Os noticiários sobre o caso Assange tem apresentado abundantes informações a respeito.
Mas não são completas, algumas foram sonegadas ou distorcidas.
Há poucas semanas, o governo do Equador propôs ao governo da Suécia que Assange fosse interrogado na sua embaixada em Londres.
O governo sueco não topou e não explicou as razões.
Demonstrou desinteresse em resolver a questão de forma negociada. Ficou clara sua intenção de forçar a extradição de Assange para colocá-lo à sua mercê.
Teria razão?
Sven-Erik Alhen, antigo procurador-chefe do distrito de Estocolmo, diz que não.
Para ele, a decisão de extraditar Julian Assange foi “irrazoável e anti-profissional , assim como injusta e desproporcional.”
É preciso esclarecer que o criador do Wikki Leaks não foi sequer acusado formalmente num processo. Por enquanto. o procurador sueco pediu sua prisão para interrogatório.
Todo esforço que o governo sueco está fazendo para extraditá-lo seria justificado se fosse grave o crime do qual ele é, tecnicamente, apenas suspeito.
Gravidade um tanto discutível.
De fato, embora Wilian Hague, o Ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, fale que as acusações contra Assange sejam de “ofensa sexual grave”, e nossa grande mídia explique que se trata de estupro, imputa-se a ele simplesmente ter mantido relações sexuais sem camisinha.
Na verdade, na Suécia isso é caracterizado como estupro. Lei estranha mas, tudo bem, dura lex, sed lex.
Mesmo essa ação não sendo muito moralmente condenável, é contestada por Assange. Há fortes suspeitas de que a coisa toda foi planejada para incriminá-lo.
Sendo isso real ou não, parece provável, ou pelo menos bastante possível, que, uma vez na Suécia, Assange seria recambiado para os EUA pelo governo conservador que dirige o país.
Lá ele seria processado por ter divulgado, através do seu Wikki Leaks, centenas de milhares de documentos que mostraram as violências, mentiras e jogadas desonestas da política americana no ultramar.
Imperdoável para o Pentágono e o Departamento de Estado.
Há algumas evidências nesse sentido: de acordo com o grupo Strafor, consultores da defesa de Assange, um indiciamento já foi emitido contra ele por um grande júri secreto em Alexandria, estado de Virginia; há declarações de importantes autoridades americanas como a senadora do Partido Democrata, Diane Feinstein, de que ele deveria ser processado por espionagem, cuja pena pode chegar a morte ou a prisão perpétua.
Considerando que haveria fortes chances da extradição de Assange acabar levando-o para os EUA, onde seria submetido a um processo por razões políticas que poderia concluir com sua condenação à pena capital, o governo do Equador concedeu a extradição.
O Reino Unido negou-se a aceitá-la.
Apesar dos noticiários locais apresentarem como algo incerto, a verdade é que o governo inglês ameaçou mesmo invadir a embaixada do Equador para prender Assange e retirá-lo à força.
O texto que o embaixador inglês em Quito enviou, em nome do Foreign Office, ao governo local dizia:
“Vocês precisam estar cientes de que há uma base legal no Reino Unido, o ato 1987 das Propriedades Diplomáticas e Consulares, que nos permitiria tomar ações a fim de prender o Sr.Assange nas instalações da sua embaixada. Sinceramente esperamos não precisar esperar chegar a esse ponto, mas se vocês não são capazes de resolver esse assunto da presença do Sr.Assange nas suas instalações, isso é uma porta aberta para nós.”
Portanto, o Reino Unido ameaçou o governo do Equador de invadir sua embaixada, violando as leis internacionais, que consagram a inviolabilidade das embaixadas.
A reação do Ministro das Relações Exteriores, Patiño foi precisa e justa: “O Equador não é colônia da Inglaterra.”
Talvez devido à chuva de críticas que caiu sobre ele, vinda de toda a parte, o governo inglês deixou de lado sua arrogância e deu o dito por não dito.
Não vão invadir a embaixada. Mas Assange, provavelmente, não sai.
Pelo menos enquanto o Partido Conservador estiver no poder.