o cumprimento da sua promessa.
Não demorou muito e os líderes militares receberam um golpe duro em suas pretensões hegemônicas.
Por ordem do presidente, foi aposentado o líder da junta militar que governara o país, o Marechal Tantawi. Foram pelo mesmo caminho o chefe do estado maior das forças armadas e diversos outros generais importantes.
Morsi os substituiu por oficiais jovens, tidos como identificados com a revolução.
Mas cedo ele começou a fraquejar.
Precisando do apoio militar para enfrentar a oposição na luta elaboração da nova constituição, seu partido aceitou artigos difíceis de engolir: ministro da Defesa sempre escolhido entre oficiais da ativa; orçamento militar e decisões sobre guerras a cargo de um Conselho Nacional de Defesa repleto de generais e julgamento de civis pela justiça militar em casos que “prejudiquem as forças armadas.”
Depois disso, a desconfiança dos ativistas que fizeram a revolução cresceu.
Hoje ela se transformou em certeza de que Morsi fez um acordo com os militares no qual eles o apoiam e em troca mantém uma série de privilégios.
Passou-se a descrer que ele levará adiante a investigação e punição dos responsáveis por assassinatos e torturas de civis durante a revolução de 2011.
Eis que vazou para imprensa que a comissão formada com esse fim apresentara a Morsi um relatório preliminar sobre o tema.
Foi apurado que forças militares participaram de grande número de ataques brutais contra manifestantes , sendo responsáveis por execuções sumárias, torturas e desaparecimentos de pessoas.
O relatório solicita ao presidente investigações mais profundas, visando os generais em comando nas áreas de segurança para descobrir quais foram os responsáveis pelos crimes cometidos.
Agora, a bola está com Morsi.
É sua chance de mostrar que continua fiel aos ideais da revolução.
Se é que isso é verdade.