Em julho passado, num atentado suicida na Bulgária, morreram 5 turistas israelenses e o motorista búlgaro, além do suicida.
Logo no dia seguinte, uma investigação local, com ajuda de agentes americanos e israelenses, descobriu quem seria o culpado.
O New York Times publicou: “Autoridades americanas… identificaram o responsável pelo ataque mortal contra turistas israelenses como um membro da célula do movimento palestino Hisbolá, que agia na Bulgária em busca de um alvo, corroborando afirmações de Israel.”
O governo búlgaro encampou essa tese.
Mas, só 6 meses depois veio a público para comunicar , não uma acusação documentada, mas uma “presunção racional” de envolvimento no crime de “membros da ala militar do Hisbolá”.
Com base nessa “razoável presunção”, a Bulgária pedia que a Europa Unida colocasse o Hisbolá na sua lista de movimentos terroristas, a exemplo do que acontece nos EUA.
Esta solicitação recebeu logo o apoio total dos EUA e de Israel, que aliás já haviam há tempos colocado o Hisbolá no banco dos réus.
No entanto, os ministros dos países europeus, reunidos na ocasião, resistiram, exigiram evidências concretas da atuação do Hisbolá no caso.
E elas não existem no relatório da investigação búlgara, que apresenta apenas “presunções” e hipóteses, baseados em fatos de importância altamente discutível.
Ainda em janeiro, a procuradora- que chefiou a investigação búlgara fizeram revelações que desmoronam as afirmações do governo búlgaro de que descobrira ligações entre o crime e o Hisbolá.
A procuradora, em entrevista publicada em jornal local, declarou que os indícios disponíveis eram insuficientes para apontar os responsáveis.
Na mesma época, ao ser entrevistado, o ministro Tsvetanov voltou a referir-se às “presunções racionais” e contou quais eram esses indícios.
O primeiro é que o suicida e um comparsa tinham um estilo de vida “muito ordeiro e simples”.
Presunção racional do ministro: isso sugere que ambos passaram por um treinamento similar. Provavelmente pelo Hisbolá.
O segundo indício seria o fato de ambos terem cartas de motorista falsas, que foram falsificadas em Beirute.
Bem, quanto ao primeiro chamado indício, não há o que comentar.
Quanto ao segundo, de fato, o Hisbolá tem sede em Beirute. Ele e mais um sem número de movimentos jihadistas, a maioria muito mais radical e agressiva.
Ao revelar estas informações, o ministro afirmou: “Uma presunção racional, eu repito, uma presunção racional pode ser feita de que os dois eram membros da ala militar do Hisbolá.”
O entrevistador comentou, então, que, na verdade, a acusação ao Hisbolá não passava de uma conjectura.
O ministro meio que concordou com ele ao concluir que o termo certo seria uma “hipótese fundamentada…”
Vou apresentar também uma “hipótese fundamentada” sobre o caso.
Considere estes fatos:
– a participação de agentes americanos e israelenses numa investigação do crime cometido em outro país, no caso a Bulgária;
– a acusação ao Hisbolá, feita por americanos e israelenses, logo no dia seguinte, sem tempo para uma investigação séria, referendada de forma vaga pelo governo búlgaro;
– a campanha promovida pelos EUA e Israel para que a Europa ponha o Hisbolá na sua lista de terroristas, apoiada pela Bulgária, com hesitação, ou mesmo vergonha, nítidas no uso de expressões vagas como “hipótese fundamentada” e “presunção racional”;
– o governo búlgaro de direita, liderado pelo ex-guarda-costas Boyko Borisov, é firme aliado dos EUA.
Tudo isso sugere que o governo americano pressionou o governo búlgaro para acusar o Hisbolá do atentado e pedir sua condenação pela Europa Unida.
O Hisbolá negou tudo.
E seu chefe, Nassarallah, anunciou que fará um pronunciamento sobre a questão na homenagem que será prestada a três falecidos líderes do movimento.
São eles: o sheik Hagueb Harb, morto na aldeia de Jebchit, no sul do Líbano, em 1984, pelas forças israelenses de ocupação; Abbas Al-Moussawy, morto no mesmo local, em 1992, por disparos de um helicóptero, e Imad Mughnnyeh, morto em Damasco, em 2008, na explosão de uma bomba no seu carro.
Todos eles foram assassinados pelo exército ou forças de segurança israelenses.
Os EUA jamais pediram que a Europa Unida colocasse Israel na sua lista de terroristas.