Os lobbies de Israel e da indústria de armamentos conseguiram grande vitória na reunião da Câmara dos Representantes no dia 18 de maio.
Pelas emendas dos congressistas republicanos passa a idéia de que eles são representantes não do povo americano, mas daquelas honorabili organizações.
A representante Ileana Ros-Leithner apresentou emenda que ordena ao Irã que suspenda imediatamente todo o enriquecimento de urânio, acabe com seu programa de mísseis e se torne uma democracia.
Com isso, foi até alem das expectativas dos israelenses que, alguns dias depois, acabaram aceitando que o Irã enriquecesse urânio a 3%.
A incrível proposta da sra. Ileana foi rapidamente aprovada, mostrando que, para os republicanos (e mesmo muitos democratas que votaram com eles), os EUA são “the master of the world”,cabendo aos demais países obedecerem às decisões do seu Congresso, atualmente desaprovado por 78% dos americanos (pesquisa Associated Press, GfK).
O representante Gerry Connolly apresentou longa emenda, da qual selecionamos uma seção, particularmente educativa:
– Conclama o Presidente Obama a proclamar a não aceitação de um Irã com capacidade de ter armas nucleares e opõe-se a qualquer política que confie na contenção como opção ao enriquecimento de urânio pelo Irã.
Bem, Obama já se cansou de dizer que não aceita armas nucleares iranianas. Mais uma vez não vai fazer mal a ninguém…
“Política de contenção” no caso seria o Irã parar de enriquecer urânio a 20% , mantendo seu enriquecimento a 3%. Exatamente o que parece será negociado na reunião dos P5+1, em Bagdá, dia 23.
Se a emenda de Conolly virar lei (tem ainda de passar pelo Senado), adeus acordo.
O termo “capacidade para ter armas nucleares” é nebuloso.
Tanto pode significar um claro início de programa militar como também simplesmente “ter possibilidades” de produzir armas nucleares. Como o Brasil, por exemplo.
Está certo, o Brasil não ameaçou riscar Israel do mapa.
Como, aliás, nem o Irã.
A bravata do Presidente Ahmadinejad já foi muitas vezes explicada: ele queria dizer que o tipo de regime sionista que vigora em Israel iria fatalmente acabar.
Além disso, o Supremo líder Kamenei já emitiu uma fatwa (equivalente a encíclica) renegando e condenando como pecado gravíssimo o uso de armas nucleares.
Mesmo que essas emendas sejam aprovadas pelo Senado, poderão ser vetadas por Obama.
Ele já declarou que fará isso caso impeçam o governo federal de aplicar sua estratégia de defesa.
Depois de se revelarem zelosos defensores dos interesses de Israel, os representantes republicanos não esqueceram seus bons amigos da indústria de armamentos.
O acordo entre Obama e os dois partidos, no ano passado, para cortar despesas militares, de olho na redução do gigantesco déficit americano, foi ignorado.
Em vez disso, o orçamento de defesa para 2013 foi aumentado em 8 bilhões de dólares.
Entre os itens adicionados está a construção de uma barragem anti-míssil na costa leste, para defendê-la de eventuais ataques de mísseis, equipados com ogivas nucleares, lançados pelo Irã e/ou Coréia do Norte.
O interessante é que altas autoridades militares já haviam se oposto a esta formidável obra.
O Tenente General Patrick O´Reilly, chefe do sistema de defesa anti-míssil, afirmou que nem Irã, nem Coréia do Norte tem a menor condição de produzir misses intercontinentais, mesmo a médio prazo.
E o general Martin Dempsey, Chefe do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas assegurou que o sistema de defesa anti-míssil já em funcionamento, cobre a costa leste.
Outra decisão republicana, contrariou o corte de despesas com a redução do arsenal atômico, estabelecido por tratado com a Rússia, em 2010.
Não sendo vetado por Obama, esse dispositivo mandará para o espaço o plano de eliminação gradativo das armas nucleares do mundo.
Por fim, os representantes republicanos aumentaram as despesas com a Defesa (e os lucros da indústria de armamentos) conservando aviões e navios, que Obama pretendia desativar,e alocando mais dinheiro para produção de armas avançadas.
Como já disse, todas estas emendas precisam ser aprovadas pelo Presidente Obama para se converterem em leis.
Como algumas delas implicam em impossibilitar qualquer acordo com o Irã, tornando a guerra inevitável, espera-se que, desta vez, Obama as vete.
O mesmo deve acontecer com as emendas que aumentam inutilmente as despesas da defesa.
Se formos nos basear no passado, o provável seria que, pelo contrário, Obama desse o seu “sim” pelo medo que ele, em outras oportunidades demonstrou, de brigar com o Congresso.
Desta vez, porém, a situação é diferente.
As pesquisas mostram que o povo americano não quer saber de guerra e está bastante preocupado com o déficit público.
O bom senso pode vencer.
Mesmo que por razões outras.