EUA X Irã, uma luta pela hegemonia.

Dia 1º de julho começou o último round da luta EUA x Irã.

Foi quando entraram em ação as sanções da Europa Unida contra os iranianos.

As sanções da ONU pouco afetaram o regime da revolução islâmica, mas as dos americanos estão sendo muito duras.

Segundo a International Energy Agency, as exportações iranianas de petróleo caíram 40%, desde o começo do ano; de 2,5 milhões de barris diários para apenas 1,5 milhões.

Esta redução tirou das rendas orçamentárias do Irã cerca de 16 bilhões de dólares e resultaram , somando-se aos efeitos das sanções anteriores, numa queda de 40% no valor do rial nos últimos meses e numa inflação entre 40% e 50%, em grande parte dos bens de consumo.

Além disso, fez pesados estragos no setor privado da economia iraniana, causando um desemprego crescente.

Os EUA e Israel acreditam que, com a entrada das sanções européias a todo vapor, o governo dos aiatolás será obrigado a uma rendição completa ou ficará muito mal perante a população local, particularmente a classe média, que teria de abandonar seus agradáveis hábitos de consumo.

Na primeira hipótese, aceitando interromper o enriquecimento de urânio a 20%, entregar todo seu estoque desse material, fechar a usina de Fordow e ainda permitir inspeções de toda e qualquer instalação militar, nuclear ou não, deixará o governo do Irã desmoralizado internamente.

E seus problemas não acabariam porque ao fazer todas essas concessões ganharia apenas uma retirada a médio e longo prazo das sanções, condicionada ao seu bom comportamento diante de uma IAEA (Agência Internacional de Energia Atômica) atualmente hostil e exageradamente exigente.

Caso o Irã continuasse resistindo por muito tempo, a vida se tornaria extremamente difícil para toda a população. Já nas eleições presidenciais do ano que vem um candidato moderado e disposto a reatar com o Ocidente teria grandes chances de ganhar.

Isso acontecendo, os Estados Unidos poderiam até abrandar suas exigências, caso o novo presidente desistisse de apoiar o Hamas e o Hisbolá, fizesse acordos de paz e amizade com os americanos e até , não digo reatasse, mas pelo menos tolerasse a existência de Israel como estado sionista.

E adeus ameaça à hegemonia americana e às políticas expansionistas de Israel na Palestina.

Tudo perfeito a não ser que, como perguntou Garrincha, quando o técnico explicou  o que o time deveria fazer para ganhar o jogo: “Será que o adversário vai deixar?”

Não, o Irã vai fazer tudo para que os planos americanos não dêem certo.

Kamenei, seu líder supremo, tem outras idéias.

O objetivo do seu governo é o mesmo dos EUA: a hegemonia no Oriente Médio.

Antes eu pensava que os desejos hegemônicos dos EUA eram motivados pela necessidade de garantir o suprimento do petróleo da região, essencial à sua economia, e a segurança contra ataques terroristas de movimentos islâmicos  fundamentalistas.

Hoje, acho que Obama, embora não formalmente, embarcou nas teses imperialistas  dos neo conservadores do governo Bush, que sonham com um EUA master of the world, impondo seus interesses e exercendo uma liderança “sábia e justa”, em benefício do resto do mundo.

Para os iranianos, hegemonia é condição de sobrevivência,  pois é o único regime  islâmico e xiita numa região dominada por países de governos seculares, de religião sunita.

Se não conseguir ver seu modelo adotado por outros países e respeitado pelos demais, não conseguiria ir muito mais longe.

E, para ser hegemônico, o Irã precisa ser uma potência nuclear. Não posso dizer com segurança que, para eles, isso significaria contar com armas nucleares.

Se fosse assim, acho que devido às ameaças insensatas de Amadinejad a Israel e à reação vigorosa do Ocidente, eles desistiram desse projeto, fato comprovado por 17 agências de inteligência americanas e pela inteligência de Israel.

Para lograr seus objetivos, o Irã vem procurando sair do isolamento ao qual os EUA e a ONIU o condenaram.

Já tem a Rússia e a China a seu lado. O Paquistão está cada vez mais próximo, à medida que se afasta da órbita americana. O Iraque, onde os EUA enterraram muitos bilhões de dólares, tende a estreitar ainda mais sua amizade com Teerã. Especialmente porque, além de fazer fronteira com o Irã, ambos  países são  xiitas, sendo que o Irã abrigou, nos tempos de Saddam Hussein, a maioria dos líderes oposicionistas xiitas do falecido ditador. O Egito está para reatar suas relações com Teerã em bases sólidas. A Turquia, A Índia , o Líbano e o Principado de Oman já são países amigos.

A Síria é uma grande aliada, é verdade que, com as notícias de violações de direitos humanos por seu governo, ela esteja se tornando uma carga pesada. Se bem que, conforme recentes desenvolvimentos, o Irã pode vir a exercer um papel coadjutor de Kofi Anam, na pacificação da guerra civil do país, o que reforçaria sua posição de potência importante.

No ano passado, o Irã procurou  conseguir uma boa convivência com a própria Arábia Saudita, principal aliado árabe dos EUA, mas a acusação dele ter ajudado os movimentos rebeldes do Bahrein, acabou azedando tudo.

De um modo ou de outro, o Irã vai resistir até um limite inimaginável às sanções do Ocidente.

Kamenei sabe que a pressão ocidental, aliada às ameaças de ataques israelenses, mexem com os brios patrióticos da população. Afinal, o Irã não é uma republiqueta centro-americana qualquer. Ele já foi o maior império da humanidade durante a Antiguidade Clássica, tempo em que os ancestrais dos americanos, ingleses e alemães viviam em florestas, comendo carne crua e vestindo-se com peles de animais.

Muito provavelmente, os iranianos resistirão às sanções com a garra que os ingleses e russos resistiram na última guerra. E, como é tendência natural, cerrarão  fileiras em torno dos seus chefes, ou seja, Kamenei, Ahmadinejad e outros menos votados.

Pode até ser possível que um candidato a presidente reformista vença nas eleições de 2013.

A boa notícia para Obama é que ele seria muito mais flexível do que os atuais mandatários, embora dificilmente hastearia a bandeira branca exigida pelas grandes potências na reunião de Moscou, quando não aceitaram que o Irã acatasse suas propostas, em paralelo à retirada gradual das sanções.

A má notícia, desta vez também para Israel, é que, sem Ahmadinejad e suas ameaças de varrer Israel do mapa, como justificar a continuação das  sanções ?

Com que motivo forçar o Irã a desistir do enriquecimento do urânio?

Todos estes fatos não são desconhecidos do Ocidente.

Por isso, eles esperam que a crise do Irã chegue a um ponto insustentável que obrigue a desistir até dirigentes fanáticos e um povo orgulhoso e nacionalista.

E que isso aconteça antes das eleições de 2013, pois delas pode surgir um perigo diferente do existente e, talvez maior, qual seja a eleição de um reformista contrário a Ahmadinejad e sem suas frases apocalípticas

O Irã espera o contrário.

Em primeiro lugar, ele duvida que as sanções reduzam muito mais as vendas do seu petróleo.

Os EUA concordaram em “perdoar” os países que precisassem continuar clientes do Irã, desde que limitassem radicalmente suas compras.

A China, principal cliente do Irã,com 20% do total das vendas, foi um deles. Reduziu suas compras em abril, mas logo em maio já as aumentou em 35%. Obama engoliu em seco, os republicanos urraram em protesto, mas ninguém teve coragem de ameaçar a China que é muito poderosa para ser ameaçada.

Com o objetivo de trazer a China de volta, o Irã lhe ofereceu bons descontos. Com isso, ele pretende também recuperar parte dos outros  mercados perdidos, inclusive das nações européias em crise, ou seja, Espanha, Itália e Grécia.

Só com o início das sanções da Europa o preço do petróleo já subiu 10%

E deve continuar subindo. Vai chegar a um ponto que, comparados com os descontos no preço dos iranianos, a diferença será muito grande. E, como os países em crise estão com a corda no pescoço, terão de aproveitar. E como é que  a Alemanha, a França e a Inglaterra, líderes da Europa Unida, poderão dizer não?

Bom, você perguntaria, e Israel n isso tudo?

Acho que as suas ameaças de bombardeio do Irã tinham três objetivos:

1-Pressionar o Irã para aceitar as exigências ocidentais;

2-Pressionar os EUA para serem mais agressivos;

3-Assustar a Europa pois um ataque ao Irã causaria um estouro nos preços do petróleo, atingindo mortalmente as economias mais enfraquecidas. Para evitá-lo, conviria  à Europa reforçar as pressões sobre o Irã, com sanções que  ajudariam a vencer sua resistência. Alem de somar-se aos EUA na postura intransigente diante do Irã nas reuniões de discussão do contencioso nuclear.

Claro, se Israel decidir bombardear o Irã mesmo, pode contar com a defecção da Europa. E com muita pressão da parte dela para Obama proibir os israelenses de apelarem à violência.

Como parece que  Israel só atacaria  depois da eleição americana, se Obama ganhar, talvez  aí ele tenha coragem de encarar Netanyahu.

Já se a vitória for republicana, depois da posse… sai de baixo.

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